Águas Rasas
(The Shallows)
Data de Estreia no Brasil: 25/08/2016
Direção: Jaume Colet-Serra
Distribuidora: Sony Pictures
Contando com um orçamento baixo para os padrões de um filme de Hollywood (17 milhões de dólares), “Águas Rasas” é uma obra que se sai bem sempre que lembra de tal orçamento, utilizando da montagem e direção inteligente de seu realizador para criar efeitos interessantes de custo baixo, mas justamente quando o filme se rende aos efeitos digitais toscos de pós-produção é que ele empalidece, soando completamente artificial. Algo frustrante quando olhamos para a obra num todo e percebemos que, contando com uma função de entretenimento banal, o filme executa sua simples premissa de maneira eficiente com uma linguagem interessante.
Isto é um grande feito por parte de seus realizadores, já que o roteiro é relativamente simples, contando com muletas dramáticas gritantes: Nancy Adams é uma estudante de medicina que acaba de passar por um trauma familiar quando vai para uma praia secreta para lidar com seu período de luto, passando o dia surfando. Eis que um tubarão ataca a garota e esta se vê isolada sobre uma grande pedra no meio do mar, sendo cercada pelo predador sempre que tenta escapar. Logo se percebe que o filme possui uma proposta muito simples de filme de sobrevivência atrelado a momentos de tensão com sustos, sendo realmente desnecessária toda a carga dramática de redenção que o local possui – algo que chega ao nível do ridículo em sua sequencia final.
Porém, se a nível de história a projeção soa simplória, logo se vê que é extremamente complexa para a direção de Jaume Collet-Serra que possui a tarefa de salpicar a trama com tensão e sequencias de ação, ao mesmo tempo que se vê preso junto da protagonista a uma área geográfica que dificulta muito a inventividade de qualquer diretor. Collet-Serra se sai muito bem ao conseguir estabelecer um ritmo constante ao filme (ainda que aqueles que não são fãs de Surf poderão se sentir entediados com a quantidade de sequencias do esporte no primeiro ato), apostando ainda numa nova linguagem de mostrar elementos presentes numa tela de celular – seja por ligações, fotos, ou vídeos – sem que o filme pare para filma a tela de eletrônicos, já que o diretor opta por inserir em seus próprios enquadramentos o que se passa na tela dos aparelhos.
Outro elemento de extrema importância para o funcionamento do filme é a performance sólida de Blake Lively como a protagonista, já que a atriz demonstra o carisma necessário para deixar o espectador confortável em torcer por ela ao invés do tubarão. Além disso, em momento algum se duvida tanto da fragilidade da moça quanto a fera que lhe atacou, quanto da possibilidade de Nancy conseguir se livrar da situação, algo que dá um senso de urgência para a narrativa já que tememos pelo destino da garota. Em meio a essa perspectiva de clima de tensão, a trilha sonora de Marco Beltrami (também compositor de filmes como “Pânico” e “O Exterminador do Futuro”, por exemplo) se mostra funcional, porém utilizada de maneira pouco coesa, já que não há uma sensação de um crescente da trilha sonora ao longo da história, tendo somente partes específicas mixadas em pontos estratégicos.
No fim das contas, “Águas Rasas” é um filme singelo que desperta mais atenção pela forma do que pelo conteúdo, e mesmo assim não é nada revolucionário. Um passatempo esquecível com boas sequencias de ação que chegam ao nível do completo absurdo (o desfecho dos acontecimentos é uma solução fácil por parte dos roteiristas), mas sempre sendo um filme completamente inofensivo. Com um tubarão digital bem construído e que aparece gradativamente (numa das muitas influências de “Tubarão” sobre este filme) o longa causa embaraço nas demais sequencias de ação digital, inclusive numa determinada sequencia na qual um susto é estragado pela presença de um golfinho com um aspecto tão artificial que remete á uma obra do canal SYFY, e garanto thriller de ação nenhum deseja tal comparação para si.