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Entrevista | Cláudia Lemes

Dona de uma escrita subversiva e corajosa, Cláudia Lemes tem se destacado entre os autores nacionais de literatura policial. Natural de Santos, SP, ela divide seu tempo entre seus três filhos, traduções, leituras críticas, edição de textos, escrita e o trabalho na associação ABERST, que idealizou e fundou em 2017. Mais recentemente, Claudia se dedica quase que na totalidade à sua editora, a Rocket Editorial uma casa editorial rebelde para leitores ousados, idealizada pela autora para a publicação de suspense, horror, ficção científica, policial, fantasia, eróticos, romances históricos, de época e chick-lit.

E ela tem história para contar: cresceu no Rio de Janeiro e em Torrance, na Califórnia, foi morar no Egito durante a Guerra do Golfo e já precisou evacuar a escola por ameaças de bombas, sobreviveu a dois fortes terremotos no Cairo, alguns eventos de violência traumáticos em São Paulo e muito, muito mais.

​Alguns dos eventos de sua vida serviram de inspiração para seus livros. Lembrou-se do episódio de quase perder os dedos devido a frostbite quando era criança e visitava Yosemite e dessas lembranças nasceu o thriller Inferno no Ártico. Ser testemunha de violência doméstica na infância a motivou a escrever A Segunda Morte de Suellen Rocha. O estudo dos serial killers, por meio de cursos de perícia e psicologia e leitura intensa por mais de 15 anos a levou a escrever Eu Vejo Kate.

​Iniciou sua carreira literária em 2014 com a publicação independente de Eu Vejo Kate, e logo foi contratada pela Editora Empíreo, que republicou a obra em 2015 e no ano seguinte, o policial noir Um Martíni com o Diabo. Cláudia fundou e presidiu por dois anos a ABERST: Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror, que hoje conta com cerca de 160 associados. Ela também publicou pela editora Lendari duas edições de Santa Adrenalina: Um Guia Para Quem Quer Escrever Thrillers.

Cláudia já organizou e participou de diversos eventos literários, deu workshops e palestras em instituições como SESC, SENAI, Porto Alegre Noir, TV Tribuna, Rádio CBN, 89FM, Rádio Geek, HorrorExpo, Unibes Cultural, TV Santa Cecília, FFLCH-USP e Santos Criativa Festival Geek.

​Ela também traduziu e publicou pela Monomito Editorial a primeira edição brasileira do clássico da literatura policial, O Crime da Quinta Avenida, de Anna Katharine Green, a mãe dos romances de detetives e influenciadora de Arthur Conan Doyle e Agatha Christie. Cláudia já tem quatro financiamentos coletivos, todos bem-sucedidos.

1) Como você acha que o gênero de terror tem se modernizado na literatura contemporânea? Quando surgiu o seu interesse nesse gênero?

Meu interesse pelo horror surgiu quando eu era muito pequena. Eu sempre assistia a filmes do gênero, era fascinada por slashers mesmo aos 6, 7 anos. Meus primeiros livros foram da série O Pequeno Vampiro, então o horror e tudo o que vem com ele, em termos de sensações, narrativas, estética, associações e símbolos, faz parte da minha vida desde que me lembro.

Sinto que o horror hoje está em um dos seus muitos picos de interesse. A relação do público com o gênero é visivelmente cíclica, apresentando altos e baixos periódicos, o que obriga o gênero a ser sempre reciclado e reinventado. Sinto que as narrativas mais fortes, tanto literárias quanto audiovisuais, são aquelas que sabem explorar novos territórios, enquanto também mantêm as raízes nos elementos e convenções de gênero que acalentam os fãs.

2) Nos dias de hoje, principalmente no cenário do terror/suspense, publicar um livro não é tarefa fácil. O mercado acaba apostando mais em produções estrangeiras e não há muito espaço para produções nacionais. Qual a maior dificuldade que você encontra ou encontrou nessa questão? E qual dica você dá a quem está começando a escrever?

Eu sou 100% a favor da emancipação do autor nacional, que hoje tem ferramentas para ganhar público sem o aval das editoras médias e grandes. Poucas editoras sabem o que estão fazendo quando trata-se de literatura de gênero, em especial o horror, suspense e ficção científica. Algumas, especializadas no nicho, também lutam contra valores hostis e pirataria, então não conseguem publicar tantos autores nacionais quanto deveriam. A Darkside tem trabalhado para isso, por exemplo, mas as menores ainda ficam muito focadas em antologias, lançando pouquíssimos romances autorais. Recentemente, editoras independentes como a Draco têm explorado o gênero horror, com foco em narrativas contemporâneas de autores nacionais, embora falte muito, muito para chegarmos aonde os leitores e autores querem.

3) Seus personagens são muito bem construídos e, na maioria das vezes, mulheres fortes e determinadas. Você se identifica com alguma delas? Se sim, em quais aspectos?

Eu acho que há pedaços de mim em todas as minhas personagens, embora sinta que compartilhe com elas mais as minhas fraquezas, raiva e traumas do que a força.

4) Sobre o seu novo livro “Quando os Mortos Falam“, nos conte um pouco sobre ele, criação, sinopse…

Quando os Mortos Falam é um livro que escrevi para me divertir, brincando na minha zona de conforto, que são as investigações criminais e os serial killers, com um pouco de horror. O livro tem muito de homenagem à minha infância e às narrativas que me tornaram a autora que sou. Embora ele lide com questões sérias, principalmente o luto, num geral é um livro de entretenimento, que não deve ser levado a sério demais. O único desafio foi a pesquisa sobre metodologias de investigação no Brasil e o funcionamento, na prática, das nossas polícias, em especial a civil. Para isso, recorri a apostilas de concursos públicos e alguns profissionais da área.

Sinopse:
Verena Castro pediu exoneração do cargo de investigadora na DHPP quando sua filha mais nova foi assassinada. Quatro anos depois, sua vida toma um rumo inesperado quando recebe o telefonema de um médium, indicando um corpo e sua localização.

Envolvida na investigação de forma clandestina com a ajuda do melhor amigo, Caio, Verena logo descobre que há um maníaco na cidade de São Paulo, replicando as cenas de homicídio mais perturbadoras dos filmes clássicos de horror – e a próxima vítima pode ser alguém que ela ama.

5) Qual é a importância das redes sociais para a divulgação dos autores nacionais hoje em dia?

Total. E isso é perigoso, porque a dedicação às redes sociais pode gerar diversos problemas para o autor nacional, como ansiedade, superexposição, desperdício de tempo e desânimo. O autor, que provavelmente tenha que manter um ou mais empregos além de escrever, acaba alocando seus recursos e energias em divulgação, quando poderiam ser melhor utilizados em cursos, revisores, leitores críticos, capistas etc. Ao mesmo tempo, as redes sociais, quando bem utilizadas, podem alavancar a carreira do autor, a ponto que ele possa gerar renda com seus livros e ficar livre da necessidade de entrar numa editora.

6) A estante de Claudia Lemes

O livro que estou lendo:
Tudo que Nunca Contei, da Celeste Ng

O livro que gostaria de ter escrito:
I Miss the World, da Violet leVoit, não existe em português

O livro que não consegui terminar:
O chatinho do A Menina que Roubava Livros. Desculpa, gente..

O livro que mais gostei de ler em 2021 até agora:
Tenho lido por pouco por prazer, por causa do trabalho, mas este ano gostei de ler o livro completamente louco do Dead Inside, do Chandler Morrison, ainda sem tradução no Brasil.

O mais recente livro da autora Quando os Mortos Falam, segue em pré-venda pela Editora AVEC, a obra que segundo o delegado e escritor Luca Creido, une a perspicácia de uma investigadora e a sabedoria de uma escritora, está sendo muito bem recebida no meio literário. Um livro incrível, metodologicamente preciso e excitante. Saiba mais sobre ele clicando no banner abaixo.