Crítica | A Lenda de Candyman

A Lenda de Candyman
(Candyman)
Data de Lançamento no Brasil: 26/08/2021
Direção: Nia DaCosta
Distribuição: Universal

Se o seu nome for dito 5 vezes na frente de um espelho… ele será invocado! A revisitação de Candyman por Nia DaCosta honra o original e segue em frente,  aprimorando a história e as camadas de horror e apresentando novos elementos. A cena inicial de Candyman (2021) já nos apresenta bastante tensão, mas nem mesmo ela é capaz de nos preparar para a toda a – boa – experiência que nos aguarda.

Da Costa também divide a escrita do roteiro com Win Rosenfeld e Jordan Peele, produtor executivo do longa. Yahya Abdul-Mateen II (Watchmen, 2019) e Teyonah Parris (Wandavision, 2021) interpretam o excelente casal protagonista. Devemos destacar também o trabalho de Colman Domingo (Fear the Walking Dead, 2015-), um ator de quem particularmente gosto muito.

A história de Helen Lyle, a antropóloga do filme de 1992, virou lenda urbana – nada mais justo com o primeiro longa. O local onde antes ficava o conjunto habitacional foi gentrificado. Os prédios que conhecíamos anteriormente não mais existem. Eles deram lugar a construções mais modernas, habitadas por pessoas de uma classe social mais elevada. O casal principal, Brianna e Anthony, possui uma relação com o mundo da arte, ela é uma curadora bem-sucedida e ele, um artista com dificuldades em encontrar inspiração para seu próximo trabalho.

Quando o irmão de Brianna, Troy (Nathan Stewart-Jarrett) aparece para jantar, o casal fica sabendo sobre a história do bairro e a lenda de Helen Lyle, a estudante de PhD que enlouqueceu, assassinou várias pessoas com um gancho e ainda sequestrou um bebê. Essa não é exatamente a história do longa de 1992, porém ela ilustra bem o famoso ditado “cada conto aumenta um ponto”. Não se preocupe, todos os elementos apresentados são explicados no seu devido momento.

Anthony fica obcecado pela história de Cabrini Green e decide que esse será o tema de seus próximos quadros. É durante suas pesquisas que ele conhece Burke, o dono de uma lavanderia que entende tudo sobre a lenda de Candyman, no caso, Sherman Fields, um homem que possuía um gancho no lugar da mão e distribuía doces para crianças. Umas versão bastante diferente do que conhecemos na trilogia original, mas tudo será muito bem explicado e conectado pelo excelente roteiro.

Candyman (2021) pode, sem dúvida nenhuma, ser colocado entre os melhores do ano. Temos uma boa dose de tensão, ótimas cenas de violência gráfica – o trabalho de maquiagem é muito bem feito – e um trabalho excelente por parte da direção de fotografia, do qual destaco aqui a cena na estação de trem, que mostra um lindo plano de Chicago à noite. Roteiro e direção estão em perfeita sintonia.

O filme ainda consegue nos surpreender em diversos momentos, revelando sua ligação com os longas anteriores e modificando alguns aspectos da narrativa que tornam a mensagem final mais potente. É claro que, com uma equipe como a que trabalha em Candyman (2021), as chances de o filme não ser bom eram praticamente nulas, mas é muito bom assisti-lo e constatar que se trata de um ótimo filme em todos os aspectos.

É difícil falar mais sobre o filme sem entregar spoilers. Porém devemos ressaltar que a presença majoritária de pessoas negras na direção, roteiro e elenco elevaram em muito o potencial do personagem Candyman. Embora o longa de 1992 já trabalhasse com questões raciais, o novo filme consegue entregar uma nova versão da lenda que critica de maneira mais forte e explícita a branquitude. Candyman está diferente e isso é muito bom.