Os Órfãos
(The Turning)
Data de Estreia no Brasil: 30/01/2019
Direção: Floria Sigismondi
Distribuição: Imagem Filmes
Apesar da diversidade crescente nas produções independentes, o cinema mundial e principalmente o terror, ainda está muito concentrado na mão de diretores homens e suas visões de mundo. Surgir dentro desse cenário predominantemente masculino e se propor a trazer uma perspectiva interessante de medo e tensão, enquanto se apoia em um roteiro carregado de incontáveis clichês narrativos, claramente não é fácil. Com o material que possuía em mãos, a diretora e fotógrafa Floria Sigismondi (de The Runaways – Garotas do Rock), conhecida por seus clipes musicais de artistas renomados, entrega em seu segundo longa (lançado 10 anos após sua estreia nas telonas) e seu primeiro terror, uma obra cheia de defeitos graves, mas que também impressiona e agrada com algumas boas cenas.
Na trama, a jovem e corajosa professora Kate (Mackenzie Davis) é contratada para trabalhar em uma antiga mansão como babá de duas crianças órfãs que perderam seus pais num acidente de carro, próximo à mansão. Enquanto a carente garotinha Flora (Brooklynn Prince, de Projeto Flórida) e Kate passam a ter cada vez mais proximidade e criar intimidade, o garoto Miles (Finn Wolfhard, de Stranger Things) passa a atormentar Kate com pressão psicológica, joguinhos de mal gosto. Pra piorar, eventos sobrenaturais começam a fazer com que a professora passe a questionar sua própria sanidade em uma mansão assustadora e sombria.
Meio a furos de roteiro, situações improváveis, conflitos mal estabelecidos e sustos previsíveis (embora alguns, poucos, nos pegue de jeito), surpreendentemente as aparições fantasmagóricas, os interessantes diálogos e o clima misterioso que envolve a história consegue nos manter interessados pelo enredo, que por menos original que seja, cumpre o papel de transmitir medo diante de ambientes escuros e de uma construção visual que de alguma forma valoriza o macabro ali existente. Enquanto a atriz Mackenzie Davis não impressiona mas também não decepciona, quem acaba trabalhando melhor as nuances de sua personagem é a atriz mirim Brooklynn Prince.
Em Os Órfãos, a clássica (e pelo visto quase indispensável) ignorância da protagonista de filmes de terror e a péssima dosagem de sustos (presentes praticamente em todas as cenas do filme) acaba por cansar o espectador. Por bem, a agradável condução do suspense sobre personagens desaparecidos, algumas pistas falsas de sustos e boas ideias da direção não permitem que percamos totalmente o interesse. Um auxiliar importante nessa condição são as músicas arrepiantes do compositor Nathan Barr, que soam como assopros gelados na nuca do espectador.
Ainda que com um roteiro extremamente problemático, além de um final ousado e controverso para uma produção tão comercial, e ao mesmo tempo fora da proposta construída pela obra durante seus dois atos iniciais, a qualidade técnica e o eficiente controle do suspense durante boa parte da história, fazem de Os Órfãos uma obra regular, com altos e baixos, que chega para apresentar o lado mais sombrio de Floria Sigismondi, uma cineasta repleta de boas ideias e interessantes perspectivas, mas que ainda carece de originalidade, afinal, para um debut no terror, nem todo mundo consegue ser Jennifer Kent (O Babadook).