(After Midnight)
Data de Lançamento: 14/02/2020
Direção: Jeremy Gardner e Christian Stella
Distribuição: Cranked Up Films
Saber dosar perfeitamente os elementos visuais e temáticos de dois (ou mais) gêneros em um mesmo filme, sem cansar ou confundir o espectador, é um talento reservado para poucos. O que os diretores Jeremy Gardner (também roteirista e ator principal) e Christian Stella alcançaram no independente After Midnight é algo que deveria ser invejado pelos maiores produtores e cineastas desta nova geração. Porém, neste filme, é necessário tomar muito cuidado com as expectativas, e não esperar uma obra de terror por natureza, mas sim um drama romântico com elementos de horror.
O diretor e roteirista Jeremy Gardner interpreta Hank, um homem passando por um momento doloroso de aceitação de um provável término de namoro. Durante o processo, todos os dias após a meia-noite, ele passa a receber visitas de uma misteriosa e intimidadora criatura.
Não demora literalmente mais de 10 minutos de filme para entendermos o porque de After Midnight ser um filme tão diferente (positivamente) do que estamos acostumados. Enquanto a direção e o roteiro prezam toda a parte do tempo pelo valor imagético de suas cenas, transmitindo os sentimentos do personagem através de ações convincentes, a interpretação dos atores nos coloca, desde cedo, em uma posição de fácil auto-projeção para com as situações vivenciadas pelo protagonista.
Chama a atenção a forma como aqui se intercalam extremamente bem a atmosfera de cenas arrepiantes e o contexto dramático envolvendo os personagens. Sem falar das boas pitadas de humor. Por meio de uma abordagem saudosista, a narrativa nos comove e ainda demonstra um controle absoluto de seu ritmo ao alternar entre os gêneros sem perder sua força, mantendo nosso interesse. Tudo nos cativa de sua própria maneira, e os aspectos técnicos não são diferentes. Da fotografia com seus poucos movimentos de câmera (aqui o uso de planos estáticos prevalecem), até a edição, que encontra uma identidade própria, dando dinamismo para a história e valorizando o potencial da soundtrack.
Como se não bastasse, o roteiro ainda nos presenteia com um ótimo e interessantíssimo jogo de diálogos entre os personagens, que refletem o realismo da obra e a profundidade dramática do filme. É a partir desses diálogos que a obra nos propõe deliciosas e ao mesmo tempo dolorosas reflexões a cerca de como o amor entre duas pessoas pode ser imprevisivelmente difícil e inexplicavelmente belo. Mas mesmo enquanto somos levados por flashbacks delicados de uma relação amorosa que já não é mais a mesma, a direção e a edição encontram um jeito inteligente de quebrar (provisoriamente) o clima amoroso/dramático, muitas vezes de forma abrupta, para dar lugar à cenas assustadoras envolvendo a criatura.
Há muito o que se admirar e ponderar a respeito de After Midnight. Mas o que é possível adiantar, de forma estimulante e sem entregar demais, é que não é um filme para todos os públicos, embora em alguns momentos se aproxime de ser. Quem não está acostumado com um equilíbrio de diferentes gêneros, sendo o horror um deles, ainda pode se incomodar. Despretensiosamente, o independente After Midnight emociona, assusta, amedronta e convidativamente nos coloca para pensar a respeito dos problemas e dos encantos dos relacionamentos modernos.