Assim na Terra Como no Inferno
(As Above, So Below)
Data de Lançamento: 13/11/2014
Direção: John Erick Dowdle
Distribuição: Universal Pictures
Muitas vezes, uma sessão de terapia sai mais barato do que pagar com a própria vida. É basicamente isso o que aprendemos com um dos mais clássicos filmes da década passada. “Assim na Terra Como no Inferno” foi lançado em 2014, época em que eu não conseguia sequer olhar para capas de DVDs de terror. Esse fim de semana fui conferir o filme em uma plataforma de streaming e posso dizer que valeu a pena.
No longa acompanhamos a obstinada arqueóloga Scarlett (Perdita Weeks, Penny Dreadful) que, em busca de provar uma teoria de seu pai, recruta seu amigo George (Ben Feldman, Mad Men), seu cinegrafista Benji (Edwin Hodge, Mayans M.C.) além de três “exploradores” para juntos desbravarem as catacumbas de Paris.
A missão de Scarlett, assim como a razão do suicídio de seu pai, é encontrar a tumba do famoso alquimista Nicolas Flamel, conhecido por ter supostamente criado a Pedra Filosofal – sim, tal qual Harry Potter –, objeto capaz de transformar qualquer coisa em ouro além da capacidade de curar ferimentos e até mesmo a garantir imortalidade.
A partir da descoberta do motivo da expedição, “Assim na Terra Como no Inferno” ganha carta branca para trazer qualquer quesito sobrenatural à tela. Para o bem ou para o mal, isso acontece apenas no terceiro ato do filme, sendo então dois terços do longa voltados para o drama e a ambientação claustrofóbica do longa.
O filme, a princípio, parece um filme de aventura e investigação, apesar de alguns elementos desde o princípio já entregarem dicas de algo estranho, sejam eles mais explícitos – como na sequência do Irã onde, do nada, surge um corpo enforcado, que também desaparece repentinamente – como os mais sutis – como alguns movimentos de câmera, como quando antes de entrarem no museu a câmera realiza uma volta de 180°, fazendo uma analogia ao “inferno” que eles irão enfrentar.
Vale ressaltar que o filme é um found footage que se utiliza de várias câmeras portáteis para aprofundar o confinado espaço subterrâneo e subaquático do local. A linguagem serve bem ao propósito de piorar a claustrofobia e tornar ainda mais sombrio o local, normalmente abstendo as ameaças na visão que acompanhamos ou escondendo-as na escuridão, assim como quando há o uso de luz vermelha. Isso deve-se ao trabalho da direção de fotografia, que deve ter trabalhado bem para não deixar que o local perdesse completamente sentido geográfico.
Sentido geográfico este que se deve ao fato de o filme ser REALMENTE filmado nas catacumbas. A maior parte dos ossos, inclusive, são reais, graças à “decoração” própria do local. Esse foi o primeiro filme a ter a permissão do governo francês para usar o local para gravação, o que é interessante já que a Catacumba – assim como seus esqueletos – acaba por se tornar um personagem próprio.
“ZONA DE SPOILER ABAIXO, CASO AINDA NÃO TENHA ASSISTIDO E NÃO CURTA SPOILER, SIGA PARA A ZONA SPOILER FREE”
Como dito, o filme seria resolvido facilmente se todos os personagens estivessem em dia com o terapeuta. Na busca pela pedra os expedicionários acabam entrando cada vez mais profundo no subsolo e consequentemente ao próprio subconsciente e começam a ser perseguidos por algumas entidades/espíritos que se tornam cada vez mais mortais.
A partir de um momento é revelado que essas aparições estão ligadas a traumas e situações passadas de cada um deles: no caso do Papillon (François Civil) uma morte passada além do desaparecimento do amigo La Taupe (Cosme Castro); Ben é assombrado pela culpa que carrega pela morte do irmão mais novo; Scarlett sente o fardo de provar que o pai estava certo, além do medo de ter o mesmo fim que ele.
Depois de muito sofrimento, jump scare – desnecessário – e mortes avulsas, os sobreviventes acabam entendendo que para escapar do inferno, precisam aceitar suas dores e lidar com seus sofrimentos. Eles precisam se perdoar. Então, depois de diversas referências ao Inferno de Dante e de praticamente chegarem ao centro da terra dando alô a Júlio Verne, os aventureiros acham um bueiro que sai em… PARIS. Eu realmente esperava algum sustinho no final mostrando que na verdade eles não estavam vivos ou estavam em um universo paralelo, mas o filme só acaba mesmo.
Vale também ressaltar a simbologia – até um pouco clichê – sobre a Pedra Filosofal. Depois de todo sofrimento Scarlett percebe que, na verdade, ela é a Pedra em si. Coisa que é colocada sutilmente anteriormente quando a mesma cura Souxie. Mas ela descobre isso literalmente se olhando no espelho. A outra lição aqui é que devemos acreditar em nós mesmos (?).
ACABARAM OS SPOILERS!
Apesar de um final um pouco anticlimático (para mim), “Assim na Terra Como no Inferno” é uma ótima diversão. Ele consegue apresentar uma mitologia concisa, um ambiente extremamente claustrofóbico, uma técnica de direção e fotografia muito legal e, embora seus personagens não sejam os mais carismáticos, conseguem nos entreter e até mesmo nos fazer torcer por eles em vários momentos.