Caça Fantasmas

Caça Fantasmas
(Ghostbusters)
Data de Estreia no Brasil: 14/07/2016
Direção: Paul Feig
Distribuição: Sony Pictures 

Mal tinha saído o trailer e a internet já jogava diversas críticas e projeções sobre “Caça Fantasmas”. Em meio à justificáveis apreensões por parte de diversas pessoas que consideram o original de 1984 um clássico (mas não irretocável, diga-se de passagem), se prendendo na nostalgia, havia também um grupo de homens com a masculinidade extremamente frágil e que de maneira alguma poderiam aceitar que num único filme tivéssemos quatro protagonistas mulheres, o que transformou todas as páginas de cinema em uma enxurrada de estúpidos discursos sexistas.

Uma resposta adequada dos realizadores do filme poderia ser simplesmente ignorar a existência de tais indivíduos, mas o caminho traçado é muito mais inventivo e divertido: “Caça Fantasmas” não só reconhece, cheio de ironia, as opiniões machistas que rondaram sua produção como faz questão de expô-las  com um tom de sátira perfeito, sendo capaz de encontrarmos em seu climax não só qualquer personagem masculino literalmente paralisado e inútil, como ainda faz com que o vilão do filme dispare comentários misóginos em sua batalha final. Se já é certo que quatro mulheres podem/devem protagonizar uma obra cinematográfica, agora confirma-se também que esta nova configuração dos Caça Fantasmas é tão divertida quanto a original.

Focado em estabelecer a origem do grupo de investigadores sobrenaturais, o roteiro (escrito a oito mãos) relega qualquer desenvolvimento de personagem das protagonistas por uma abordagem da funcionalidade e química do grupo. O resultado acaba por ser gratificante por compreendermos com o andar da história que aquelas quatro pessoas são importantes nas missões, cada uma a sua maneira, conseguindo também estabelecer bem a personalidade de cada integrante. É nesse aspecto que o filme ganha justamente por escalar quatro talentosas comediantes: enquanto Melissa McCarthy parece bem mais contida do que de costume, mas ainda assim engajada em seu papel, estabelecendo todo o engajamento de sua Abby Yates sem apostar na histeria, Kristen Wiig  trás toda a insegurança de sua Erin Gilbert com o misto certo de carisma (e a química entre as duas atrizes é perfeita). Em contra partida, se a personalidade mais “cinematográfica” é a Jilliam Holtzmann de Kate McKinnon, que embora faça uma boa atuação não consegue tirar o peso surreal de cientista maluca de sua personagem, o filme comete um erro terrível com Patty Tolan (Leslie Jones) que, sendo negra, é a única que não é cientista – e a atuação da atriz, viciada em gritos e caretas, prejudica ainda mais a personagem.

Ainda assim, Chris Hemsworth faz um excelente trabalho como o inacreditavelmente burro Kevin, conseguindo arrancar gargalhadas do público sempre que surge numa ponta mínima e surpreendendo com o timming cômico do ator. Dessa forma, a abordagem do filme como uma comédia com leves contornos de aventura e ação é extremamente funcional em cerca de 80% do filme, já que ao se focar na trama do mistério principal mais para o final do filme, a projeção acaba perdendo muito de sua força cômica. Ainda, o filme parece apostar demais nas referências ao clássico de 84, algo que inevitavelmente dividirá as plateias – ainda que estas referências sejam feitas de forma divertidas, não se pode negar que por vezes surgem invasivas.

Dirigido de forma leve por Paul Feig (que trabalha com McCarthy pela quarta vez consecutiva), o diretor consegue ainda estabelecer um uso divertido do 3D ao não só utilizar de maneira justificada o recurso de ‘jogar” objetos  na plateia, como também, por utilizar o aspecto de letter box na tela, deixa com que os fantasmas ultrapassem a borda da tela. Feig emprega a profundidade de campo de uma maneira perfeita para a tecnologia, sendo auxiliado por uma fotografia colorida de Robert D. Yeoman que realssa ainda mais o clima descompromissado da narrativa.

Com bons efeitos especiais, “Caça Fantasmas” tropeça mesmo em sua montagem que ao priorizar a fluidez e dinâmica da ação, acaba por criar sequencias de cenas com problemas de cronologia, soando como se sempre caíssemos no meio de um seguimento já em andamento no filme, o que contribui para que qualquer possível tensão mais ao final do filme seja pífia. Isto se deve também ao fato de que, querendo ou não, o vilão do filme possui sim motivações fracas e esquecíveis, enquanto o roteiro aposta numa estrutura convencional. Não que isso prejudique muito ao filme, já que “Caça Fantasmas” é um filme tão divertido que fica claro que os machinhos de plantão podem chorar o quanto quiserem, estas quatro garotas podem e vão caçar fantasmas por mais um bom tempo.