Jogos Mortais: Jigsaw
(Jigsaw)
Data de Estreia no Brasil: 30/11/2017
Direção: Michael Spierig e Peter Spierig
Distribuição: Paris Filmes
Humpfff… E lá vamos nós de novo…
A estreia de “Jogos Mortais” há 13 anos atrás foi um sucesso estrondoso de público, tornando um curta de terror (2003) em um longa de baixo orçamento que faturou 56 milhões só nos EUA. James Wan apareceu para o mundo com este longa e, rapidamente, “Jogos Mortais” virou mais um longa de terror na história do cinema que foi jogado numa linha de produção de filmes que se repetem em estrutura e estórias, mas que perde cada vez mais o melhor de sua substância. O primeiro filme tinha sim seus vários momentos de gore, mas estes estavam atrelados a um (no mínimo, pretenso) desenvolvimento psicológico de choque do espectador e dos personagens, que moviam a narrativa quanto mais descobríamos sobre suas personalidades – já que isto desenvolvia suas atitudes frente as armadilhas de Jigsaw.
Mas isto foi se perdendo, se esvaindo, e cada vez mais a franquia “Jogos Mortais” se tornou um festival do gore pelo gore… O que não é necessariamente ruim, mas perdia completamente o sentido de tentar distinguir um longa do outro, já que todos repetiam sua mesma estrutura de plot twists que faziam personagens se revelarem em uma cena final cheia de flashbacks, o que culminou na risível revelação do último filme da série (Jogos Mortais VII), que, em tese, era o “capítulo final” da franquia … Em tese…
Mas lá vamos nós de novo…
“Jogos Mortais: Jigsaw” chega com a promessa de tentar algo de diferente – afinal, já fazem oito anos desde o último longa -, e se estabelece como uma mistura de armadilhas sangrentas com pouco desenvolvimento humano, que soa muito como uma mera convenção para o desdobramentos e revelações do roteiro. Nos restando, assim, uma estória familiar demais, fazendo com que prestemos muito mais atenção no visual do longa que, dirigido pela dupla Michael e Peter Spierig, se mantém firme em suas investidas de criar tensão sem apelar exageradamente para cortes frenéticos entre planos nas cenas das armadilhas. Estas, aliás, se mostram bem elaboradas e funcionam com seu efeito “bomba relógio”. Ainda, a fotografia do longa depõe a favor do filme, com um tom frio e escuro que se justifica em mistério, sem ficar ininteligível – e a sequencia inicial é interessante por trazer a urgência necessária que implementa as ideias e dúvidas certas na mente de quem assiste.
E quando já estamos acostumados com a linguagem dos diretores e não há mais novidade neste âmbito, temos que nos voltar novamente para o enredo do longa, que se baseia até que em questionamentos instigantes: com cada vez mais corpos aparecendo pela cidade, a polícia teme que John Kramer, Jigsaw, possa ter deixado um novo aprendiz para realizar seus jogos sádicos… Ou será que o próprio Kramer, declarado morto há mais de 10 anos, na verdade enganou a todos e continua vivo? De fato um ponto de partida interessante…
MAS… Lá vamos nós de novo.
Não adianta perder tempo escrevendo sobre o plot do longa, sendo que eu poderia colar qualquer resenha acerca dos últimos filmes da série, já que se repete os mesmo recursos narrativos no roteiro, a mesma estrutura convencional divida em “dois segmentos” que se desenrolam ao longo da narrativa, os mesmos personagens típicos e o desenvolvimento quase nulo de seu passado (menos quando este é necessário para criar reviravoltas na estória). Assim, o caminho narrativo traçado parece sempre imposto ao filme, não parte reveladora deste – o que anula quase que por completo a necessidade de um novos Jogos Mortais.
E quando o filme finalmente revela suas propostas, quando ele finalmente diz a resposta para as suas perguntas, o efeito transita entre a indiferença pelo caráter randômico de certos elementos e a incredulidade pela utilização de um dispositivo dramático que já foi usado a exaustão na franquia. Somos forçados a perceber que os 90 minutos foram manipulados da forma mais óbvia possível (e que só funcionam moderadamente graças a boa montagem de Kevin Greutert) e aos poucos o filme parece gritar desesperadamente que deseja ser a pedra inicial de um novo ciclo para a franquia, fazendo com que o espectador se recolha aos poucos no acento do cinema, com as mãos na cabeça pensando repetidamente:
“Oh céus… Lá vamos nós de novo!!!”