Fuja
(Run)
Data de Lançamento: 20/11/2020
Direção: Aneesh Chaganty
Distribuição: Hulu
O final da adolescência e o início da vida adulta é, na avassaladora maioria das vezes, um período extremamente difícil de enfrentar. Lidar com uma explosão de sentimentos, receios, incertezas e os esforços para entrar em uma boa universidade, não costuma ser fácil pra ninguém. Mas quando isso se soma à inúmeras limitações físicas e à dependência que temos de nossos amigos e familiares, tudo se torna ainda mais complicado. Como se não bastasse, o filme Fuja (Run) nos coloca na pele de uma adolescente paralítica, com diversos problemas de saúde (incluindo asma), que após descobertas sinistras, passa a duvidar das intenções de sua mãe (Sarah Paulson).
Em seu novo longa, O diretor Aneesh Chaganty, responsável pelo ótimo “Buscando…” (2018), longa comentado no RdM Cast sobre Horror Tecnológico, consegue manter (e em alguns momentos até elevar) a capacidade que possui em nos manter tensos e alertas diante de cenas frenéticas. A boa direção garante também uma boa apresentação e exploração dos espaços/ambientes que fazem parte da rotina da personagem principal, além de nos transmitir aos poucos, exatamente a mesma sensação de Chloe (Kiera Allen, atriz estreante) de não se sentir segura em sua própria casa.
Fuja (Run), além de nos trazer uma história carregada de suspense e nos deixar nas pontas de nossas cadeiras torcendo (de fato) por uma personagem formidavelmente corajosa, também tece questionamentos sobre como os verdadeiros demônios que vivem dentro de diversos humanos (muitas vezes mais próximos de nós do que imaginamos), podem os prejudicar e prejudicar os outros ao seu redor. Esses demônios são nossas inseguranças, nosso sentimento de possessividade, nosso egoísmo e nossa incapacidade de aceitar a vida acontecer da forma que deveria.
Enquanto a atriz principal, Kiera Allen, entrega todo o desespero de uma cadeirante em fuga (muitas vezes até abusando demais das expressões de pânico), Sarah Paulson incorpora magistralmente uma mãe insana, que esconde muito bem seu passado e seus propósitos. A atriz vai de uma extremidade à outra em pouquíssimo tempo. Isso se confirma desde quando nos gera empatia à uma primeira vista, até plantar dúvidas gradativamente e por fim nos instaurar medo e tensão.
Apesar das incontaveis qualidades aqui existentes, o filme deixa algumas pontas soltas em seu enredo. Pontas essas que não prejudicam nem de longe o envolvimento instantâneo e duradouro do espectador com a trama, mas que nos deixam pensando como a narrativa poderia ganhar força caso certas arestas fossem aparadas com cuidado, tornando a história mais verossímil e interessante. Sentimos também que o filme acaba se mostrando curto até demais, e os acontecimentos parecem se desenrolar muito rapidamente, sem que possamos absorver e nos identificar o máximo possível com aqueles personagens antes de um clímax. Devido às condições da protagonista e suas razões, somos naturalmente movidos por seus objetivos, entretanto falta um desenvolvimento maior da personalidade das personagens, uma apresentação satisfatória de seus passados recentes, além da relação entre elas.
Fuja (Run) flerta com o terror psicológico em muitos momentos de seu enredo, ao trazer a “insanidade comedida” da personagem de Diane à tona sem perder a mão com exageros desnecessários. Com cenas inteligentemente construídas e movimentos/ângulos de câmera cativantes e que ajudam a contar a história, a obra nos deixa apreensivos do início ao fim, e se fideliza facilmente como um dos thrillers mais eletrizantes e envolventes de 2020.
