Halloween

Halloween
Data de Estreia no Brasil: 18/10/2018
Direção: David Gordon Green
Distribuição: Universal Pictures

Atualmente, diversos filmes para se considerarem “divertidos” simplesmente não se levam a sério. Da mesma forma, grande parte das sequências parecem querer caminhar sozinhas, se distanciando da sombra do seu antecessor. Eis que este “Halloween” de 2018 parece ter sido construído quase que como uma “Parte 2” para ser exibida diretamente após  o longa original, utilizando dos mesmos temas e estrutura narrativa, mas subvertendo elementos. Soando divertido, ágil e progressivamente mais envolvente em tensão, o novo longa da franquia de Michael Myers chega a ser até um tanto dependente do original para que seus melhores momentos funcionem, contando a “mesma premissa” de 40 anos atrás, quando o “assassino de babás” foge de sua prisão e caminha obstinadamente em direção à Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a única sobrevivente dos ataques da noite de Halloween de 78.

O ponto de virada que torna o filme interessante aqui é a própria participação de Laurie na narrativa, que deixa de ser a babá perseguida para se tornar uma “caçadora” de Michael. Chegando a afirmar em diversos momentos que “gostaria que Michael fugisse”, para que assim pudesse matá-lo, Laurie é interpretada por Jamie Lee Curtis como uma mulher naturalmente perturbada pelos acontecimentos passados, tendo aprendido com a vida a natureza sombria “do mal” – o que faz todo sentido tematicamente com o longa de 78, já que Myers surgia como um assassino do subúrbio justamente para estabelecer a batalha do “bem x mal” num ambiente considerado seguro. Esta nova abordagem de Laurie faz com que o longa desloque essa dualidade do filme antigo para um patamar envolvente de “uma sociopata x um psicopata”, trazendo peso às atitudes da protagonista para os demais membros de sua família.

Assim, Laurie em muitos momentos soa distante do resto do mundo (não apenas fisicamente, com a sua casa no meio do nada), mas emocionalmente, cabendo ao filme reencenar planos e sequências clássicas do longa original, só que agora protagonizadas por Laurie – o maior exemplo é a cena na qual a sua neta Allyson (Andi Matichak) a enxerga parada do lado de fora da janela de seu colégio, num óbvio paralelo com Myers. Aliás, é justamente com Allyson que o filme parece ter maiores problemas do que quer realizar no roteiro, estabelecendo uma subtrama com o namorado desta que ocupa um tempo valioso de tela e só serve como desculpa para deixá-la sozinha no meio da noite de Halloween. Este tipo de coisa afeta, inclusive, o plano final do filme, que perde o impacto por nunca termos visto sua construção na neta, apenas na avó e na mãe.

Ainda, o roteiro, escrito por David Gordon Green, Danny McBride e Jeff Fradley, chega a ser tremendamente ruim nos seus 5 minutos iniciais, quando utiliza de uma dupla de entrevistadores e “podcasters” sensacionalistas para expor informação na plateia, quando o filme não necessitava disso. Se a cena de introdução funciona minimamente é graças a boa direção de Green, que consegue trazer elementos de urgência para a ela, bem como para todas as sequências de assassinato, sabendo cortar de um plano pra outro no combate físico sem tornar tudo confuso, ou mesmo criando planos longos memoráveis nos novos ataques de Michael Myers – e o meu momento favorito é toda a sequência na qual o assassino vai de uma vítima a outra até ter em mão uma “arma” que lhe agrade.

Reutilizando muito bem a maravilhosa trilha sonora original de John Carpenter, Green ainda é hábil na forma com que utiliza de alguns bons jump scares em pontos chaves, não desgastando o recurso com o assassino em si, mas sim para criar tensão progressiva nas cenas. Contudo, ainda que o longa seja divertido em sua maior parte do tempo, também deve ser apontado como em sua primeira hora ele parece se arrastar mais, tardando muito para estabelecer os melhores momentos do filme. A produção só não sai do controle graças aos bons momentos dramáticos de Laurie, que se revela sempre interessante, e às boas sequências inesperadas do filme, soando realmente muito frustrante somente num único elemento que é atirado no meio da estória e que poderia mudar TUDO em relação à dinâmica dos personagens, mas que logo o roteiro descarta, ficando parecendo uma mera muleta narrativa.

Ainda assim, toda a forma com que a batalha final se estabelece no longa é digna de nota, criando momentos maravilhosos de mortes (o público lembrará de uma em especial) e se tornando um passatempo divertido, um slasher que possui uma alma dramática. Se o objetivo deste longa era encerrar a série de filmes envolvendo Michael Myers (e por favor que encerre mesmo!), podemos respirar tranquilos com um final digno para uma franquia querida pelo público, que consegue soar revisionista do longa original ao mesmo tempo em que apaga todas as outras horrorosas sequências de “Halloween”.

O que por si só já é um feito maravilhoso e merecedor de todas a congratulações do mundo!