Crítica | A Última Chamada

A Última Chamada
(The Call)
Data de Lançamento no Brasil: 01/09/2022 (Exclusivo Cinemark)
Direção: Timothy Woodward Jr.
Distribuição: Cinemark Brasil S.A.

Tantos de nós sonhamos, por tanto tempo, em ver Tobin Bell e Lin Shaye juntos em um longa de terror, intérpretes estes consagrados e amados pelos fãs de horror desde que se popularizaram graças a franquias introduzidas pela dupla James Wan e Leigh Whannell, Jogos Mortais (2004-) e Sobrenatural (2010-), respectivamente. Sabendo-se disso, resta dizer que temos aqui uma notícia boa e uma ruim. A boa é que esse dia chegou. A ruim é que chegou através de um longa independente bem fraco, repleto de problemas narrativos difíceis de engolir. 

O diretor Timothy Woodward Jr. brinda (ou tenta) o cinema estadunidense de baixo orçamento com uma história que gira em torno de um grupo de amigos de uma pequena cidade que deve sobreviver à noite na casa de um casal sinistro, depois que um trágico acidente os leva até a porta do casal. Neste grupo de amigos, nos identificamos principalmente com o protagonista Chris (Chester Rushing, de Stranger Things) e sua revoltada colega de turma, Tonya (Erin Sanders, eterna “Quinn Pensky” da série infantojuvenil Zoey 101), que basicamente dá início a todo o conflito da trama.

A Última Chamada é um daqueles filmes que, para despertar o mínimo de curiosidade em seu público, necessita de uma sinopse um pouquinho mais informativa. Portanto, fica o alerta para possíveis spoilers a partir daqui. 

Após anos suspeitando de que uma idosa chamada Edith Cranston (Lin Shaye) foi a responsável pelo desaparecimento de sua irmã mais nova, Tonya resolve se juntar ocasionalmente com seu grupo de amigos para arremessar objetos na casa de Edith e proferir ofensas. Após Chris, um jovem recém chegado à cidade, passar a integrar o grupo de Tonya, eles resolvem importunar Edith mais uma vez. É quando, após uma séria discussão, o grupo de amigos descobre (através do jornal local) que Edith morreu em sua casa no mesmo dia da discussão. Preocupados, os jovens ainda recebem, um a um, uma ligação de Edward (Tobin Bell, novamente querendo “jogar”), esposo de Edith, que os convida para uma conversa na sala de estar de sua casa.

Depois de demonstrar desprezo pelas atrocidades cometidas pelos jovens ao longo dos anos, Edward propõe que todos eles realizem uma única tarefa, como último pedido de Edith antes de falecer: subir as escadas e fazer uma ligação para um número, que seria do telefone que ele mesmo afirma ter enterrado junto com Edith. Se todos os jovens toparem, um por vez, realizarem tais chamadas, eles receberão ainda um prêmio em dinheiro. Após certa desconfiança, todos topam, seguindo uma ordem proposta por Edward. O que eles sequer imaginam é que tais chamadas abririam um portal para um mundo sobrenatural de traumas, espíritos e horror, capaz de tirar suas vidas.

Apesar de uma construção elaborada às pressas, que deixa  algumas pontas soltas quanto aos detalhes da vida pessoal de cada personagem e toma algumas decisões improváveis, o longa de Woodward Jr. introduz muito bem suas regras e instaura gradativamente uma tensão. Esta, embora posteriormente não resulte em bons frutos, ainda faz do primeiro ato de A Última Chamada sua maior força. Assim que adentramos o segundo ato do filme, somos carregados por uma confusão visual e um terror calcado nos sustos e nas faces aterrorizantes de espíritos (produzidas com ótima maquiagem e efeitos práticos), que significam, para cada um dos jovens, um trauma de suas infâncias e adolescências.

O grupo de jovens, composto também pelos irmãos Zack (Mike C. Manning) e Brett (Sloane Morgan Siegel), é transportado para um mundo horripilante controlado por Edith, determinada a torturá-los em busca de vingança. É neste limbo muitas vezes repetitivo de horrores visuais, perturbações e luta por suas vidas que todo o segundo ato do longa se constrói. Nesse contexto, se destaca mesmo a cinematografia do diretor de fotografia Pablo Diez, mais especificamente seu controle de luzes, cores e sombras, que mesmo com um orçamento reduzido, extrai bons resultados.

De resto, sentimos um imenso desconforto ao ver o potencial da direção se esvair diante do descuido do roteiro escrito por Patrick Stibbs em elaborar satisfatoriamente a relação entre os personagens. Enquanto a relação do próprio protagonista Chris com sua mãe parece ser complexa e difícil, ainda que não nos seja apresentada de maneira ideal e convincente, os irmãos Mike e Brett dividem espaço de tela no mesmo trauma específico construído por Edith, de quando eram violentados por um pai abusivo. Além de apostar em estereótipos de personagens para economizar tempo de tela justificando suas personalidades e decisões, o longa ainda promove circunstâncias inverossímeis que refletem no envolvimento do espectador com a história, que se vê inevitavelmente despreparado para aceitar e digerir um plot twist pra lá de duvidoso.

É certo que, desde os primeiros minutos de longa, vemos que o realismo e a plausibilidade não são os pontos fortes de A Última Chamada. A obra busca um entretenimento rápido e passageiro de horror instantâneo no público, que deve se entregar mesmo diante de situações jocosas. Ainda assim, pela originalidade de sua premissa, seu casting competente e de certa forma intimista/afetivo, além de um design de produção que impressiona diante das condições financeiras de um filme B, o longa não se mostra uma total perda de tempo. Sem dúvidas evidencia, além disso, uma jogada de marketing interessante da Cinemark Brasil S.A. em conseguir trazer, de forma exclusiva, um longa norte-americano independente como este às salas de cinema nacionais.