Alien: Covenant
Data de Estreia no Brasil: 11/05/2017
Direção: Ridley Scott
Distribuição: Twentieth Century Fox Film Corporation
Quem conhece o República do Medo sabe que somos fãs da franquia Alien. Em nosso podcast sobre o clássico de 1979 acabamos falando também sobre “Prometheus” (2012), a prequel que marcou a volta de Ridley Scott à direção da franquia e gerou enorme expectativa entre os fãs, acabando por decepcionar a maioria. Naquela ocasião defendi o filme, que vejo como uma ótima obra que acabou sofrendo com um excesso de expectativa. Fiz essa retrospectiva toda para dizer que aprendi a lição com “Prometheus” e fui assistir a “Covenant” com uma expectativa apenas moderada. O resultado disso foi uma ótima experiência de cinema, que não me surpreendeu muito e tampouco me decepcionou.
Assim como o filme anterior, há muitas coisas que gosto muito em “Covenant” e umas poucas que me desagradam, de forma que o primeiro tipo se sobrepõe quando penso o filme como um todo. Em termos narrativos, “Covenant” é muito mais prequel do que “Prometheus”, estabelecendo um link direto tanto com “Alien” (1979) quanto com “Aliens, O Resgate” (1986). A trama começa de forma muito clássica, com um androide supervisionando uma nave, Covenant, que carrega 17 tripulantes e mais de 2.000 colonos que pretendem se estabelecer em Origae-6, após uma viagem de mais de 7 anos. Em dado momento deste percurso, uma tempestade iônica danifica a nave e deixa-a a deriva no espaço. Os tripulantes recebem uma mensagem de um planeta próximo contendo a voz de uma mulher cantando uma antiga canção e, percebendo a compatibilidade do planeta com a existência da vida humana, decidem mandar uma nave para investigá-lo.
A premissa de “Covenant” não é nenhuma novidade pra qualquer um que tenha visto algum filme da franquia Alien. Sendo assim, a originalidade do filme só se demonstra a partir do segundo ato, envolvendo questões que haviam sido deixadas abertas em Prometheus e um certo personagem, que não falarei quem é para não dar nenhum spoiler. O que posso dizer é que o roteiro faz a opção de ter mais um antagonista além das criaturas e isso funciona maravilhosamente bem, gerando cenas e questionamentos extremamente interessantes.
O elenco todo está muito bem no filme, criando personagens capazes em sua função de ir desenrolando a narrativa. O problema é que falta entre eles a sintonia demonstrada por outras tripulações nos demais filmes da franquia, principalmente os de 79 e 86. Também falta individualmente um pouco de carisma aos protagonistas, principalmente Daniels (Katherine Waterson), que consegue convencer como a figura badass do grupo mas não chega aos pés de Ripley no quesito carisma. Os demais tripulantes cumprem suas funções, mas tem um desenvolvimento muito pobre por parte do roteiro (com a exceção talvez do capitão Oram, muito bem representado pelo ótimo Billy Crudup).
Quem brilha de fato é o genial Michael Fassbender. Sem sombra de dúvidas um dos melhores atores trabalhando em Hollywood atualmente, o ator dá continuidade ao excelente trabalho que já havia desenvolvido em “Prometheus”, entregando uma performance digna de todos os elogios possíveis e que muito contribui para o tratamento da inteligência artificial no cinema de ficção-científica. De longe o que há de melhor no filme, Fassbender entrega uma atuação extremamente minuciosa, com sutis e graduais mudanças e nuances que fazem toda a diferença e possibilitam ao filme ir além de seu escopo narrativo.
Uma coisa que “Covenant” faz muito bem é utilizar o peso da franquia Alien a seu favor. É justamente por já termos acompanhado histórias muito semelhantes e sabermos que esta certamente não acabará bem que nos sentimos mais tensos. Nosso conhecimento nos põe em uma relação de vantagem frente aos personagens, gerando aquela forte tensão de quando alguém está prestes a fazer alguma coisa muito prejudicial a si mesmo e somente nós sabemos disso. Quanto a isso, as criaturas presentes no filme me causam um sentimento ambíguo. Por um lado “Covenant” não tem medo de inovar e trazer conceitos visuais novos para novas espécies. Por outro, algumas delas são construções de CGI muito mal feitas, parecendo até um pouco patéticas em alguns momentos. A decisão de mostrar demais o Alien em um ambiente aberto e muito iluminado acaba também por banalizar um pouco a criatura, que certamente não tem mais aquele peso assustador que tinha no filme original.
Como não poderia deixar de ser em um filme de Ridley Scott, “Covenant” é um deleite visual. Além de conceitos de figurino e veículos extremamente interessantes, os cenários são muito bem construídos, com cores que dão uma marca visual de franquia “Alien” ao filme e uma iluminação que enfatiza o suspense. Ridley Scott, como sempre, conduz o filme com maestria. Há uma cena em particular envolvendo a nave gigantesca dos Engenheiros que considero espetacular, entrando para minhas favoritas em toda a franquia.
Com pouco mais de 120 minutos de duração e muito bem editado para manter um ritmo constante, “Covenant” certamente é uma ótima experiência de cinema. Ao final do filme senti que ele poderia ter sido melhor, feito algo a mais. Mas isso porque Alien é uma franquia que contém duas obras-primas da ficção-científica. Por sua vez, “Covenant” se coloca exatamente ao lado de “Prometheus” como uma ótima prequel, que se é inferior aos dois originais, certamente é muito superior às demais sequências.