Crítica | A Viúva das Sombras

A Viúva das Sombras
(Vdova / The Widow)
Data de Estreia no Brasil: 04/03/2021
Direção: Ivan Minin
Distribuição: Paris Filmes

O cineasta e realizador Svyatoslav Podgaevskiy, responsável por algumas das mais conhecidas produções de horror russas dos últimos anos, como ‘A Noiva’ (2017) e ‘A Sereia – Lago dos Mortos’ (2018), decide dessa vez assinar a produção de uma história escrita e dirigida pelo estreante Ivan Minin, que por fim acaba sendo pouco diferente das histórias escritas e dirigidas pelo próprio Podgaevskiy. O mais novo terror russo, A Viúva das Sombras, tem o potencial de afastar o espectador logo no início por sua estética amadora de filmagem, que ao mesmo tempo pode cair no gosto de muitos. Mas, se te fisgar logo no começo, saiba que é uma questão de tempo (e não muito) para te fazer repensar sua decisão de continuar assistindo.

Em uma área densamente arborizada ao norte de São Petersburgo, as pessoas estão desaparecidas há décadas. Os poucos cadáveres encontrados estavam nus. Para piorar, lendas locais parecem sugerir uma influência sobrenatural no local. Em 14 de outubro de 2017, um grupo de voluntários saiu para a floresta em busca de um adolescente desaparecido. Quando a comunicação com eles é perdida e tragédias começam a acontecer, aqueles que sobrevivem percebem que a nova prioridade é sair de lá o mais rápido possível.

Utilizando de pequenos recortes documentais, Viúva das Sombras se introduz de forma curiosa, nos gerando expectativas de uma história que sustente temas relacionados à mitologia russa ou mesmo à lenda urbana do país. A forma como seus interlocutores nos apresentam tais histórias nos faz realmente querer que o filme não acabe sendo metade do desastre que é. Porém, é logo após um primeiro ato bem construído (ainda que previsível), que os infortúnios da obra começam a se anunciar.

O numeroso elenco do filme não sustenta seus tediosos (e muitas vezes dispensáveis) personagens por mais de 20 minutos, o que, além de nos impedir de nos importarmos com a vida dos mesmos, nos gera antipatia pela preguiça do roteiro, que não se dedica nem ao menos a elaborar traços de personalidade minimamente interessantes, o que poderia ter sido facilmente evitado caso a produção apostasse em menos personagens/atores e consequentemente possuísse um tempo de tela maior para desenvolver os poucos realmente necessários para nos gerar interesse pela história. 

Existe aqui um conceito ultrapassado, presente em diversos filmes de horror até os dias atuais: a ideia de que, ao oferecer pouquíssimas e superficiais características sobre a possível entidade sombria e nos arremessar rapidamente ao dinamismo desenfreado de personagens perdidos em uma floresta, simplesmente buscando sobreviver a todo custo, isso seja o suficiente para nos cativar por mais de duas ou três cenas, o que não poderia estar mais errado. Sem uma apuração do passado ou bagagem daqueles personagens, seus objetivos individuais bem apresentados e uma atmosfera que realmente nos cause medo, fica difícil se entregar em qualquer trama que insinue basicamente a mesma sensação a todo tempo e de forma descaradamente repetitiva, por meio de sustos baratos, abdicando de qualquer ideia original.

Na maior parte do tempo, o amadorismo da direção de Ivan Minin vergonhosamente não nos dá nenhuma pista do lugar em que os personagens se encontram. Embora muitos tentem justificar, defendendo a ideia de que o desnorteamento é necessário para este tipo de abordagem, A Viúva das Sombras eleva essa desorientação a um nível inconcebível, que nos confunde e nos frustra principalmente pela hipocrisia de permitir que seus personagens em vários momentos tenham completa noção de onde estão, ainda que o espectador não saiba. Essa barreira entre o que sabemos de fato e o que os personagens sabem e conhecem acaba comprometendo muito nossa experiência.

A impressão que fica é que o diretor, ao lado de seus roteiristas colaboradores, descobriu recentemente – ou ao menos redescobriu – o sucesso estadunidense A Bruxa de Blair (1999) e tentou adaptá-lo em uma versão menos coerente, extremamente menos eficiente e repleta de problemas estruturais. Poderia este ser um projeto finalizado às pressas por conta da falta de recursos? Ou uma opção dos produtores em cortar boa parte do material captado para tornar o entretenimento mais direto e dinâmico? Aparentemente, jamais saberemos. O que sabemos é que A Viúva das Sombras não consegue nem sequer se aproximar do resultado que pretendia alcançar, falhando em manter a curiosidade que havia plantado tão bem na mente de seu público em seus primeiros minutos.