Crítica | A Mulher na Janela

A Mulher na Janela
(The Woman In The Window)
Data de Estreia no Brasil: 14/05/2021
Direção: Joe Wright
Distribuição: Netflix

Quando um dos suspenses mais aguardados dos últimos meses acaba se mostrando um tanto quanto embaraçoso e exibe uma trama bem aquém do que poderia ter sido, é inevitável nos decepcionarmos. Mas, é importante analisarmos imparcialmente os resultados apresentados aqui e reconhecermos também as qualidades de um entretenimento como A Mulher na Janela. O novo thriller da Netflix é uma adaptação do livro homônimo de A. J. Finn, e conversa sobre questões como a influência de traumas e da credibilidade na busca pela verdade.

Acompanhamos a Dra. Anna Fox (Amy Adams), uma solitária psicóloga agorafóbica, em sua rotina repleta de filmes clássicos, remédios, taças de vinho e o costume de espionar sua vizinhança. Poucos dias após receber a misteriosa visita de sua nova vizinha, Jane Russell (Julianne Moore), Anna presencia um terrível crime na casa dos Russell, do outro lado da rua. Para provar a verdade, ela precisará lidar com a desconfiança da polícia, com suas próprias alucinações e, ainda por cima, com um provável risco de morte.

Amy Adams encarna devidamente uma personagem carregada de complexidades e detentora de um  passado traumático, que, embora seja uma versão simplificada da personagem do livro para esta adaptação cinematográfica, ainda consegue nos cativar com suas características, seus medos e inseguranças. A atriz transmite bem a falta de convicção de sua personagem, decorrente do exagero com bebidas alcoólicas e medicamentos.

A direção e a fotografia nos colocam exatamente na posição vivenciada por Anna, nos gerando propositalmente uma leve perda da noção de tempo e confusões sobre o que a personagem realmente viu e o que simplesmente imaginou. O design de produção não deixa de nos ambientar bem na residência depressiva de Anna, com cores frias e escuras que remetem bem à angústia e aos problemas psicológicos que a personagem carrega consigo.

É triste notar como a obra desperdiça seu poderoso elenco. Nos revoltamos ao ver mestres da atuação como Gary Oldman e Julianne Moore em papéis simplistas, pequenos e mal aproveitados. A própria Amy Adams tenta dar seu melhor diante de uma trama bem enxugada, que encurta diversas possibilidades e relações existentes no livro de A. J. Finn. E é nesse processo de adaptação que se encontram as maiores dificuldades e deslizes de A Mulher na Janela.

As causas ou mesmo as consequências da agorafobia de Anna não são abordadas de maneira satisfatória em nenhum momento, e, diferentemente do livro, no filme ela serve apenas como uma característica extra, arremessada na história. Essa política reducionista, em prol de um recorte mais específico sobre os principais acontecimentos da trama, não nos permite uma identificação profunda com a obra, sua personagem principal e suas intenções. Não nos vemos torcendo tanto por sua busca por justiça quanto gostaríamos.

Como em todo bom suspense, a trilha musical é essencial para nos causar a tensão necessária em certas cenas. Aqui, o trabalho de Danny Elfman se oferece de forma tímida, não chegando a decepcionar completamente o espectador, mas falhando fortemente em nos impactar da forma que deveria. As músicas são, na maior parte do tempo, quase apáticas em relação ao que Anna sente ou pensa.

Cometendo as escolhas narrativas erradas, o filme não consegue fugir da sensação de vazio deixada em seu terceiro ato, após uma conclusão pouco original. Se inspirando e mirando no sucesso obtido pela trama de Janela Indiscreta (1954), orquestrada pelo pai do suspense cinematográfico, Alfred Hitchcock, A Mulher na Janela não alcança sequer os picos de tensão atingidos por filmes que bebem da mesma fonte temática, como Paranóia (2007). Joe Wright comanda aqui uma produção repleta de complicações, que mesmo garantindo a diversão do espectador e o surpreendendo em alguns momentos não emociona seu público corretamente, pecando por não aproveitar seu roteiro e nem seus personagens e atores da maneira que mereciam.