31

31
Data de Estreia no Brasil: sem previsão
Direção: Rob Zombie
Distribuição: Fathom Events

            Produzido por Rob Zombie a partir de um projeto de crowdfunding, “31” é claramente um filme feito para fãs do diretor, no máximo para fãs de um tipo muito específico de filmes de terror. A premissa é bastante simples e muito pouco explorada; tudo o que sabemos é que um grupo de personagens dirige por uma estrada dos EUA em uma van, provavelmente “performistas” de algum tipo. Cinco destas pessoas são sequestradas por uma gangue desconhecida após um bloqueio em uma estrada e forçadas a participar de um sádico jogo chamado 31, onde precisam matar psicopatas vestidos de forma peculiar para sobreviver.

              Esta mistura de “Jogos Mortais” (2004) com “Outlast” (2013) poderia funcionar bastante bem apesar de sua falta de originalidade. De fato, os primeiros 10 a 15 minutos de “31” são genuinamente ótimos, criando uma perfeita atmosfera de suspense com o psicótico Doom-Head, bem interpretado por Richard Brake, em um “freestyle” de psicopatia monológica. Com uma interessante estética em preto e branco, Zombie consegue criar uma espécie de sincronia entre o personagem e o ambiente, passando a impressão de que não há escapatória daquele universo infernal protagonizado por Doom-Head, que metaforicamente domina o cenário. Há logo depois disso uma boa introdução dos personagens principais através de uma interessante montagem de abertura com a maravilhosa “Walk Away” de Joe Walsh, criando uma eficiente sobreposição visual e sonora entre as duas primeiras sequências.

           Fosse um curta de 12 minutos, “31” seria realmente excelente. O problema é que o filme de Rob Zombie continua a partir daí e tem poucos momentos que sequer chegam aos pés destes primeiros minutos. O principal problema facilmente identificável do filme é que como público é impossível dar a mínima para os protagonistas. O filme não se dá ao trabalho de construir uma personalidade para nenhum deles, criando diálogos toscos que são completados por performances apenas razoáveis (quando não simplesmente ruins). Somando isso ao fato de que os personagens fazem coisas absurdamente estúpidas ao longo de todo o filme, é simplesmente impossível se importar minimamente se eles vão morrer ou viver.

              O roteiro de Rob Zombie é previsível demais em suas construções de suspense. Há sim alguns genuínos momentos de terror e susto em “31”, mas eles estão em um número muito inferior em relação ao restante das cenas, em que não só sabemos exatamente o que vai acontecer, como sabemos que qualquer pessoa com dois neurônios faria melhor que qualquer um dos personagens principais. É cansativo ver cada um deles ser surpreendido por trás por cada um dos antagonistas sem pensar que seria uma boa ideia fazer isto com os mesmos, uma vez que estão sempre em maior número. Além disso, a direção de Rob Zombie é bastante ruim, utilizando uma câmera tremida que tenta desesperadamente esconder sua falta de habilidade como diretor, tornando as cenas de ação indistinguíveis e difíceis de acompanhar.

                 Há ainda outro problema gravíssimo em “31”: uma montagem esquisita, que além de cortar as cenas em pontos estranhos faz uso da câmera lenta nos piores momentos possíveis. Há um movimento de congelar o quadro em determinadas cenas que ultrapassa o repetitivo e passa a simplesmente dar raiva após um certo número de utilizações. O filme faz também um uso bizarro da simbologia nazista em um personagem, empregando um figurino nos demais que simplesmente não funciona em sua função de perturbar, sendo simplesmente esquecíveis e muito pouco impressionantes.

              Há, no entanto, alguns bons momentos no sentido visual, incluindo a primeira cena em preto e branco que já mencionei e uma sequência com uma luz piscando em flashes que cria uma interessante sensação de perturbação e vontade de desviar os olhos da ação. O filme cria também uma estética azulada para as cenas dentro da “prisão” onde se passa o jogo que contrasta muito bem com as sequências filmadas em ambientes exteriores. Pouco inspirado, mas altamente funcional.

               Gostaria de poder dizer que os excelentes primeiros minutos de “31” são suficientes para fazer valer a pena os demais 90 minutos de exibição. Infelizmente, o desenvolvimento narrativo é ruim demais e o suspense criado soa artificial e muito pouco engajante. É uma pena, uma vez que a partir da premissa básica é possível visualizar um filme no mínimo bom sendo construído por um diretor e roteirista mais bem qualificado para tal tarefa. Na forma como está, assista “31” por sua própria conta e risco, mas não se deixe iludir pela inesperada qualidade da abertura.