Luz: A Flor do Mal
(Luz)
Direção: Juan Diego Escobar Alzate
Data de Lançamento: 07/10/2019
Cinefantasy 12
Luz: A Flor do Mal (2019) ganhou uma segunda exibição no festival. Nada mais justo, pois se trata de um grande filme. O diretor e roteirista Juan Diego Escobar Alzate, colombiano, consegue trazer para seu segundo longa metragem um clima inquietante. Na história, uma comunidade rural que vive isolada é fortemente influenciada pelas pregações de Senhor, um homem que clama conhecer as vontades de Deus.
Sabemos poucas coisas sobre aquela família. As três filhas são consideradas como anjos por senhor e pelos moradores – ao menos a maioria deles. Luz, esposa do pregador, faleceu próximo ao começo da história. Alzate, através de uma condução muito habilidosa, faz com que sua falta seja presente, não só em cenas mais óbvias como a cadeira vazia ao redor da mesa, mas nas próprias atitudes e expressões das filhas e na falta de perspectiva do pai.
Um dia, Senhor chega com uma criança, um menino loiro de olhos azuis. Segundo ele, a criança seria o messias, uma encarnação do próprio Cristo. Ele apresenta o garoto à comunidade e o deixa acorrentado, para que Jesus performe seus milagres ali mesmo. Ficamos sabendo que esse não é o primeiro messias trazido pelo pregador. Outras crianças já estiveram na mesma posição, porém, pela falta de milagres, foram consideradas encarnações do demônio.
A imagem de um Jesus acorrentado, prisioneiro de um pregador que controla uma pequena comunidade é muito significativa no contexto da religiosidade latino americana. Senhor quer não somente ser o líder espiritual daquelas pessoas, ele quer ter o controle da divindade, em outras palavras, ele quer que Deus seja seu servo, pois é justamente o presumido contato que ele mantém com o mundo espiritual que lhe concede poder.
Na parte técnica o filme também não decepciona. As cores beiram ao surrealismo, assim como todas as representações em computação gráfica da lua. Tudo é muito exagerado visualmente, sufocante, o que nos deixa ainda mais próximos dos personagens, em especial as três filhas do Senhor. A artificialidade dos cenários deixa tudo mais inquietante. Isso não é erro da direção de fotografia, mas sim escolhas que foram muito felizes em representar toda a confusão que acontece.
Bem e Mal, Deus e o Diabo. Esses conceitos se tornam cada vez menos distantes ao longo da trama. Percebemos que parte do controle de Senhor se deve ao fato da crença de que o Demônio está sempre à espreita. O grande problema, é que o pregador passa a perder o controle sobre sua comunidade, em especial sobre suas filhas. Elas passam a compartilhar dúvidas quanto às crenças do pai ao mesmo tempo em que atingem sua maturidade sexual, fato que assombra Senhor.
Luz: A Flor do Mal (2019) é um grande filme. Há sim um estranhamento no começo, em especial pela estética, mas rapidamente somos conduzidos ao interior da trama e quando nos damos conta, tememos pelos possíveis caminhos que ela pode seguir.