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Trasheira de Qualidade – A Geladeira Diabólica

A Geladeira Diabólica
(The Refrigerator)
Data de Estreia: 01/06/1991
Direção: Nicholas Jacobs

 O cinema de horror realmente parece ter um problema com objetos do nosso cotidiano. A Camisinha Assassina (1996), que logo logo vai ganhar uma resenha aqui, O Elevador Sem Destino (1983), O Elevador da Morte (2001) e Rubber, o Pneu assassino (2010) são alguns dos títulos que provam essa teoria. Depois de falar de Ataque dos Tomates Assassinos (1978), escolhi um outro clássico do cinema trash, A Geladeira Diabólica (1991).

Até que é uma geladeira bonita

O filme começa com um casal de jovens – ok, eles nem são tão jovens assim – inconsequentes que desrespeitam as regras de trânsito e dirigem loucamente por Nova York. Eles chegam no prédio em que moram, sobem as escadas para o apartamento, muitas escadas aliás, e então se desenrola uma cena de sexo bem constrangedora. A mulher, insatisfeita com a performance da outra metade da laranja, observa a geladeira, que faz barulhos estranhos. Ela é covardemente atacada pelo eletrodoméstico e perde sua vida, e assim começa… A Geladeira Diabólica (1991).

Destaco nessa sequência inicial a total falta de compatibilidade entre a trilha sonora e as cenas do filme. O que é perfeito para estabelecer desde o início que você assistirá a um filme ~maravilhoso~ e ~muito bem feito~. Mas vamos para uma análise mais detalhada desse belo exemplar de ecofobia, medo patológico do ambiente doméstico. Na falta de um termo que se refira ao medo específico da geladeira, vou utilizar o conceito, que eu mesmo criei, de medo de ator global.

Após os créditos – que são intercalados com antigas propagandas de refrigeradores – conhecemos o casal protagonista da nossa história, Steve e Eileen Bateman. Ele possui uma característica que provavelmente é apreciada por muitas mulheres:

Ele sabe apreciar um bom laticínio

Eles recebem uma ligação que estão esperando há um bom tempo: surgiu um apartamento para alugar em Nova York com um preço baixo, muito baixo. Sim, é o mesmo apartamento do casal do início do filme, como vocês já deviam suspeitar. O endereço?

Absolutamente nada suspeito

Incrível como, apesar de todas as falhas de roteiro, a produção se empenhou em escrever uma música exclusiva para o filme, que relata os acontecimentos e a vida dos personagens. Eileen quer ser atriz, Steve vai trabalhar e vai lhe dar suporte. Uma música fofinha no meio de um filme cheio de sangue – Natal Sangrento (1984) já havia feito isso na década anterior.

O prédio aparenta estar caindo aos pedaços. O agente imobiliário o aluga por meros 200 dólares, o que faz com que Steve pense ser um mestre das negociações. Tadinho. Mal sabe ele dos horrores que o casal aguarda. O apartamento não está nas melhores condições, mas o agente consegue convencê-los com um ótimo argumento:

Cuidado com agentes imobiliários

Assim que abrem a geladeira, Steve vê um queijo camembert – um daqueles queijos com cheiro e gosto fortes que gente chique gosta de comer bebendo vinho. Um queijo velho dentro de uma geladeira que já foi de outra pessoa. Steve achou uma ótima ideia COMER O QUEIJO. Há quanto tempo o queijo está ali? Ele não está nem devidamente armazenado, mas Steve é um grande… entusiasta de queijos.

Enquanto fazem a mudança uma cigana, Tanya, avisa Eileen para que o casal não se mude. Obviamente eles não a dão ouvidos. Essa personagem é clássica em filmes de horror, geralmente uma pessoa idosa ou então alguém que tem poderes mediúnicos tenta avisar as futuras vítimas a não se mudarem. Nunca dá certo. Ainda bem, senão o filme não seria divertido.

Já na primeira noite a geladeira faz Steve ter alucinações – pode ser o queijo, o filme não deixa claro. Ele vê seu chefe em tamanho reduzido dentro da geladeira. A partir desse momento o arco narrativo do marido de Eileen é se perder cada vez em seus delírios, nas visões que ele tem por culpa da maligna geladeira.

Quando o amante de queijos vai trabalhar, aparece um novo personagem na trama: o super encanador – como ele próprio se intitula – Juan, zelador do prédio, detentor de todas as chaves, boliviano e dançarino de flamenco. Não, eu não estou inventando. Sim, há uma cena de dança no filme.

Juan é, sem dúvidas, um personagem icônico

Eileen possui um trauma de infância com sua própria mãe. Devido a isso, ela desenvolve uma espécie de ecofobia. Além disso, a geladeira se mexe sozinha e a machuca algumas vezes. Ela decide sair e se distrair um pouco da vida confinada em um apartamento. Juan deixa seu irmão, Paolo, para arrumar um vazamento embaixo da pia e a geladeira, que abre e fecha sozinha, segundo Eileen.

Tadinho de Paolo, mal sabia que a geladeira era um eletrodoméstico enviado do inferno:

Entrando numa Fria

Através de Tanya, Eileen descobre que sua geladeira é, na realidade, UM PORTAL PARA O INFERNO. Com certeza o capeta roubou um Yakult e comeu o último iogurte.

Não, Eileen, ela é um portal!

As alucinações de Steve ficam cada vez piores. Ele perde de vez a sanidade, fica verdadeiramente possuído pelo refrigerador e tenta colocar Eileen na geladeira – o famoso medo de ator global. Apesar de toda maldade que existe na geladeira e em Steve, nossa protagonista não está sozinha. Ela recebe a ajuda de Juan, Tanya e um cara aleatório que só entrou na história pra ter a perna devorada por uma lixeira. Sim, amigos, outros objetos da casa são possuídos por demônios no clímax dessa obra-de-arte. Não darei muitos detalhes sobre o final, só digo que Eileen e deu muito bem.

Por fim fica a dica de assistir a esse filme dublado no youtube. Muitos desses filmes trash ficam ainda melhores se assistidos dublados, mas isso é uma história para as próximas resenhas. Fiquem bem e cuidado com eletrodomésticos possuídos.

 

  • Essa é segunda resenha da série Trasheira de Qualidade.