Crítica | Lobisomem

Wolf Man

Direção: Leigh Whannell

Ano: 2024

País: Estados Unidos

Distribuição: Universal Pictures

Nota do crítico:

No agora longínquo ano de 2020, comentamos em nosso episódio sobre O Homem Invisível (2020) a interessantíssima carreira de Leigh Whannell. Tendo ganhado maior notoriedade enquanto ator ao interpretar Adam em Jogos Mortais (2004), poucos na época notaram que seu nome também aparecia na assinatura do roteiro do filme dirigido por James Wan. 

Com o passar dos anos, Whannell envolveu-se também com outra importante franquia recente do horror, produzida por Wan: Sobrenatural. Vivendo o personagem de Specs ao mesmo tempo em que co-escrevia o roteiro de vários dos capítulos da saga, Whannell fez sua estreia na direção com o terceiro filme da franquia, Sobrenatural: A Origem, em 2015. Três anos mais tarde, consolidou seu nome como competente e seguro diretor ao conduzir o ótimo Upgrade: Atualização (2018), produzido pela Blumhouse.

Em paralelo a sua ascensão enquanto cineasta, a Universal Pictures tentava (e fracassava miseravelmente) ressuscitar seu Dark Universe. Foi em 2020, finalmente, que surgiu a parceria entre ambos em O Homem Invisível, um completo sopro de ar fresco ao abandonar as pretensões imediatas de universo compartilhado e focar apenas em desenvolver uma boa história com um personagem sólido. A aposta provou-se um grande acerto, entregando um excelente filme sobre uma mulher que lida com a opressão persistente de um relacionamento abusivo, a partir da metáfora do Homem Invisível.

Sendo assim, o grande sucesso de público e crítica indicava o caminho a ser seguido, e felizmente a Universal Pictures ouviu, apostando em Whannell para trazer de volta às telas outro grande personagem do estúdio: o Lobisomem. No roteiro, co-escrito por ele e por Corbett Tuck, Blake e Charlotte são um casal que vive em uma grande metrópole estadunidense com sua filha, Ginger. Lidando com o estresse de suas carreiras e de criar sua filha neste ambiente caótico, eles decidem viajar até o Oregon e passar alguns dias na antiga fazenda do pai de Blake, recém declarado morto.

A premissa é bastante simples e não é necessário sequer ter assistido ao trailer para adivinhar o que vem a seguir: seu carro é atacado por um Lobisomem e logo Blake passa a se transformar em um perigo para sua própria família. Mas, de maneira importante, uma sequência anterior, que acompanha um Blake criança caçando com seu pai na floresta, introduz a temática central de Lobisomem: os esforços desmedidos de um pai para proteger seu filho podem acabar tornando-se justamente aquilo que cria traumas e distanciamento entre os dois.

O que estou prestes a dizer pode ser visto de duas maneiras, uma positiva e outra negativa, mas o fato é que, para mim, esta sequência inicial trata-se do ponto alto do filme. Além de estabelecer o tom simbólico da narrativa, ela funciona muito bem também para criar uma forte tensão quanto à ambientação: há algo sinistro habitando aquelas florestas, e o pai de Blake certamente está ciente disso. Sua traumática experiência quase face a face com a criatura apenas o confirma.

Muito bem enquadrada e cheia de tensão, a cena é o ponto alto do filme, pois, infelizmente, devo dizer que o restante de Lobisomem nunca chega a empolgar na mesma medida. Seu principal problema, nesse sentido, pode ser resumido em uma única palavra: previsibilidade. Claro, ao se tratar de um filme de lobisomem, já sabemos os principais pontos narrativos a esperar: a transformação, perseguições animalescas, lutas entre criaturas, um forte senso de perda e pesar, etc. Nada disso chega de fato a ser um grande problema, mas o é a falta de envolvimento emocional que sentimos com relação aos personagens.

Como dito acima, o tema de Lobisomem é tornado muito claro desde o princípio, mas o roteiro do filme encontra enormes dificuldades em aprofundá-lo para além de um nível muito superficial. Há vários problemas aqui, desde a previsibilidade do roteiro à falta de inspiração da direção de Whannell, mas acredito que o principal deles seja o elenco. Christopher Abbott e Julia Garner (que estiveram bem em outras produções recentes de horror, como Possessor e Apartamento 7A, respectivamente), não são capazes de convencer como um casal que possui grande afeto um pelo outro, o que prejudica muito nosso envolvimento emocional com seus personagens.

A relação de pai e filha entre Blake e Ginger é até melhor construída, mas logo torna-se também lugar comum. Para não dizer que há apenas erros, o filme se utiliza de uma técnica visual e sonora belíssima para simbolizar a incompreensão crescente entre Blake e sua família. Isso é algo inteligente e que eu sequer tinha imaginado sobre a transição do “homem lobo”: ele perde sua humanidade e conexão com o mundo na mesma proporção em que se torna criatura.

Além disso, com pouco mais de 100 minutos de duração, Lobisomem sabe a hora de encerrar e entregar uma trama concisa, com um ou outro ponto alto de tensão. Mas não é nada mais do que isso, devo dizer, com pesar. Tendo dito isso, acredito que Leigh Whannell seja até fisicamente incapaz de entregar algo de tão baixa qualidade quanto o A Múmia de 2017, mas ele, sozinho, não pode representar a pedra de salvação que o Dark Universe precisa. Não há motivo para jogar tudo fora, Lobisomem ainda é um filme decente que segue os passos de seu predecessor e continua a apontar um bom rumo para o estúdio. Mas ele não tem nem de longe a mesma inspiração ou qualidade de O Homem Invisível. Lamentavelmente.