O mundo está cheio de histórias de fantasmas. Elas estão presente no cinema desde o início, e sempre fizeram sucesso na literatura. Mas e os relatos históricos sobre fantasmas? Prepara a pipoca porque hoje vamos falar sobre o Falso Fantasma de Orleans, o relato histórico que mais parece um episódio de Scooby-Doo.
Nossa história começa no século XVI, em 1534. A ordem dos cordeliers, os franciscanos franceses, se encarregava dos sepultamentos e velórios na cidade de Orleans. Os olhos da ambição se encheram quando faleceu a esposa do prévôt, uma espécie de administrador da região, uma profissão típica do Antigo Regime.
O problema foi que, antes de falecer, a mulher havia pedido um enterro sem pompas. Ela queria uma coisa bem simples e íntima. Devido à simplicidade, o funcionário real se viu no direito de pagar pouco pelo serviço, o que deixou os religiosos furiosos. Só para deixar claro, grande parte do dinheiro da ordem vinha dos serviços funerários.
Colyman e Estienne d’Arras, dois cordeliers doutores em teologia bolaram um plano “infalível”. Eles decidiram falar pela cidade que a alma da falecida estava condenada para todo o sempre. Até aí tudo bem, nada de muito grave além da difamação. Mas é claro que a história não acaba por aí.
Os religiosos decidiram investir mais na história de condenação e espalharam que a alma da esposa do prévôt havia voltado do túmulo e estava assombrando a capela. Colyman fez o papel de exorcista e fingiu que iria expulsar o fantasma do local. Alguns momentos antes, ele havia combinado tudo com um noviço. Enquanto realizava o exorcismo, Colyman perguntava e o fantasma respondia através de batidas – que eram feitas pelo noviço. Duas batidas para “não” e três batidas para “sim”.
“Você é uma alma condenada?”
(três batidas)
“Por luxúria?”
(duas batidas)
“Por gula?”
(duas batidas)
“Pela nova heresia de Lutero?” [Lembrando que a Reforma Protestante aconteceu em 1517].
(três batidas)
“Quer que seu corpo seja exumado?”
(três batidas)
O que era para ser uma vingança contra o funcionário real muquirana acabou se tornando um caso de profanação de túmulo. A história levantou muitas suspeitas e a farsa foi descoberta. Os religiosos foram julgados e seriam condenados à morte, porém, a justiça considerou que a punição poderia ser entendida como um ataque à ordem religiosa, e não aos indivíduos em si. Novamente devemos lembrar que era um período de grandes conflitos entre católicos e protestantes.
Os cordeliers foram presos, mas não ficaram muito tempo na prisão. Os farsantes foram soltos e a história do falso fantasma de Orleans entrou para os registros históricos. O relato foi usado por alguns filósofos da época para mostrar que não existiam os tais fantasmas, que por vezes apareciam nos jornais. Mas essa é somente uma de várias histórias que podemos contar.