Invasão Zumbi

Invasão Zumbi
(Train to Busan)
Direção: Yeon Sang-ho
Data de Estreia no Brasil: 29/12/2016
Distribuição: Paris Filmes

A pluralidade nas formas de abordagem em filmes de zumbi é um dos maiores potenciais que o subgênero possui. Há comédias (“Todo Mundo Quase Morto”), filmes extremamente críticos a sociedade (“Madrugada dos Mortos”, de Romero), filmagens realmente assustadoras (“REC”), além de thrillers divertidos (“Madrugada dos Mortos”, de Snyder). Contudo, nos últimos anos o cinema pareceu não saber como aproveitar tão bem a tal maleabilidade que as criaturas possuem, gerando em sua maioria filmes esquecíveis, algo que já torna este “Invasão Zumbi” um enorme destaque por saber não só construir uma narrativa tensa e envolvente, mas também um filme de entretenimento puro, por vezes engraçado, com pontos estratégicos de susto e com personagens moralmente questionáveis.

Escrito e dirigido por Sang-ho Yeon, o filme flerta com o subgênero “filme de câmara” ao nos apresentar aos empecilhos vividos por diversos personagens presos dentro de um trem enquanto um apocalipse zumbi se alastra pela Coréia do Sul. Sabendo dosar bem a presença de diversos personagens que possuem sempre momentos marcantes, seja pelo caráter emotivo ou pelas sequencias de ação, o roteiro do filme não deixa de utilizar de arquétipos conhecidos do publico (uma criança, uma mulher grávida, um casal de adolescentes, etc…), mas sabe como os subverter desde o primeiro momento que temos contato com tais personagens e ainda desenvolve-los – ainda que minimamente – para que possamos torcer por eles.

Nesse sentido, o longa já surpreende o público ao apresentar os protagonistas Seok-Woo e sua filha Soo-ahn em sua relação conturbada – Algo natural, já que o sujeito é completamente relapso com a filha e completamente viciado em trabalho -, fazendo com que acompanhemos a jornada deste mesmo ele sendo arrogante, elitista e complamente individualista. Se tais características poderiam atrapalhar nosso envolvimento com a história, graças ao desempenho formidável de Gong Yoo exibe carisma e presença de cena, ao mesmo tempo em que são justamente tais características que possibilitam um desenvolvimento de um arco dramático do personagem – e é ainda mais notável que este arco jamais pareça forçado e caminhe de maneira gradual enquanto a história se move.

Trazendo uma fotografia que nunca cai no óbvio deste tipo de produção (que seria uma abordagem simples de muitas sombras no ambiente e um filtro escurecido na lente), a película conta com momentos de composição divertidíssimos (como um “exército” de Zumbis pendurados em um trem). Algo que traz ainda mais leveza ao filme é a própria construção dos zumbis que soando sempre exageradas e de movimentos chamativos conseguem dar um ar de urgência, algo também ressaltado pelo fato de as transformações dos humanos em zumbis ser imediata. É mesmo quando escapa desses momentos orgânicos de efeitos práticos que o filme derrapa por fazer construções de CGI bastante falhas que chamam a atenção para sua artificialidade.

Ainda assim, é justamente pela montagem afiada e pela direção de Yeon que o filme se engrandece ainda mais, já que o diretor sabe bem empregar ritmo para a série de conflitos e de caráter episódico (estamos falando de uma espécie de Road movie, afinal de contas), contando com excelentes usos do silêncio e de cenas em que os personagens se encontram na completa escuridão para criar tensão. O cineasta sabe ainda o momento certo para abrir um pouco mais seu quadro e revelar um objeto na cena que será decisivo para o desfecho da sequencia (como uma simples lata de refrigerante). Assim, Sang-ho Yeon não tenta ser Snyder, Romero ou Wright, mas sim criar uma obra própria e coesa, trazendo esperança aos filmes de zumbi, revivendo um subgênero que se encontrava “morto-vivo”.