Boa Noite, Mamãe

Boa Noite, Mamãe
(Ich Seh Ich Seh)
Data de Estréia no Brasil: 21/01/2016
Direção: Severin Fiala, Veronika Franz
Distribuição: RADiUS-TWC

Há alguns meses atrás o trailer deste filme austríaco figurou em vários sites especializados em cinema como promessa de um filme aterrorizador. Com mais de 8 milhões de visualizações no YouTube (marca impressionante para um filme de língua não-inglesa) o vídeo despertou o interesse dos fãs do horror por conta de sua atmosfera perturbadora. Com a estréia recente do filme nos Estados Unidos e no Brasil, finalmente pudemos conferir se “Goodnight Mommy” entrega o que promete.

Diferentemente do que o trailer indica, “Goodniht Mommy” não é exatamente um filme de horror, mas um thriller psicológico que consegue criar uma atmosfera de suspense e constante tensão muito mais pelo que não é mostrado do que pelo que se pode ver em tela, muito mais pelo que é omitido do que pelo que é dito, sutilezas que existem muito mais para serem absorvidas do que conscientemente percebidas. Através destas sutilezas “Goodnight Mommy” tenta e tem sucesso em deixar seu público completamente perdido a cada nova movimentação dos personagens e da trama. Ao assistir o filme somos compelidos a um sentimento de mais pura tensão, acompanhando dois irmãos gêmeos (Elias e Lukas) em sua crescente convicção de que sua mãe, em recuperação de uma cirurgia plástica facial por conta de um acidente, não é quem diz ser. Seu comportamento estranho e muitas vezes violento reforça a expressão de horror e estranheza causada por seu rosto todo enrolado em bandagens, e é a partir disso que o filme consegue extrair seus principais momentos de tensão.

Com uma excelente edição e montagem, “Goodnight Mommy” consegue fazer com que o roteiro avance aos poucos, gradualmente nos fornecendo novas informações que explicam a situação ao mesmo tempo que nos confundem cada vez mais. O sentimento de falta de controle ante à enigmática trama é um dos pontos mais fortes do filme, que consegue nos deixar completamente sem reação aos desenvolvimentos posteriores. Com grandes atuações dos três protagonistas, maquiagem, cenários e figurinos muito bem construídos, “Goodnight Mommy” consegue envolver o espectador em uma trama de acontecimentos enigmáticos e simbólicos. É essa total imprevisibilidade da trama do filme a principal fonte de seu terror psicológico. As motivações dos personagens e suas relações entre si são sempre muito ambíguas, nos levando a mudar constantemente de ideia a cada pequena informação que nos é apresentada. De maneira sutil e muito gradual percebemos aos poucos as temáticas principais do filme, que faz um estudo da psiqué humana frente a um grande trauma e tenta avaliar o profundo impacto disso nas relações entre as pessoas envolvidas.

“Goodnight Mommy” é um filme acima de tudo memorável, com cenas plasticamente muito bonitas e bem coreografadas, que sempre utilizam muito bem os cenários. A direção casa muito bem com o roteiro é muito competente em mostrar ao público exatamente o que deve ser mostrado para mantê-lo confuso, transfigurando para a tela a ambiguidade e o mistério do roteiro. Os enquadramentos de câmera transmitem muito bem a impressão de estarem de alguma forma espionando os personagens, como se aquilo que é mostrado a nós através das lentes seja de alguma forma um grande segredo. As pequenas partes deste “segredo” lentamente revelado ao público são o suficiente para nos manter sempre intrigados em nossa infrutífera tentativa de ler nas expressões faciais dos personagens suas intenções e emoções.

É só em seus últimos momentos que “Goodnight Mommy” conta seu grande “segredo”, fazendo valer a pena o sentimento de ter sido deixado às cegas durante todo o restante do filme. A revelação não é tanto um plot twist quanto a última parte do quebra-cabeça, a peça que estava faltando para se entender qual era afinal o centro e o propósito do filme. “Goodnight Mommy” é o tipo de filme que consegue nos fazer pensar constantemente sobre cada uma das cenas anteriormente assistidas, como se agora tivéssemos a palavra-chave necessária para interpretar a linguagem codificada do filme. Porém, há ainda no filme um grande número de elementos que permanecem muito pouco claros para mim e considero que assistir “Goodnight Mommy” uma segunda vez deva ser ainda mais interessante e intrigante. Por ora o considero um filme sobretudo intrigante, recomendação obrigatória para os amantes do suspense e do horror e também para aqueles que gostam da sensação de se render a uma trama misteriosa e que deve ser montada como um quebra-cabeça: uma peça de cada vez.