Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil
(Crime Scene: The Vanishing at the Cecil Hotel)
Data de Estreia: 10/02/2021
Criado por: Joe Berlinger
Distribuição: Netflix
Algumas histórias possuem o poder de intrigar tanto que muitas vezes acabam se tornando mais uma lenda urbana do que um fato verídico. Essa transição de fato para lenda se dá devido a falta de informações sobre determinados acontecimentos (como, por exemplo, a criação de diversos deuses para explicar cada um dos fenômenos existentes nos primórdios da humanidade) ou pela tentativa de fazer com que o ocorrido se torne mais grandioso do que ele de fato é.
Esse fenômeno acontece, de certa forma, com o caso relatado no mais novo documentário da Netflix, “Cena do Crime – Mistério e Morte no Hotel Cecil”, que escolhe uma das mais recentes histórias a usar de pano de fundo o hotel citado no título, uma história que mesmo após oito anos continua carregada de misticismo e teorias conspiratórias.
O documentário de quatro episódios, com cerca de uma hora cada, conta a história do desaparecimento e morte de Elisa Lam, que, durante um mochilão pelos EUA, foi dada como desaparecida por sua família. Com o conhecimento de que ela estava hospedada no “Stay on Maine”, em Los Angeles – local que é integrado ao Cecil Hotel -, a investigação começou nesse ponto. Seu corpo foi descoberto 19 dias depois de seu desaparecimento, na caixa d’água do hotel.
O Cecil foi construído em 1924, um grandioso hotel de luxo preparado para elevar o status hoteleiro. O que os 3 fundadores não esperavam era a Grande Depressão dos anos 30. Como um bom produto capitalista, o Cecil se adaptou à nova realidade do país, tornando-se um espaço de baixíssimo valor para pernoites. A partir daí, o hotel teve seus piores dias, dias estes que são responsáveis por colocar o prédio em um patamar de “assombrado” e “amaldiçoado”.
O documentário é mais esticado do que deveria. Apesar de sua longa duração servir para entendermos as características territoriais nas quais o hotel se situa, narrando todo o histórico daquela área da antiga Los Angeles até a época do caso, é inegável que ele se estenda por demais em teorias que são verdadeiros becos sem saída. Ao invés de condensar os dados mais importantes sobre as principais teorias, ele procura mostrar tudo nos mínimos detalhes, o que acaba perdendo um pouco a atenção de quem assiste.
Também existe o problema – e talvez esse seja uma implicância mais pessoal – que é a demasiada dramatização dos personagens, não apenas nas reconstruções, mas em todas as frases de efeito dos entrevistados, que não soam nada naturais.
“Cena do Crime” é interessante para quem vê o caso Elisa Lam pela primeira vez. É de fato um apanhado de teorias que podem ser interessantes para quem está sendo introduzido ao caso aqui, mas gastar quase 30 minutos de episódio focado apenas no vídeo do elevador é um exagero. Seria mais interessante acompanhar a investigação de uma forma mais policial e menos focada em youtubers.
Mesmo após o caso ter sido solucionado como um “acidente”, é interessante como ele continua mexendo muito com as pessoas. O fato de tudo se passar num hotel conhecido por seu histórico de assassinatos e suicídios não ajuda, mas ele de fato possui muitas inconsistências que tornam todo o furor compreensível.
Como entrevistados temos a antiga gerente do Hotel Cecil, um dos investigadores, o funcionário que achou o corpo de Elisa, um casal que foi uma das peças principais para que o corpo fosse encontrado, além de um dos suspeitos de assassinar a jovem canadense. Apesar de todas as claras intervenções do diretor na narrativa, é interessante ver como essas pessoas foram afetadas pelo caso e ajudam a desmistificar muitos pontos na história.
Apesar do caso estar encerrado, existem muitas coisas que são realmente intrigantes. Uma delas é sua ligação com o filme “Dark Water” de 2005, que apresenta diversas coincidências com o caso de Lam.
“Cena do Crime – Mistério e Morte no Hotel Cecil” pega um dos casos mais famosos do século em uma das propriedades reais mais assombradas e faz um trabalho mediano. Nada memorável ou que faça jus a toda mística do caso real, mas interessante para quem quer conhecer um dos maiores mistérios do século XXI.
