A Morte Te Dá Parabéns

A Morte Te Dá Parabéns
(Happy Death Day)
Data de Estreia no Brasil: 12/10/2017
Direção: Christopher Landon
Distribuição: Universal Pictures 

Filmes que se baseiam na repetição de um mesmo dia por várias vezes costumam ser difíceis de executar e frequentemente acabam por tornar-se experiências simplesmente penosas para quem assiste. Por outro lado, quando funcionam podem ser filmes extremamente divertidos, com um potencial quase infinito de “reassistibilidade”, como por exemplo o clássico “Feitiço do Tempo” (1993) e o mais recente “No Limite do Amanhã” (2014). Estreando nesta semana com uma interessante trama nestes moldes, “A Morte Te Dá Parabéns” transporta tal dinâmica para o terror, e consegue fazer um ótimo trabalho com ela… Até um certo ponto.

Tree é uma universitária que vive em uma fraternidade feminina dentro de um campus universitário. Um certo dia, ela acorda de ressaca no dormitório de um rapaz que não conhecia. Aos poucos conhecemos sua rotina e relações com colegas e professores, até que ela é assassinada de noite à caminho de uma festa e… acorda de manhã no mesmo lugar e situação que havia começado seu dia. O primeiro ato do filme é bastante lento, com algumas situações demasiadamente convenientes que exageram na obviedade do “olhe com atenção, isso vai ser importante mais tarde”. No entanto, este começo de filme é satisfatoriamente competente em estabelecer a personalidade da protagonista e dar pistas importantes sobre o seu passado, bem como elementos de sua vivência atual que serão importantes mais à frente.

Existindo em meio a ideias gerais interessantes que acabam sendo um pouco mal lapidadas, o segundo ato do filme é sua verdadeira pedra preciosa. Nele, o filme consegue ser muito mais imprevisível do que eu esperava dele, sendo competente em me fazer torcer pela protagonista, e brincar com a identidade do assassino. A montagem é também efetiva ao eclipsar e misturar as cenas para não torná-las cansativas. Neste ponto, “A Morte” torna-se um interessante whodunnit, nos envolvendo na tentativa de Tree de investigar o que está lhe acontecendo e como superar o problema, uma morte de cada vez. O roteiro ainda joga no meio interessantes comentários sobre clichês de filmes slasher e a cultura do slut shaming no terror, conseguindo criar uma personagem verdadeiramente complexa que nos conquista apesar de sua arrogância inicial.

Grande parte do mérito disso deve ser dado à Jessica Rothe, que consegue criar empatia mesmo com atitudes bastante questionáveis. A competente interpretação dela não trapaceia ao deixar bem claro que suas ações são provenientes de uma “casca” advinda de algum tipo de trauma. O novato Israel Broussard também convence como o desajeitado e “bonzinho” Carter, conseguindo escapar também do estereótipo de terror do machinho que vive reclamando de mulheres e finge ser atencioso apenas para tratá-las como objeto. O restante do elenco, no entanto, é bastante fraco, o que acaba prejudicando um pouco o aspecto dramático do filme. Por sua vez, o diretor Christopher Landon consegue criar algumas cenas de ação visualmente interessantes, utilizando-se de uma câmera com muita movimentação para dar ritmo às inúmeras sequências de morte e conseguir criar algo interessante com cada uma delas.

Apesar de algumas extrapolações da lógica e piadas que não funcionam, “A Morte Te Dá Parabéns” é um filme muito interessante por reconhecer as limitações e fraquezas de seu roteiro, conseguindo utilizar-se de muitas delas como elemento satírico. Infelizmente, no entanto, o filme derrapa no final e abusa da nossa boa vontade. Há uns 10 minutos finais que testam nossa paciência e são absolutamente torturantes, no pior estilo “por que eu estou sendo obrigado a assistir isso?”. Pela primeira vez em muito tempo eu considerei seriamente sair da sala de cinema, tamanha aberração foi feita com um filme que vinha me entretendo tão bem antes. Há ainda uma última cena que contorna um pouco a situação, mas o estrago já havia sido feito. No fim das contas, “A Morte Te Dá Parabéns” é um filme divertido em sua auto-consciência descontraída, que poderia ter sido completamente salvo na sala de edição. Como não foi, é um terror/comédia com alguns bons momentos assustadores e outros engraçados, mas que não fede nem cheira.