Amores Canibais

Amores Canibais
(The Bad Batch)
Data de Estreia no Brasil: 22/09/2017
Direção: Ana Lily Amirpour
Distribuição: Netflix

Combinação de uma estética e criação de universos interessantes e um roteiro formulaico e sem propósito, “Amores Canibais” é ao mesmo tempo um dos mais e um dos menos originais filmes de terror de 2017. O roteiro escrito pela também diretora Ana Lily Amirpour acompanha a protagonista Arlen, uma jovem garota que é condenada e marcada como “Bad Batch” (em tradução literal “fornada estragada”, ou seja, uma leva de pessoas consideradas inúteis pela e para a sociedade). Expulsa para o deserto, acompanhamos Arlen em sua tentativa desesperada de sobreviver ao clima e aos habitantes da região.

O original universo criado por Amirpour nos apresenta a uma sociedade que constitui-se como distopia não por qualquer tipo de catástrofe natural, mas porque optou por expulsar todos os seus “maus elementos” para o deserto do Texas. Assim, a cineasta extrapola a sumária exclusão social daqueles que não se encaixam nos padrões de comportamento estabelecidos por uma sociedade, os desviantes. Sequestrada para ser canibalizada pelo “povo da ponte”, Arlen consegue escapar e vai parar na cidade “Conforto”, uma sociedade totalmente diferente do “povo da ponte”. Até o ponto em que deixa de ser.

Uma das grandes virtudes de “Amores Canibais” é estabelecer claramente um contexto social sem ser muito auto-explicativo. Assim, ao invés de uma narração em-off sobre a situação, desvendamos aquele universo junto com a protagonista, enxergando em primeira mão todas as suas nuances e complexidades. Amirpour explora muito bem a situação que cria ao estabelecer eixos de ligação entre sociedades que pareciam tão desconectadas e consegue extrair uma mensagem verdadeiramente significativa disso.

O problema é que o filme demora uma eternidade para chegar até lá. Como apreciador de épicos como “Os Sete Samurai” (1954) e “Lawrence da Arábia” (1962), nunca me importei com o fato de um filme ser longo; desde que ele tenha justificativa para tal. “Amores Canibais” não é o caso. Com personagens totalmente desinteressantes e um plot genérico e sem significado, o filme se arrasta de forma excruciante por suas quase duas horas de duração, das quais apenas um quarto constitui uma experiência de fato significativa.

O principal problema aqui é que a storyline criada por Amirpour não é capaz de explorar as complexidades de seu intricado universo. Falta a Amirpour a capacidade narrativa de conduzir um filme com uma pegada existencialista, que consiga extrair algo de um enredo em que pouco acontece. Ao contrário de filmes superiores como “The Rover – A Caçada” (2014) e “A Estrada” (2009), por exemplo, “Amores Canibais” é incapaz de criar personagens cativantes que prendam nossa atenção mesmo sem contar com um plot recheado de ação.

Presos com personagens desinteressantes como Arlen e o “Miami Man” de um Jason  Momoa sofrendo para tentar simular um sotaque cubano, somos arrastados pelo deserto desolado que é “Amores Canibais”: de longe bonito e até um tanto quanto poeticamente inspirador; mas totalmente excruciante de atravessar.