Espiral: O Legado de Jogos Mortais
Spiral: From The Book of Saw
Data de Lançamento: 21/05/2021
Direção: Darren Lynn Bousman
Distribuição: Paris Filmes
Quando o diretor Darren Lynn Bousman anunciou que seu novo filme era comparável a Se7en: Os Sete Pecados Mortais (1995), já sabíamos que algo não estava bem. Há alguns anos, Chris Rock, grande fã da série Jogos Mortais, apresentou um argumento de roteiro que foi considerado genial por produtores. Infelizmente, toda a originalidade da ideia de Rock foi diluída por uma direção frenética que não sabe direito onde focar e um roteiro confuso que não sabe esconder o mistério. O roteiro, diga-se de passagem, não é assinado pelo ator que apresentou a primeira ideia.
Espiral: O Legado de Jogos Mortais (2021) trouxe de volta Bousman, diretor de Jogos Mortais 2, 3 e 4. Apesar de ser já um especialista na saga, ele não conseguiu trazer o mesmo clima presente nos filmes anteriores. Espiral pode não ser um filme péssimo, mas ele não engrena e parece muito deslocado dos outros títulos da saga, mesmo quando comparado aos dois últimos – e bem ruins – exemplares.
Chris Rock interpreta o detetive Zeke, um policial que gosta de fazer as coisas por contra própria, fora do sistema. No melhor estilo “Todo Mundo Odeia o Zeke”, o detetive enfrenta a animosidade dos colegas por ter denunciado um colega corrupto. Apesar de não confiar em ninguém, ele recebe um novo parceiro – um tropo narrativo nada original, mas que quase sempre funciona.
Uma das coisas que é impossível não notar é como todos estão muito suados o tempo inteiro. A câmera se mexe de modo frenético, a edição mistura cortes rápidos e close ups como em diversos filmes dos anos 1990 e do início dos anos 2000, incluídos aqui os primeiros Jogos Mortais. Bastante fora de moda, esse estilo de filmagem incomoda um pouco.
A atuação de Chris Rock não consegue convencer. Ele parece estar forçando uma seriedade a todo momento, porém, ao mesmo tempo, o roteiro traz uns alívios cômicos através de piadas cínicas que acabam atrapalhando o desenvolvimento do personagem – que toma uma grande parte do filme. Aliás, esse é um dos grandes problemas do filme. Jogos Mortais é uma franquia conhecida pelas armadilhas, violência gráfica e plot twists que nem sempre funcionam.
Em Espiral temos boas armadilhas, mas elas não são bem aproveitadas pela direção. O foco fica muito no personagem de Rock. Até mesmo Samuel L. Jackson é negligenciado. O icônico ator tem pouco tempo de tela e sua aparição é bastante tímida. Há boas ideias, mas elas são enfraquecidas pelos problemas destacados anteriormente.
O maior problema é que o filme parece não entender justamente o que aponta o seu subtítulo: o legado de Jogos Mortais. Ao se perder em uma trama sobre um policial que sofre por ir contra o sistema corrupto e outra sobre uma vingança muito pessoal, a essência da saga – as armadilhas cada vez mais excêntricas – ficam perdidas na narrativa, completamente desnecessárias e fora de contexto.
Atenção: spoilers a partir desse ponto!!!
O ponto alto da narrativa é a revelação do assassino. Ou ao menos deveria ser. A direção não favorece o mistério. O personagem de Max Minghella é a única “vítima” cuja morte não aparece em tela, o que deixa bastante evidente que é ele o assassino. Nem mesmo o sumiço de Samuel L. Jackson consegue nos enganar. A cena em que Zeke acorda acorrentado no cano, referência ao primeiro Jogos Mortais, dá uma animada na narrativa. Infelizmente, esse ânimo dura pouco.
O final parece um tanto atropelado. As coisas se desenrolam de maneira muito rápida. O assassino possui um plano mais calculado que o de Han Solo no final de Solo (2018). Tudo bem que a saga sempre foi conhecida pelos planos perfeitos de Jigsaw e seus discípulos, mas é mais difícil embarcar nessa nova empreitada. Sinto que Rock poderia ter um material excelente, que foi prejudicado na produção e que poderia ter sido melhor sem sua atuação.
Não há uma incompatibilidade entre a comédia e o horror, Jordan Peele está aí para provar que essa transição pode ser muito positiva. Talvez o filme pudesse ter ido melhor com o roteiro e, quem sabe, a direção de Chris Rock. Como fã, ele poderia ter contribuído mais com a série por detrás das câmeras do que como protagonista de um filme policial mediano que apenas lembra Jogos Mortais.
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