Crítica | Convenção das Bruxas

Convenção das Bruxas
(The Witches)
Data de Estreia no Brasil: 19/11/2020
Direção: Robert Zemeckis
Distribuição: Warner Bros.

O fantástico sempre caminhou ao lado do horror. Existe um pouco de medo quando nos fascinamos com algo que foge do natural e do nosso conhecimento. Isso é instintivo. Sabendo disso, muitas obras artísticas e, principalmente o cinema, usaram e abusaram desse artifício para criar, ao mesmo tempo, tensão e deslumbre em seus espectadores. O clássico Convenção das Bruxas (1990), trouxe humor e terror em uma história divertidíssima que agradou o grande público sem dificuldades. Readaptar uma produção imortalizada por cinéfilos e pela crítica especializada, é no mínimo bem trabalhoso. Obviamente só poderia sobrar na mão de um gênio como Robert Zemeckis, a responsabilidade de reimaginá-la 30 anos depois. E também é claro que esse fator, junto a fortes nomes mexicanos por trás (os mestres Alfonso Cuarón e Guillermo del Toro), nos gera uma grande espectativa que nem sempre é cumprida ao longo de 105 minutos de tela.

Na história já conhecida pelo público (mas com pequenas e pertinentes alterações que denotam problemas sociais), acompanhamos um garotinho que após perder seus pais em um acidente, vai viver com sua avó. Durante uma estadia em um hotel, ele descobre que um grupo de bruxas está presente para realizar uma convenção, buscando transformar todas as crianças em ratos.

Existe no filme uma saudável relação entre o humor calcado na ironia dos eventos, o drama vivenciado pelos personagens e as cenas tensas que remetem ao terror infantojuvenil. Mas apesar de garantir que estes gêneros não se prejudiquem em si, essa relação nem sempre é usufruida da melhor forma. Muitos personagens interessantes aqui são subaproveitados, enquanto algumas boas cenas duram pouco tempo e outras (não tão boas) se tornam mais cansativas.

Ainda contra as limitações do roteiro, o mestre Zemeckis como sempre consegue nos transportar com facilidade para a história, garantindo uma escolha de planos que não apenas ajuda na tensão das cenas, como também impressionam pela habilidade em reforçar, através da mise-en-scene, o perigo representado pelas bruxas, e a posição de desvantagem vivida pelos ratos (antes crianças), e Octavia Spencer, uma humilde senhora. Se Anne Hathaway nunca esteve tão bem como “A Grande Bruxa” uma vilã detestável, sarcástica é extremamente maligna (papel eternizado por Anjelica Huston), é Spencer quem ganha nossa atenção nos momentos mais comoventes da trama. O elenco secundário também se sai bem, principalmente Stanley Tucci, e a narração de Chris Rock dá o ritmo necessário para nos envolvermos comica e dramaticamente com a história.



A fotografia e essencialmente toda a direção de arte se preocupa desde as primeiras cenas (incluindo flashbacks) em contar a história através de cores, objetos e figurinos que ajudam a criar uma identidade própria para a obra, sem forçar uma estilização muito exagerada mas abrilhantando os olhos dos espectadores mais atentos. Mas é a trilha musical composta pelo incrível Alan Silvestri, que nos causa os sentimentos mais variados como estranhamento, medo, adrenalina e ainda nos sensibiliza como sempre com sua orquestra de violinos e harmonias melodramáticas.

Como já esperado, devido a se tratar de uma refilmagem de uma obra querida por tantos, a estrutura do roteiro não traz novidades na forma de se contar uma história sobre bruxas. Apoiando-se em estereótipos do gênero e do tema, a obra perde parte de seu potencial mas ainda consegue divertir e emocionar seu público, levantando questionamentos válidos sobre racismo e aceitação.

Ainda que entretenha crianças e incite reflexões sobre não julgar pessoas por sua aparência e fazer o possível para ajudar o próximo, a obra decepciona e muito ao enfatizar efeitos especiais que substituem os fantásticos efeitos práticos do original. Nos é deixado a sensação de que faltou “magia” e “feitiços” no roteiro de Convenção das Bruxas, capazes de fazer jus ao trabalho de tantos nomes oscarizados aqui presentes, seja por trás da câmera, ou na frente delas.