A Freira
(The Nun)
Data de Estreia no Brasil: 06/09/2018
Direção: Corin Hardy
Distribuição: Warner Bros.
Eu queria dizer que “A Freira” desperdiçou um tremendo potencial, mas eu estaria mentindo. Eu gostaria de dizer que a ideia de se criar um longa que explicasse a trajetória do demônio Valak até os eventos de “Invocação do Mal 2” sempre me pareceu uma grande ideia, mas, de novo, eu estaria mentindo. Mesmo que eu entre sempre na sala de cinema buscando “anular” minhas expectativas – afinal, já fui surpreendido tanto negativa quanto positivamente com diversos filmes -, ao final da projeção deste novo “capítulo da série Invocação do Mal” me senti frustrado. Tive a plena noção de que este filme não só é completamente desnecessário, como ainda é irremediavelmente fraco do ponto de vista do “horror”, com poucos momentos de tensão, de medo e de simples sustos…
Sim, “A Freira” é tão insonso que em diversos momentos senti falta até mesmo dos famigerados “jumpscares”.
Escrito por Gary Dauberman (responsável pelo roteiro dos dois “Annabelles” e por “It – A Coisa”) a partir de um argumento concebido por ele e por James Wan, o roteiro de “A Freira” se mostra de longe o pior elemento da produção, criando uma trama que gira em torno da missão do padre Burke (Demián Bichir) e da freira Irene (Taissa Farmiga) de investigar se, após o suicídio de uma freira, uma determinada abadia ainda se conserva como território sagrado. Com o sobrenatural cada vez mais agindo sobre os dois, fica logo absurdamente claro que há um demônio no local (o que decretaria, assim, o fim da missão), mas por motivações sempre nebulosas de heróis em filmes de terror, os dois personagens se mantem na propriedade para tentar derrotar o mal ali. Assim, o roteiro parece não saber o que quer construir com seus personagens, sendo que o padre Burke poderia simplesmente não existir em boa parte da estória (sua maior contribuição são informações já conhecidas do “universo Invocação do Mal”), além do fato de que o personagem/alívio cômico Frenchie (Jonas Bloquet) é utilizado pelo roteiro como mera ferramenta narrativa.
Com um roteiro tão medíocre, nenhuma das atuações consegue elevar o material escrito, ainda que a aparição de Taissa Farmiga no elenco principal se mostre uma decisão acertadíssima. Não só a jovem atriz é boa no que faz, como ainda se beneficia por toda a empatia que o expectador está disposto em depositar numa versão mais jovem de uma personagem querida pelo público, facilitando muito o nosso envolvimento com a narrativa. Ainda assim, o roteiro falha em diversos momentos ao tentar criar, a partir da personagem, reviravoltas na trama que são absurdamente previsíveis (o trecho “Maria aponta o caminho” e as “visões” da personagem se destacam nessa perspectiva). Além disso, chega a ser risível toda a história contada sobre a invocação original do demônio Valak e a desculpa que o roteiro encontra para que este tenha “despertado” novamente – e é incrível como este momento chega a ser risível do ponto de vista, inclusive, de execução, já que utiliza de um CGI muito ruim e completamente desnecessário.
Contudo, devo pontuar que a execução do projeto não é de todo ruim, já que a direção de Corin Hardy é “certinha” do ponto de vista técnico. O problema principal é a falta de criatividade do diretor no projeto, se limitando muitas vezes a simplesmente recriar (como “homenagem”) movimentos de câmera idênticos aos que James Wan utilizou nos filmes anteriores, não trazendo nada de novo ou meramente memorável em sua construção visual – e o filme comete um erro fatal ao reprisar cenas de “Invocação do Mal 2” em seu prólogo, criando um comparativo natural na cabeça do expectador logo no início do filme. Hardy ao menos consegue criar dois ou três momentos de tensão e urgência claustrofóbica, que parecem surgir toda vez que o filme está descambando para o desastre total. Além disso, a cinematografia de Maxime Alexandre é ao menos funcional ao sempre conseguir encobrir com sombras o rosto de personagens em pontos chaves, além de envolver os cantos do cenários da abadia em trevas quando necessário.
Ainda assim, como se o filme já não tivesse problemas suficientes, eis que a montagem sabota completamente a projeção em pontos chaves, como na forma apressada com que certas cenas são estabelecidas (um erro de direção de Hardy também, já que nunca parece dar espaço para os seus atores e suas cenas respirarem entre os diálogos). Porem, tal falha fica notória principalmente no final do segundo ato, quando a intercalação entre duas cenas envolvendo dois personagens distintos dilui o medo e a tensão, já que o filme escolhe sempre o momento errado de cortar de uma cena para a outra, criando uma sensação anti-climática nas duas – e o filme poderia ter investido melhor em todos estes aspectos desta parágrafo se tivesse jogado fora todo o segmento envolvendo o passado do padre Burke.
Ainda assim, nada é mais frustrante do que perceber que “A Freira” tem como “razão de existir” a sua montagem dos cinco minutos finais, quando o filme parece se achar super inteligente com a conexão que consegue fazer com os filmes “Invocação do Mal”. Da próxima vez, os produtores poderiam fazer um curta para tal finalidade, poupando o tempo deles e principalmente o meu. Pois se eu dissesse que apreciei este filme mais do que o mínimo possível, novamente eu estaria mentindo.