Celular

Celular
(Cell)
Data de Estreia no Brasil: 08/07/2016
Direção: Tod Williams
Distribuidora: Imagem Filmes

“Celular” é uma obra que chega perto, mas muito perto mesmo, de se tornar um clássico cult… De tão ruim que é. O filme anda tropegamente em sua linguagem e momentos de pura exposição do roteiro e levando em consideração que o roteiro é de Stephen King (adaptado do seu próprio livro) acredito ser hora do autor parar de reclamar de suas adaptações e admitir que não entende mesmo nada de cinema. Ok, deve-se pontuar que o roteirista e o protagonista John Cusack (também produtor) foram deixados de fora da pós-produção do longa, mas levando em consideração o que presenciei em seus intermináveis 98 minutos não acredito que o resultado poderia ser muito melhor do que o alcançado.

Não que a premissa não seja no mínimo interessante, a ideia até que intriga: após todas as pessoas do mundo que estavam usando celular se transformarem em zumbis incontroláveis e violentos (eufemismo, eufemismo), o artista gráfico Clay Riddel (Cusack) escapa de um ataque num aeroporto com a ajuda de Tom Mcourt (Samuel L. Jackson), indo em busca de sua esposa e filho os quais evitava rever à meses. A partir da primeira cena de ataque já percebe-se a completa noção do diretor Tod Williams e dos montadores do filme na forma com que coordenam as cenas de ação, já que estas são todas incompreensíveis com uma abordagem de “câmera na mão” com cortes extremamente rápidos que fazem qualquer pessoa com labirintite ter uma crise no meio da projeção. Aliás, a falta de elegância da produção já pode ser vista nos créditos iniciais do filme que surgem de maneira invasiva na tela enquanto Williams, que enfoca quase todas as pessoas no aeroporto utilizando aparelhos eletrônicos, parece gritar para o espectador “olhem, todas as pessoas são viciadas em seus celulares. Todas elas serão um alvo fácil! Viu isso? Viu?! Celulares são ruins!”

Mas a abordagem horrível de Williams não para por aí, já que o diretor faz questão de utilizar zoons no rosto dos atores em um ponto avançado do filme, para dar um ar de documentário, e no momento seguinte abandonar por completo a técnica sem jamais utilizá-la novamente. Ao menos num filme assim eu gostaria de poder afirmar que os efeitos especiais contribuem ou surgem meramente grandiosos (Michael Bay ao menos sabe fazer o oceano explodir com certa grandeza… absurda), mas a impressão que tive é que a edição foi feita no Movie maker, com adição de efeitos de pós-produção que chegam a ser risíveis. Toda vez que algo pega fogo ou se molha temos a genuína impressão de estarmos vendo um vídeo de gráficos de um jogo de playstation 2… Se muito.

O leitor deve estar se perguntando agora: “Mas e as atuações? Cusack e Jackson são grandes atores de personas fortes!”. Pois logo lhe digo que poucas vezes vi estes astros tão no piloto automático quanto desta vez. Não que os atores possuam qualquer material para trabalhar, já que o roteiro parece atirar para todos os lados mirando sempre o nada, confundindo profundidade com ilógico. Inclusive, logo no primeiro ato da projeção a presença dos personagens de Jackson e Isabelle Fuhrman no resto da projeção torna-se não só desnecessária, mas completamente incompreensível já que estes não possuem qualquer motivação para seguirem Riddel, com um adendo de que o próprio afirma isto a eles (e como não havia qualquer ligação emocional construída entre os personagens é de se imaginar que eles realmente não o seguiriam).

Querendo soar dúbio e profundo em seu final que é de uma ingenuidade tremenda enquanto tenta emocionar e gerar um “twist” final, “Celular” é além de tudo uma obra chata. Faz conexões de imagens e seguimentos sem qualquer lógica ou um motivo específico, o que é fácil de notar em todas as referências feitas ao personagem da grafic novel criada por Riddel. Esta obra se tornará  uma espécie de fita do filme “O Chamado”: você vai passando pra frente e indicando a seus amigos só pra ver outras pessoas tendo que lidar com a tragédia e maldição que este filme representa.