O Garoto Sombrio
(The Boy)
Data de Lançamento: 14/08/2015
Direção: Craig William Macneill
Distribuição: Netflix (BR)
Sempre que ouvimos histórias sobre psicopatas, serial killers ou spree killers – “matador impulsivo”, alguém que mata duas ou mais vítimas em diferentes locais em um curto espaço de tempo – temos a tendência natural a tentar entender o que leva alguém a cometer algo assim, a tentar racionalizar um ato tão inominável. É mais ou menos essa a premissa de “O Garoto Sombrio”, filme de 2015 que entrou recentemente no catálogo da Netflix.
Em “O Garoto Sombrio” seguimos Ted (Jared Breeze), um garoto de nove anos que vive com seu pai (David Morse, À Espera de um Milagre) em um hotel praticamente abandonado no montanhoso interior do Colorado. A rotina monótona e bastante solitária de Ted é interrompida quando William (Rainn Wilson, The Office) é obrigado a ficar no hotel depois de um acidente de carro. Essa amizade se torna marcante para ambos. Principalmente para Ted, que está fadado a se tornar um assassino.
Com uma fotografia maravilhosa, cenários inóspitos e lindos, além de um número reduzido de personagens, “O Garoto Sombrio” é um filme que pode ser difícil para quem gosta de mais agilidade. Das 1h50m de filme, apenas os 30 minutos finais podem ser tidos como ágeis de fato. Os dois primeiros atos do filme são completamente dedicados à preparação do que está fadado a acontecer.
Entender a rotina de Ted, seu passado, suas mágoas – em especial da mãe, por tê-lo abandonado com o pai e fugido com um dos hóspedes -, traumas, além do fato de que ele está completamente só no meio do nada, é essencial para que possamos empatizar com alguém cujo futuro já conhecemos (está na sinopse do filme). Porém, essa duração exagerada poderia ser diminuída em cerca de 20 minutos, pois o filme gasta muito tempo mostrando adereços e locais que podiam ser usados na trama novamente, mas que servem apenas para “encher linguiça”.
Existe um conceito chamado “arma de Tchekhov”, desenvolvido pelo russo Anton Tchekhov, que diz: “se no primeiro ato você colocar uma pistola na parede, no seguinte ela deve ser disparada, caso contrário, não a coloque lá”. É basicamente isso. Várias “armas” são empregadas ao longo do filme, como os locais de observação de Ted e os itens que ele guarda no local isolado com as galinhas; mas nada é efetivo no final, servindo apenas para aprofundar uma rotina que já havia sido muito bem estabelecida.
Entretanto, as cenas que mostram as atitudes de Ted mediante a presença de hóspedes nos servem para entender como é a interação dele com outras pessoas, visto que ele convive apenas com o pai o tempo todo. A falta de traquejo social do garoto é mostrada na ignorância com a qual ele trata os hóspedes, no desejo de espionar os outros, nas tentativas de sorrir enquanto está sozinho.
Em William, Ted encontra alguém em quem se espelhar, uma figura paterna que pode ser a chance de tirá-lo daquele local. É interessante ver como a relação deles se mostra ser de uma forma e acaba tornando-se algo completamente diferente. William vê em Ted a ilusão de um filho, enquanto Ted vê um pai e um passaporte em William. É uma relação quase complementar, e também construída de forma muito interessante, sem que o espectador saiba exatamente o que esperar.
No último ato descobrimos que o filme se passa em 1989 – o que ajuda muito a trama no sentido de não existir celular, GPS, facilidades tecnológicas em geral –, algo que poderia passar despercebido se este não fosse o ano de falecimento de um dos mais notórios narcisistas e serial killers dos EUA: Ted Bundy.
O ato final do filme é forte e causa uma sensação conflitante em quem está realmente investido na saga do jovem Ted, um garoto que, em outras circunstâncias, poderia ter sido um jovem comum e mentalmente saudável.
“O Garoto Sombrio” é um filme lento, mas que compensa com uma história intrigante, personagens complexos e um desfecho tenso. Quando assistir, comenta aqui embaixo o que achou!