Mãe!

Mãe!
Data de Estreia no Brasil: 21/09/2017
Direção: Darren Aronofsky
Distribuição: Paramount Pictures

“Mãe!” é um tipo de filme muito difícil de se escrever uma crítica sobre. Ao abordá-lo é necessário definir suas principais características para que ninguém seja pego desavisado ao entrar na sala de cinema. Ao mesmo tempo, o ideal é não se alongar muito em sua trama, pois uma das coisas mais interessantes na experiência de assistir o filme é montar sua trama como um quebra-cabeça, completo com aquela cara de “ahhhhh, agora entendi!” mais para o final. O que é essencial saber é que “Mãe!” é um filme absolutamente metafórico em seu enredo e personagens; propositalmente claustrofóbico em sua centralidade na personagem de Jennifer Lawrence; e, o mais importante aqui, extremamente divisivo e polêmico em sua resolução, podendo ser ofensivo para pessoas com uma mentalidade mais “fechada”.

“Mãe!” não é um filme convencional, tanto em seu formato quanto em sua temática, e certamente não vai agradar a todos. Em sua estrutura narrativa, o filme roteirizado e dirigido pelo genial Darren Aronofsky foge completamente da estrutura mais comum de 3 atos que se dividem em começo, meio e fim. No lugar disso, há a opção por uma imersão direta na história, sem introduções, dividindo-se o enredo em duas grandes partes que são bastante diferentes uma da outra. Por conta disso, é bastante difícil manter uma noção temporal clara enquanto a narrativa se desenvolve. Além desta, outra ação proposital de Aronofsky para aumentar nosso sentimento de desconforto é alongar algumas cenas mais do que o necessário, criando em nós um nervosismo geral que se mantém até o último segundo.

Além da clara referência ao clássico presente em um de seus pôsteres, “Mãe!” se inspira muito também nos aspectos técnicos e narrativos de “O Bebê de Rosemary”. Além disso, Aronofsky retoma algo que já havia explorado em “Cisne Negro”, se apropriando de uma estética e um formato característicos do cinema de horror para melhor desenvolver seus personagens, pretendendo nos transmitir certas emoções sobre eles, como o medo por sua segurança, que são comuns ao gênero. Juntando estes elementos, o diretor utiliza uma câmera extremamente focada em sua personagem central, não nos deixando ver muito do ambiente à sua volta. Isto se soma a sustos e elementos sobrenaturais que cumprem mais a função de nos mostrar a reação de susto e tensão da personagem do que de fato nos assustar.

A protagonista é a alma e a essência do filme, contando com uma excelente performance de Jennifer Lawrence para nos carregar ao longo da narrativa, sempre capaz de nos manter cativados e ansiosos para descobrir o que irá lhe ocorrer e qual será seu próximo passo. É impressionante a quantidade de camadas de complexidade emocional que a atriz consegue dar à sua personagem com pouquíssimos diálogos e situações que nos fornecem qualquer tipo de informação sobre sua personalidade (não sabemos sequer seu nome) e história. Outro que está excelente no filme é Javier Barden, conseguindo nos transmitir a impressão precisa de um homem enigmático, que constantemente mantém algo escondido dentro de si. Sua paixão e empatia são também sempre muito visíveis e demarcadas através dos expressivos olhos do excelente e versátil ator. Ótimos também estão Ed Harris e Michelle Pfeiffer, em personagens com menos tempo de tela mas grande importância para o filme.

Uma edição e mixagem de som impecáveis e essenciais para a trama completam a galeria de elementos que estão em perfeita sincronia para criar um filme tão intrigante quanto impressionante. Discutindo uma quantidade surpreendente de temáticas e emoções, “Mãe!” é niilista até o osso ao abordar a desesperança de Aronofsky em ciclos aparentemente intermináveis de violência e destruição. Alguns podem não gostar ou concordar com a visão de mundo e filosofia do diretor, mas é inegável que ele está em completo domínio de todos os aspectos deste filme que, apesar de não ser para todo mundo, tem grandes chances de agradar à grande maioria. Para mim, “Mãe!” é seguramente um dos melhores filmes de 2017.