Campo do Medo
(In The Tall Grass)
Data de Estreia no Brasil: 04/10/2019
Direção: Vincenzo Natali
Distribuição: Netflix
Incansavelmente, a Netflix apostou em mais uma adaptação de um livro escrito por Stephen King, dessa vez o chamado Campo do Medo. O problema é que infelizmente essa obra não se junta às boas, muito menos memoráveis produções audiovisuais baseadas nos textos do escritor. Na verdade se encontra na lista de filmes confusos, pretensiosos e mal executados que a produtora/distribuidora coleciona há alguns anos. Se é possível encontrar qualidades aqui, estas por sua vez não parecem durar muito tempo ou são facilmente apagadas pela quantidade de erros estruturais presentes no roteiro e na direção do filme, ambos assinados por Vincenzo Natali.
Enquanto dirigem para San Diego, dois irmãos, uma mulher grávida e um homem insistente e determinado, se deparam com um extenso matagal paralelo à uma estrada, onde um garoto grita por ajuda. Após decidirem adentrar a grama alta e profunda em busca do menino, ambos se perdem e passam a conhecer outras pessoas que também se perderam no matagal, coincidentemente ou não, também tentando ajudar outros que pediam ajuda. Dentro de pouco tempo, todos se vêem desesperados por não encontrarem a saída, e acontecimentos estranhos envolvendo uma grande e misteriosa rocha tomam conta do ambiente.
Conforme o roteiro se molda de maneira confusa, em que quebra frequentemente suas próprias regras em prol de um terror previsível e nada envolvente, passamos a nos interessar cada vez menos pelos personagens (que já não tínhamos razão nenhuma para nos apegarmos), o que acaba sendo um problema gravíssimo na forma como nos envolvemos com a história. Ao sugerir um possível ciclo de acontecimentos sem um começo, meio e fim definidos, é que a obra assume de fato o quão mal elaborada é sua proposta. Sem saber para onde pretende ir ou qual mensagem transmitir, o enredo ainda falha duplamente ao demonstrar tentativas pífias de equilibrar drama e terror em um universo em que não nos importamos com aquelas pessoas (muito menos com seus conflitos) e não sentimos medo das situações propostas.
Embora sua premissa pareça no mínimo interessante (o que é mérito do livro e não do filme), a execução do filme cai por um caminho cheio de pedras. Com exceção do experiente ator Patrick Wilson, que aqui se sai bem com as ferramentas que seu descartável personagem possui, a própria direção de atores de Natali se mostra insegura, ao não saber ao certo o que extrair de cada ator, e acabando por tratar seus personagens de forma homogênea, algo que se extrapola até pelos enquadramentos repetitivos escolhidos pelo diretor. Os efeitos especiais também não impressionam, e muitas vezes até se mostra artificial demais. Mas uma das falhas mais impressionantes da obra é a cansativa e apática trilha musical composta por Mark Korven, que é conhecido por ter composto uma das melhores trilhas de terror do século (senão a melhor): a de A Bruxa (2015).
Sem entreter de forma convidativa, o horror visual e as relações entre os personagens, mal apresentadas por sinal, mais afastam o espectador do que o atraem. Não sabendo como usar seu dinamismo a seu favor, Campo do Medo se mostra mais uma escorregada da Netflix e das adaptações dos livros de King, por não desenvolver seus personagens com atenção, não trazer cenas significativas para sua trama, e principalmente tentar confundir o público com artifícios baratos de perda de noção do tempo e acontecimentos inexplicáveis. Claramente uma produção para se passar o mais longe possível.