Crítica | A Nuvem

A Nuvem
(La Nuée / The Swarm)
Data de Lançamento no Brasil: 06/08/2021
Direção: Just Philippot
Distribuição: Netflix

Desde que impressionou diversos críticos de cinema com sua estréia no festival internacional de cinema fantástico da catalunha (SITGES), onde inclusive foi premiado, A Nuvem, primeiro longa do diretor Just Philippot, criou uma grande expectativa nos fãs de suspense e horror ao redor do mundo. Foi quando a Netflix adquiriu os direitos mundiais de exibição do filme, em outubro de 2020, que muitos ficaram ainda mais ansiosos para conferir o título e descobrir se de fato a produção francesa consegue entreter tanto quanto sua peculiar premissa promete.

O filme segue Virginie (Suliane Brahim), uma agricultora e mãe solo de dois filhos, Gaston (Raphael Romand) e Laura (Marie Narbonne). Virginie cria gafanhotos comestíveis como fonte de proteínas, mas sua fazenda está à beira da falência. Após um acidente, ela descobre que seus gafanhotos desenvolveram um estranho gosto por sangue, e que isso consequentemente aumenta sua reprodutividade. Ao tomar a decisão de alimentá-los de forma estranha para sustentar sua família, Virginie sequer imagina o quão terríveis podem ser as consequências.

Trabalhando uma abordagem de direção e roteiro que mescla o terror psicológico presente nas consequências da obsessão desenvolvida pela personagem principal e o drama social que envolve uma família simples da França rural, A Nuvem expõe desde os primeiros minutos o ritmo lento por meio do  qual irá tecer toda sua narrativa. Em tempo de apresentar a relação entre os três membros da família e o cotidiano da mesma, o filme não demora para assumir seu primeiro ponto de virada e deixar um gostinho claro do que está por vir. Inclusive, mesmo que não consigamos decifrar todas as intenções do roteiro, muito aqui não faz questão de ser imprevisível, e ainda que este pareça um artifício tão importante em uma obra audiovisual do gênero, nesta obra não parece ser um grande empecilho.

Apostando em uma história de conflitos internos e externos, A Nuvem assegura cenas aflitivas, tensas e até perturbadoras para alguns dos espectadores mais sensíveis. Há um bom aproveitamento da personagem de Virginie, e muito disso se deve à brilhante interpretação de Suliane Brahim (da série Labirinto Verde, também da Netflix). Brahim evidencia o desespero, a angústia e a compulsão de sua personagem através de sutilezas, mas também boas explosões que aparecem nas horas certas. No entanto, boa parte do potencial horror atmosférico do filme não é desenvolvido como poderia, dando voz a subtramas e sequências que quase não agregam à trama.

O filme não economiza  nos efeitos sonoros, que embora não fujam tanto da linha convencional presente no cinema hollywoodiano, se tornam suficientemente interessantes para auxiliar em nossa imersão. Além disso, Philippot conserva enquadramentos favoráveis tanto para expor a crescente expansão da criação de gafanhotos de Virginie, quanto para nos transmitir por meio de closes e planos próximos as preocupações da mesma frente às adversidades enfrentadas por sua família.

Se mostrando um entretenimento que irá decepcionar fãs de horror que esperam por um terror mais “agressivo” e objetivo, o novo thriller psicológico francês da Netflix deixa a desejar no gore e na ousadia. Mesmo assim, se configura como uma interessantíssima opção para quem busca por uma história genuinamente original, repleta de boas cenas e de um ambiente que se torna gradativamente mais pesado, conforme os resultados das atitudes tomadas pela protagonista começam a se tornar inevitáveis.