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Especial | As mães mais badass do terror

         O gênero terror não serve somente para esguichar sangue nas telas e desmembrar corpos pelo caminho. Ele também carrega consigo uma carga gigante de emoções que vão do mais ordinário do ser humano até seu extremo. Isso possibilita retratar diversos papéis dos indivíduos, seja em suas singularidades ou no senso coletivo. Pensando no contexto de cuidar não apenas de si, mas também do outro, as mães são elementos importantes e interessantíssimos na cena do terror. Quer as narrativas ilustrem mamães boazinhas ou mamães perversas – e aqui não consigo tirar Margaret White da cabeça -, uma coisa é certa: elas são implacáveis. Logo, não poderíamos deixar de fora as mães mais badass do terror, como as nove listadas a seguir.

Donna Trenton – Cujo (1983)

Direção: Lewis Teague

         Donna Trenton (Dee Wallace) tem um dilema nada fácil no filme Cujo: permanecer dentro do carro com seu pequeno filho Tad (Danny Pintauro) e assim ambos morrerem de inanição ou saírem do carro e morrerem pelas garras e presas do gigantesco São Bernardo raivoso montando guarda do lado de fora. Não parece uma escolha fácil, considerando que a ajuda não aparenta chegar e, mesmo que chegue, talvez não seja páreo para deter Cujo. Como uma mãe protetora e desesperada (afinal, levar o carro para o conserto e acabar presa naquela situação não é um bom cenário), Donna escolhe combater a fera para tentar salvar a vida do filho. Na dúvida entre ficar parada aguardando por sabe-se lá quanto tempo ou colocar a mão na massa, a decisão da personagem nasce do instinto materno protetor para com Tad.

 

Laurie Strode – Halloween (2018)

Direção: David Gordon Green

         O primeiro filme da trilogia mais atual de Halloween, lançado em 2018, descarta as ideias dos inúmeros filmes da franquia ao longo dos anos e se prende apenas no primeiro longa de 1978. Na atual proposta, a famosa scream queen Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) retorna mais velha, mais sábia e muito mais preparada para seu embate com Michael Myers. Traumatizada com o antigo massacre cometido por Michael e sabendo que este não é alguém capaz de ser facilmente vencido, Laurie não se contenta em estar preparada: ela investe na preparação de sua filha, que desde cedo aprende luta corporal e defesa, como atirar e preparar armadilhas. Ainda que cresça ressentida com a infância árdua imposta a si, Karen (Judy Greer) absorve todos os ensinamentos de sua mãe. No entanto, ela escolhe reservar a própria filha Allyson (Andi Matichak) desse estilo de vida. Não que isso adiante, pois a trama gira unindo as três ao combate como um traço de laço familiar. Além disso, é através de anos de preparo que elas são capazes de, se não destruir completamente Michael, ao menos sobreviverem ao terror imposto pelo assassino.

 

Rose da Silva – Terror em Silent Hill (2006)

Direção: Christophe Gans

         A protagonista de Silent Hill, Rose (Radha Mitchell), quebra todas as barreiras por sua filha Sharon (Jodelle Fernand). Essa mãe, sabendo que sua filha está morrendo de uma doença fatal, decide fazer uma viagem até Silent Hill, a cidade que a filha visita em seus episódios de sonambulismo, a fim de encontrar respostas que talvez a salvem. Após sofrerem um acidente de carro, Rose chega em Silent Hill, porém Sharon desaparece. Ao longo do filme, acompanhamos a procura de Rose pela filha por toda a suposta cidade fantasma e a observamos enfrentar não apenas criaturas sedentas por sangue, como também seres humanos com crenças do que é maligno ou não para impedir que sua Sharon seja sacrificada. Rose prova que não há limites para salvar sua cria: pactuar com o Mal não é nada perto dos horrores que a humanidade pode fazer. 

 

Karen Barclay – Brinquedo Assassino (1988)

Direção: Tom Holland

         Karen (Catherine Hicks) ama seu filho Andy (Alex Vincent ) e o filme não peca em demonstrar essa conexão. Viúva, ela cuida sozinha do menino e trabalha na loja de departamentos Carson Pirie Scott & Co. para manter as despesas da casa. O aniversário de seis anos do menino se aproxima e ela sabe o quanto ele deseja um boneco Good Guy, mas devido ao alto custo do brinquedo, não consegue presenteá-lo com um. No entanto, sua amiga de trabalho Maggie aponta um homem do lado de fora da loja vendendo um dos bonecos por metade do preço e, querendo muito agradar Andy, Karen decide comprá-lo. Ela só não contava com o seguinte agravante: o boneco chamado Chucky não era um simples boneco, mas sim um receptáculo da alma de Charles Lee Ray, um famoso serial killer. Quando Chucky começa a matança das pessoas que se aproximam e ameaça a vida de Andy, Karen compra essa luta para salvar a vida do filho. 

 

Rosemary Woodhouse – O Bebê de Rosemary (1968)

Direção: Roman Polanski

         O que poderia ser pior do que uma conspiração para matar seu bebê? Talvez oferecê-lo à forças malignas para garantir saúde e sucesso a um grupo de cultistas que moram na casa ao lado. Mas e quando a conspiração parece envolver todos ao redor, incluindo sua própria família? É nesse clima que Rosemary Woodhouse (Mia Farrow), com toda a doçura que a personagem entrega, começa a suspeitar dos sinais ao redor: a intrusão em sua vida, os excessos de cuidado, as decisões tomadas por outros sobre o que seria melhor para seu próprio bebê. Ao começar a sentir graves dores no útero, Rosemary percebe que algo muito errado pode estar acontecendo com sua criança e, após longas repetições de que não permitirá que nenhum mal caia sobre “Andy ou Jenny”, ela desconfia e desafia a todos apenas para que possa garantir a segurança do bebê.

 

Evelyn Abbott – Um Lugar Silencioso (2018)

Direção: John Krasinski

         Em um mundo habitado por criaturas que se guiam pelo som, o silêncio é precioso. Lee (John Krasinski) e Evelyn (Emily Blunt) seguem enlutados pela perda de um de seus filhos para um dos monstros e prosseguem com a criação dos outros dois, Regan (Millicent Simmonds) e Marcus (Noah Jupe), além do bebê que Evelyn espera. Tudo isso ocorre dentro de um imenso clima de sobrevivência, comunicando-se através de sinais, o que não é algo novo para o casal uma vez que Regan é surda. É nessa trama de tirar o fôlego – e sem fazer um ruído sequer – que Evelyn chega ao extremo de dar a luz em silêncio, rendendo uma das cenas mais expressivas corporalmente do cinema de terror atual. Todos os sacrifícios são feitos e todos os riscos muito bem calculados para tentar manter a família a salvo. 

 

Laura – O Orfanato (2007)

Direção: Juan Antonio Bayona

         Laura (Belén Rueda) cresceu em um orfanato e, anos mais tarde, decide comprar o local junto com seu marido Carlos (Fernando Cayo) para não apenas cuidar de seu filho Simón (Roger Príncep), mas também abrigar outras crianças. Quando o filho do casal, acometido por uma doença grave, desaparece misteriosamente no dia da inauguração do novo orfanato, Laura parte em uma busca frenética por ele. Meses de busca inconclusiva se passam, assombrados pela antiga história da residência e do que aconteceu ali no passado. Laura precisa reconstruir o passado e descobrir os mistérios do local para que possa salvar Simón. O instinto materno não permite que ela desista, mesmo quando todos parecem cansados e descrentes da resolução do conflito. Driblando o ceticismo do marido, Laura decide jogar o jogo do passado para descobrir o paradeiro do filho, abraçando não somente as dores de Simón, mas de todas as antigas crianças do orfanato.

 

Chris MacNeil – O Exorcista (1973)

Direção: William Friedkin

         O Exorcista , baseado no romance de mesmo nome de 1971, gira em torno de Chris (Ellen Burstyn) e Regan MacNeil (Linda Blair), mãe e filha. Após a filha ser acometida de estranhas mudanças de comportamento, a atriz e mãe solo parte em busca de uma solução. Perpassando todos os melhores consultórios médicos e submetendo a filha a diversos exames, Chris tenta descobrir a todo custo uma solução para o problema de Regan. No entanto, a ciência não pode curar a menina, que apresenta mais e mais sinais de possessão demoníaca, fazendo com que Chris precise recorrer ao auxílio da Igreja nesse embate. Em paralelo a narrativa familiar, acompanhamos a história do padre Damien Karras (Jason Miller), que luta com seus próprios demônios internos e com a falta de fé após a perda de sua mãe. Apenas diante da fé de Chris na salvação da alma da filha que o Padre Karras pode reconstruir a sua própria e salvar Regan. 

 

Amelia – O Babadook (2014)

Direção: Jennifer Kent 

         Amelia (Essie Davis) não tem uma vida fácil. Cuidando sozinha de Samuel (Noah Wiseman), um jovem menino muito extrovertido, ela ainda precisa desconstruir dentro de si o luto pela perda do marido. Há anos a personagem tenta, mas o filme expõe o quão árdua é a missão. Nesse momento, Samuel encontra o livro do Babadook, uma criatura que passa a assombrar a família e que, quanto mais é negada, mais se fortalece. O longa disponibiliza ao público múltiplas interpretações: reflexões sobre as etapas do luto, ponderações importantes sobre doenças psicológicas e a criação solo da criança. No entanto, é nesse emaranhado de possibilidades que ele tanto se enriquece. Amelia só poderá salvar seu filho e a si própria no momento que aceitar e bater de frente com a veracidade do Babadook. Somente através do reconhecimento da existência do monstro ela pode derrotá-lo.

 

         Nem todas as mamães badass do horror ocuparam essa lista filtrada, mas é certo que cada uma delas – tanto as mencionadas, quanto diversas outras dentro do gênero – carregam consigo a energia vital voltada para não permitir que nenhum mal aconteça com seus filhos. Para isso, elas vão além dos limites físicos e psicológicos propostos nos longas. Em termos da sobrevivência dos pequenos, nada entra no caminho delas.