A Morte Te Dá Parabéns 2

A Morte Te Dá Parabéns 2
(Happy Death Day 2U)

Data de Estreia no Brasil: 21/02/2019
Direção: Christopher Landon
Distribuição: Universal Pictures

Coincidente, fui eu mesmo quem, no final de 2017, escreveu a crítica sobre o primeiro “A Morte Te Dá Parabéns”, um terror/comédia que continha uma mistura da premissa de um personagem vivendo o mesmo dia em loop com a de um slasher, que matava Tree toda noite de uma forma diferente, obrigando-a a voltar ao início e tentar descobrir novamente quem era seu assassino. Lembro da sensação agridoce que tive quanto ao filme ao deixar a sessão, tentando equilibrar em minha mente o prazer que tive ao assistir seus melhores momentos de comédia e ação, bem como a decepção que senti com um terceiro ato completamente pretensioso e tosco, que tentou dar 5 passos maiores que a própria perna. Para a sequência, lançada menos de 18 meses após o original e contando com o mesmo diretor/roteirista, Christopher Landon, eu tive a expectativa de que os trechos mais falhos do roteiro fossem consertados e restasse apenas a boa execução da divertidíssima premissa. O problema é que, para um filme que fala sobre voltar ao início do dia e tentar lidar com obstáculos de uma maneira diferente, “A Morte Te Dá Parabéns 2” errou miseravelmente no que diz respeito a aprender com os erros de seu antecessor.

O mais irônico é que, novamente, o primeiro ato do roteiro escrito por Christopher Landon é de longe a parte mais forte do filme, seguida por um segundo ato bom e, novamente, um clímax medíocre. Os primeiros trinta minutos de “A Morte Te Dá Pabéns 2” são perfeitos ao aplicar o mesmo loop temporal sofrido por Tree no primeiro filme agora à Ryan Phan, o amigo de Carter que sempre entrava no quarto perguntando se os dois tinham transado. Após um ou dois reboots, causados também pelo assassinato do personagem por alguém com a máscara de bebê, descobrimos que os loops estão sendo causados por uma máquina de física quântica (ou alguma baboseira assim), parte do projeto da Tese de Ryan para provar que o tempo pode ser desacelerado (ou pelo menos eu acho que é isso). Percebendo uma reedição do que havia acontecido anteriormente, Tree e Carter tentam ajudar Ryan, somente para dar início a mais uma série de maluquices (que prefiro não revelar), que acabam acionando a tal máquina novamente e levam Tree a reviver aquela segunda-feira em looping novamente… em outra dimensão.

É justamente o completo absurdo e falta de sentido da premissa de “A Morte Te Dá Parabéns” que torna seu primeiro ato tão divertido. Sem dar a mínima para a lógica e o bom senso, o roteiro de Landon diverte ao praticamente satirizar a si próprio, inventando uma desculpa qualquer apenas para repetir a premissa do filme anterior. Além disso, a criação de uma nova dimensão permite ao diretor brincar com mudanças nos personagens e em suas relações, utilizando a premissa de loop sem que ela fique repetitiva demais. É o mesmo mundo, só que diferente. O segundo ato se dedica a explorar este novo universo de personagens, enquanto o time de “cientistas” formado por Ryan e seus dois amigos, Samar e Andrea, buscam um algorítimo para inserir na máquina e devolver Tree a sua dimensão originária. Para que eles achem o algorítimo correto, no entanto, ela precisa decorar os códigos já testados e se suicidar, para que se reinicie o loop e eles possam testar outro algorítimo, até encontrarem o certo.

E é precisamente neste meio de segundo ato que o filme toma uma decisão equivocada que o condena a repetir os mesmos erros de seu antecessor, apenas usando outro caminho para chegar até lá. Ao descartar a premissa de um assassino que persegue e assassina Tree repetidamente, “A Morte Te Dá Parabéns 2” perde completamente o elemento de horror que, bem equilibrado com a comédia, tornava seu antecessor tão divertido. O filme até é inventivo na hora de planejar os suicídios de Tree, criando uma estética satírica que em alguns momentos chega muito perto do tom utilizado em “Deadpool”. Tivesse ido a fundo com isso, estaríamos falando de um filme muito melhor. Infelizmente, o roteiro de Christopher Landon se acovarda e recua, buscando um tom mais “sério” e grave, completamente descabido, no que diz respeito a diferenças nesta nova dimensão, que forçam Tree a ter de escolher entre permanecer nela ou voltar para aquela de onde veio.

Se delongando nesta “escolha de Sofia” por muito mais tempo que deveriam, o segundo e terceiro atos são então preenchidos por cenas bregas e clichês, com diálogos péssimos e sem vida que apenas incham a trama com uma dramaticidade que em nenhum momento soa verossímil. Ainda por cima, logo em seguida “A Morte Te Dá Parabéns 2” comete exatamente o mesmo erro do primeiro filme, buscando em um dos personagens da história o assassino misterioso, ao invés de relegá-lo a algum motivo cósmico ou a qualquer merda assim (era só inventar que o assassino era uma manifestação do universo tentando se auto corrigir. Afinal, o resto da premissa é tão absurda que, quem liga?). Se a “revelação” do assassino, ainda que fraquíssima, é bem menos pior que a de “A Morte Te Dá Parabéns”, a reincidência torna-a mais dolorida. Já contando com uma premissa completamente absurda para justificar um novo loop, não havia necessidade alguma do filme tentar se explicar desta maneira ridícula.

A conclusão a que chego é que Christopher Landon não errou apenas por repetir na sequência o mesmo erro que já havia cometido no primeiro filme, mas por novamente não ter coragem suficiente para abraçar totalmente a premissa absurda com a qual está lidando e jogar para o alto convenções narrativas e de gênero. Com tamanha falta de ousadia do diretor/roteirista, o terceiro ato da história torna-se completamente entediante e insatisfatório, nos deixando com uma sensação de “quero mais”, para além da mais nítida impressão de que praticamente qualquer outro rumo que se tivesse optado para seguir com aquela história seria muito melhor do que o que foi eventualmente escolhido.

E isto leva ao exato mesmo problema que tive com “A Morte Te Dá Parabéns”: o final fraco acaba estragando um pouco dos bons momentos contidos no restante do filme, uma vez que esta experiência a qual fomos submetidos por último acaba por se sobressair a nossas impressões anteriores. Deve-se ponderar, no entanto, que ótimas atuações, bons efeitos especiais e, no geral, uma direção criativa por parte de Christopher Landon fazem com que a experiência de “A Morte Te Dá Parabéns 2” seja tão proveitosa quanto a do primeiro filme (se não um pouco mais), apesar das constantes tentativas de auto sabotagem do roteiro com seu dramalhão tosco (complementado por uma trilha sonora tão óbvia e ridícula que parece piada). No fim das contas, “A Morte Te Dá Parabéns 2” acaba por deixar a mesma sensação que tive ao término do primeiro filme: “é só cortar essas partes ruins que a sequência vai ser incrível!”. Aguardo ansiosamente “A Morte Te Dá Parabéns 3”.