Ainda Estamos Aqui
(We Are Still Here)
Direção: Ted Geoghan
Distribuição: Netflix
Assim como “Hush”, “Ainda Estamos Aqui” é um filme de terror independente que não teve um grande lançamento nos cinemas, mas foi comprado pela Netflix para ser exibido no serviço de streaming. Infelizmente, porém, o filme de Ted Geoghan não tem nada da originalidade de “Hush”, se utilizando de todos os clichês possíveis e imagináveis para construir uma narrativa que segue fielmente a cartilha de um dos maiores sub-gêneros do terror: a casa mal-assombrada. Dessa forma, somos apresentados no começo do filme a Anne e Paul Sacchetti, um casal de meia-idade que decide se mudar para uma casa no interior da Nova Inglaterra buscando escapar das memórias da recente tragédia da morte de seu filho.
Logo no começo de “Ainda Estamos Aqui” temos a introdução dos mais tradicionais elementos do sub-gênero: os barulhos constantes, os porta-retratos que caem, luzes que se apagam e principalmente o porão onde coisas bizarras acontecem. Tirando a idade dos personagens que é um pouco mais avançada do que o usual, os personagens são também enormemente estereotipados, principalmente na figura da mãe que “sente” a presença de seu filho dentro da casa e do pai cético que é o último a acreditar que há eventos sobrenaturais na casa. Além de clichê, sexista. As coisas melhoram um pouco com a chegada de May e Jacob Lewis e seu filho com a namorada, que pelo menos trazem algum elemento interessante, principalmente o hippie Jacob, interessantemente interpretado por Larry Fesseden (o único do elenco que parece realmente se esforçar). Porém, os eventos que se sucedem são absurdamente previsíveis, sendo que qualquer um que tenha assistido a 5 minutos de um filme de terror na vida consegue adivinhar quais serão os primeiros personagens a morrer.
O roteiro ainda tenta introduzir alguns elementos interessantes como uma história de fundo interessante para a casa mal-assombrada, que remete à meados do século XIX e as famosas cidades bizarras do interior da Nova Inglaterra (o momento mais interessante do filme está nos créditos, com supostos jornais que retratam estranhos acontecimentos da cidade ao longo dos anos). Porém, tudo isso é extremamente mal explorado pelo filme, que volta a abusar de clichês como o do vilão óbvio que deveria ser supreendente e se apóia constantemente em diálogos descaradamente exposicionais para abordar sua história de fundo, que dessa forma perde completamente qualquer senso de misticismo e credibilidade, ficando muito obviamente inventadas por diálogos que beiram ao patético de tão displicentemente escritos.
O único motivo para “Ainda Estamos Aqui” receber duas estrelas ao invés de uma está em sua qualidade técnica. Assim como eu já havia comentado em “Hush”, este filme tem uma incrível qualidade de produção se levarmos em conta seu baixo orçamento. Destaco principalmente a cinematografia, que tem enquadramentos de câmeras perfeitos durante todo o filme e cria algumas cenas visualmente muito bonitas da parte exterior da casa. Além disso, a direção, a iluminação e a trilha sonora do filme se somam para criar alguns interessantes e genuínos momentos de tensão.
O thriller, apesar do que pode parecer no começo e a partir de minha descrição, não é o foco de “Ainda Estamos Aqui”, que prefere a partir da metade do filme partir para acontecimentos e cenas mais explícitas, apostando muito mais no gore do que no suspense. Este elemento, aliado ao aspecto visual do filme são os únicos motivos pelos quais eu talvez recomendasse o filme para os fãs do gore, uma vez que Ted Geoghan compensa sua falta de inspiração no roteiro com um grande talento para o horror visual. Porém, isso não é o suficiente para salvar o filme da mediocridade à qual seu péssimo roteiro o condena.