A Menina que Matou os Pais/O Menino que Matou Meus Pais
Data de Lançamento: 24/09/2021
Direção: Mauricio Eça
Distribuição: Galeria Distribuidora, Amazon Prime Video
Depois de meses de espera, os dois filmes baseados em um dos mais conhecidos crimes do Brasil foram lançados. Com sua estreia, a princípio, para 2020, cada um dos longas é contado a partir do ponto de vista de um dos protagonistas do crime, Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos.
Ilana Casoy e Raphael Montes, as mentes por trás do livro “Bom Dia, Verônica” – e que também trabalharam como co-roteiristas na adaptação em série pela Netflix – criaram o argumento que iniciou a produção dos filmes. Ilana participou do julgamento do caso e teve em suas anotações, além dos autos do processo real, a base para a criação do roteiro.
Como dito, cada um dos filmes conta o lado relacionados aos depoimentos do casal. Apesar de muito similares, cada um mostra nuances diferentes do caso. Sejam elas pequenas, como a cor de uma toalha que Daniel usa em determinado momento – que ilustra a inocência ou culpa do mesmo diante das narrativas – ou algo mais grave, como quem sugeriu e organizou a morte dos pais de Suzane.
Os filmes foram gravados ao mesmo tempo e isso serve para dificultar e elevar as atuações. Os atores, após gravarem uma cena do ponto de vista de Suzane, precisavam regravar a mesma cena para a versão de Daniel. Ambos os protagonistas, Carla Diaz e Leonardo Bittencourt, conseguem transitar muito bem dentro do que o longa propõe. Enquanto em “A Menina que Matou os Pais” Leonardo apresenta um Daniel “bonzinho e compreensivo”, em “O Menino que Matou Meus Pais” o personagem é um cafajeste, com um tom de gigolô.
Carla Diaz incorpora trejeitos e maneirismos de Suzane. Apesar de parecer caricata em alguns momentos, basta assistir a alguma – das várias – entrevistas com a acusada na internet para perceber que a forma que ela age é, de fato, caricata. O jeito que Carla usa ao falar com outros, encolhendo o corpo e olhando sempre de baixo para cima, é muito similar a como Suzane se apresenta em entrevista com o “Fantástico” em 2006, por exemplo.
Apesar de entender que, por estar sendo baseado em fatos contados no julgamento, a “licença” que se daria em abordar o caso além do assassinato seria muito maior do que a que eles teriam até então, mas é necessário apontar que o filme acaba de forma abrupta, quase como se fosse interrompido. O primeiro indício das ideias de cometer o crime é apresentado nos últimos 20 minutos de filme e essa parte da história poderia ter sido mais explorada: sobre como tudo foi de fato orquestrado, mesmo através da mudança de perspectiva, os preparativos. Tudo isso aparentou ser muito corrido, com uma urgência que pode ter tido a intenção de mostrar como tudo foi rápido, mas que em tela, ficou mais rápido do que poderia.
Tanto “A Menina que Matou os Pais” quanto “O Menino que Matou Meus Pais” são bem realizados e bem produzidos, porém lidam com a quebra de expectativa de quem gostaria de ver algo que vai além do que foi mostrado em tela. Com boas atuações e uma boa recepção, provavelmente esse será o projeto que abrirá de vez a porta do cinema nacional para histórias de crimes reais.