Crítica | Amizade Maldita

Amizade Maldita
(Z)
Data de Estreia no Brasil: 03/12/2020
Direção: Brandon Christensen
Distribuição: Imagem Filmes

O que dizer sobre o uso dos famosos “amigos imaginários” em filmes de horror? Porta para temáticas como espíritos, entidades malignas e demônios, esse subtexto do horror parece ter trazido tudo o que poderia ter nos apresentado, embora tenhamos a sensação de que “só parece”. De fato nunca é impossível surgir algum produtor, roteirista ou cineasta que beba das fontes dessa premissa, mas a reinventando, ainda que superficialmente. É nessa expectativa que damos chances a obras que mesmo desde os trailers dão a entender que serão simplesmente replicadas de outras produções, muitas vezes tão ruins quanto. Infelizmente, assistir Amizade Maldita é garantir que seus otimismos ou qualquer esperança de algo novo sejam arremessados descarga abaixo.

No clássico enredo, como já dito, um casal passa a notar que seu filho de oito anos fez um novo amigo imaginário, chamado “Z”. No momento em que uma suposta simples brincadeira de criança começa a desencadear uma série de eventos sombrios, o casal percebe que Z pode ser alguma coisa que existe não apenas na cabeça do filho.

É possível notar um respiro de boas intenções ao longo do roteiro e da direção do filme. O frustrante é saber que essas, poucas, não duram sequer uma cena. Os péssimos efeitos especiais e a preguiça (além da falta de ousadia) do roteiro são capazes de subverter o que até então se construía de forma minimamente interessante.

Desde o lento primeiro ato, percebemos que a maneira como a direção opta em conduzir a história se difere um tanto dos demais filmes de terror com viés comercial. Isso se evidencia na forma como expõe o suspense entorno da figura misteriosa, e no fato de não buscar nos assustar a cada 5 minutos de filme. Ainda assim, embora isso pudesse significar uma abordagem interessante do horror que ronda aqueles personagens, simplesmente não acontece. A obra se coloca à esquerda de tantos filmes esquecíveis do gênero. Tentando replicar diversos clichês já conhecidos pelo público, Amizade Maldita ainda consegue ter sérios problemas de ritmo, sem saber explorar o drama nem o horror vivenciado pela famílias.

O diretor Brandon Christensen, responsável pelo regular “O Enviado do Mal” (2017), não nos envolve na trama e não nos apresenta nenhum diferencial em seu calculável filme, a não ser cerca de duas cenas que de fato chegam a ser quase criativas. A trilha musical, composta por Brittany Allen, que vem se destacando desde o ótimo “What Keeps You Alive” (2018) como uma das mais promissoras compositoras de trilhas de horror, tem seus bons momentos. Aqui as músicas ajudam a manter a tensão do espectador e a curiosidade do mesmo a respeito dos estranhos acontecimentos envolvendo “Z”, a provável entidade. Mas não sustenta nem de longe o interesse do espectador, que se dispersa gradativamente.

Meio a pontos de virada previsíveis e diálogos pra lá de comuns, Amizade Maldita perde muito de seu potencial em de fato causar algum incômodo, medo ou qualquer susto memorável. Durante boa parte do filme, nos impressionamos e nos decepcionamos com tamanha inverossimilhança existente nos eventos da narrativa. Sem qualquer traço de originalidade e com uma trama focada na objetividade e no puro pragmatismo do roteito, o plausível nem sequer é cogitado. A obra acaba mais nos cansando do que agradando.