A Possessão de Mary

A Possessão de Mary
(Mary)
Data de Estreia no Brasil: 23/01/2020
Direção: Michael Goi
Distribuição: Paris Filmes

O terror dos mares, pelo cinema, na maioria das vezes é representado pela ameaça de um tubarão faminto e amedrontador. Através de muito sangue, alguns sustos e vítimas estúpidas, essas técnicas, embora batidas, ainda funcionam de certa forma. Porém dentro de um subgênero do terror já muito bem estabelecido. Quando se busca trazer o sobrenatural para dentro de um veículo em movimento, sabe-se desde o início que a proposta de direção e o roteiro precisam ser ousados e criativos o suficiente para manter a atenção do público. Por mais triste e previsível que possa parecer, A Possessão de Mary não alcança nem de longe esse objetivo.

Ao sermos apresentados a uma misteriosa conversa entre Sarah (Emily Mortimer) e uma detetive em uma sala de investigação, a história se desenvolve através dos flashbacks de Emily, onde sua instável (emocionalmente e financeiramente) família, que após comprar um barco abandonado por conta de um estranho e inexplicável fascínio do pai de família e marido de Emily, David (Gary Oldman), embarca em águas misteriosas, e passa a vivenciar acontecimentos estranhos e aterrorizantes.

O descaso do roteirista Anthony Jaswinski (responsável pelo bom Águas Rasas) com a trama e seus personagens é algo deplorável, e sem dúvidas o que mais incomoda o expectador do começo ao fim do filme. Sem elementos narrativos capazes de fisgar nosso interesse, a história se constrói em cima de personagens nada cativantes, que além de seguirem claros estereótipos, não permitem que os atores desenvolva de fato características únicas e marcantes para seus papéis. O enredo aos poucos insere conflitos pobres e pouco críveis entre os personagens, enquanto alterna sem justificativas entre o presente (sala de investigação) e o passado (barco).

Distante de apresentar uma boa execução, a direção fica à mercê do fraquíssimo texto que possui em mãos. Diante de uma única e espacialmente limitada locação, passa a utilizar seus enquadramentos de maneira confusa e repetitiva, o que acaba até afetando os poucos sustos existentes no filme. E caso a maior surpresa e indagação do espectador seja “como atores competentes e renomados como Gary Oldman e Emily Mortimer toparam um trabalho tão porco?”, lembremos que esses não são os mais injustiçados na obra, pois ao menos tiveram a chance de expôr seus papéis lamentáveis. A verdadeira tristeza é ver o nome dos The Newton Brothers assinando a trilha musical original da obra, sendo uns dos maiores parceiros do diretor Mike Flanagan e nomes de peso no terror dos últimos anos. Aqui, a música além de desaparecer facilmente por conta de toda péssima performance dos diversos aspectos temáticos e técnicos da obra, não demonstra identidade nenhuma dentro do que se propõe um filme de terror.

Com exceção de pouquíssimos planos chamativos, a obra se faz de uma narrativa miserável, sem nexo, e por vezes até revoltante. Com capacidade de impressionar por sua premissa, A Possessão de Mary joga fora todas oportunidades que lhe é oferecida, não nos conquistando com seus personagens e consequentemente não fazendo com que nos importemos com as situações vividas pelos mesmos. Embora possa ser cedo para dizer, não reluto em afirmar que é descaradamente um dos primeiros e piores filmes de terror de 2020.