(A Good Woman Is Hard To Find)
Data de Lançamento: 25/10/2019 (Reino Unido)
Direção: Abner Pastoll
Thrillers, apesar de nem sempre se relacionarem diretamente com o “horror” propriamente dito, são um divertimento assegurado para muitos fãs do gênero, essencialmente por flertarem com situações desconfortáveis, angustiantes e até chocantes. A co-produção britânico-belga A Good Woman Is Hard To Find, não apenas atende a esses requisitos, como também incorpora-os à esfera social, propondo críticas relevantes ao sistema e ao convívio coletivo.
A história, roteirizada pelo indicado ao Oscar, Ronan Blaney, gira em torno de Sarah (Sarah Bolger), uma mãe viúva que após perder seu marido assassinado, lida com complicações financeiras enquanto tenta cuidar de seus dois filhos pequenos. Após ter sua casa invadida por um traficante, a vida de Sarah se complica ainda mais, ao mesmo tempo que a personagem parece ver naquela circunstância, a oportunidade de investigar a fundo o assassinato de seu marido.
A Good Woman Is Hard To Find, mesmo sem um ritmo frenético, possui um senso de imediatismo e urgência que não permite que o espectador relaxe diante dos acontecimentos (ainda que nem sempre), assim como a personagem principal. Inclusive é exatamente ao construir uma sólida corrente entre os sentimentos e intenções de Sara e o público, que nos vemos presos na história, ansiosos para sermos impactados e para saber qual será o fim da mesma.
O enredo se elabora, ainda que de maneira sutil e autêntica, diante da ideia de que todos os homens ali são mal intencionados, porcos, corruptos, egoístas. E colocando uma forte protagonista no centro desse cenário, a obra discorre sobre camadas secundárias de uma forma bem convincente. O “terror” aqui se encontra na angústia contida de cenas muito bem orquestradas pelo diretor Abner Pastoll. É no realismo com que nos é apresentado os riscos de vida que correm Sarah e seus filhos, e na gradativa mudança de consciência da protagonista em relação as suas atitudes e sua personalidade, que reside o que de mais interessante o filme possui.
A irlandesa Sarah Bolger está incrível e não mede esforços para impressionar e cativar o expectador com uma performance persuasiva e humana acima de tudo, transparecendo muito bem todos os medos e anseios de sua personagem, que ganha vida a cada cena. Carregamos suas causas e nos levamos a acreditar que aquela realidade pode muito bem ser o retrato fiel e infeliz da vida de inúmeras esposas de traficantes e contrabandistas em todo o mundo. Porém se o filme poderia explorar mais essa realidade, ele infelizmente não o faz.
As falhas do roteiro se evidenciam quando o mesmo acaba permitindo que algumas cenas que pouco contribuem para a trama em geral, tomem um tempo acima do que deveria, desconsiderando a ansiedade e a sensação de desconforto proposta desde as primeiras cenas. Sem falar da duração das cenas apreensivas, que embora haja variados pequenos momentos que nos deixam inquietos, esses momentos não duram tempo o suficiente para que nos sintamos de fato sufocados pelo drama dos personagens.
Tecnicamente simples, porém seguramente atrativo, A Good Woman Is Hard To Find se coloca como uma porta para boas reflexões sobre a posição de uma mãe viúva em nossa sociedade, além de nos entreter facilmente com diversas cenas aflitivas e violentas. Apesar de não ir tão longe quanto poderia, o filme se consolida como um thriller eficiente e provocativo.