Crítica | Duna

Duna
(Dune)
Data de Lançamento: 21/10/2021
Direção: Denis Villeneuve
Distribuição: Warner Bros. Pictures

Em agosto de 1965, Frank Herbert publicou um dos livros de ficção científica mais influentes do século XX. O sucesso garantiu mais 5 continuações escritas pelo mesmo autor e expansões publicadas por seu filho Brian, que exploram ainda mais esse universo tão excêntrico. Desde sua publicação, Duna já recebeu 2 adaptações, uma para o cinema e outra para a TV. Duna (1984), dirigido por David Lynch, é um filme que sofreu desde a pré-produção, não possibilitando um resultado satisfatório – mas ainda assim é uma produção interessante. Já a minissérie em três episódios da BBC, Duna (2000), busca ser mais fiel aos acontecimentos do livro, mas acaba mudando a essência de alguns personagens e sofre com o CGI típico da época – mas, de modo geral, agrada aos fãs do livro.

Desde que começou-se a especular uma nova adaptação, já se sabia, desde o início, que se trataria de um filme épico. Não há outra forma de abordar uma ficção-espacial de conspiração política cujo cenário principal é um planeta desértico com vermes gigantes. A escolha de Dennis Villeneuve para a direção foi muito acertada. O diretor sabe conduzir de maneira épica e grandiosa – o longa de 2021 tem muitas similaridades de estilo com Blade Runner 2049 (2017).

Outro grande acerto foi o elenco. Timothée Chalamet é um excelente Paul Atreides. Ele consegue trazer toda a complexidade de um jovem nobre introvertido que se vê em meio a planos muito maiores que ele, dos quais não tinha conhecimento. Além disso, ele se confronta com suas próprias habilidades prescientes que despertam devido ao contato com a especiaria. Chani (Zendaya) e Duncan Idaho (Jason Momoa), apesar do pouco tempo de tela, tem presenças muito marcantes.

O grande destaque vai para o casal Leto (Oscar Isaac) e Jéssica (Rebecca Ferguson). O duque sabe que o planeta-feudo que ganhou está acompanhado de uma armadilha, mas ainda acredita que pode reverter a situação a partir de uma aliança com o povo local, os fremen. Jéssica faz parte da irmandade Bene Gesserit, que possui algumas intensões muito particulares – e que perpassam séculos de planejamento. Ela é uma personagem dividida entre sua família e suas obrigações religiosas. Ferguson é uma atriz muito competente e que consegue expressar todos os dramas de sua personagem com poucas palavras.

Os funcionários mais próximos ao duque, Thufir Hawat (Stephen McKinley Henderson) e Gurney Halleck (Josh Brolin) tem boas participações que justificam suas presenças no filme. A solução para mostrar a habilidade dos mentat, os computadores humanos, como Thufir, os olhos que ficam brancos enquanto a “computação” é feita, foi uma solução muito criativa para mostrá-lo como diferente. Gurney é um personagem bastante brusco e fiel aos Atreides. Seu outro lado, o de músico, não foi explorado, mas acaba não fazendo nenhuma falta.

O único núcleo que fica subdesenvolvido é o dos Harkonnen. O barão interpretado por Stellan Skarsgård é conspirador e cruel. Cada vez que aparece ele rouba a cena. O mesmo não podemos dizer de Rabban (Dave Bautista). Quando Bautista contracena com Skarsgård é muito destoante. Já Feyd, importante antagonista, não aparece ainda. Villeneuve optou por apresentá-lo somente na sequência – uma estratégia que pode ampliar a sua imagem de ameaça.

Não tendo a pretensão de apresentar o universo em sua totalidade, o que deixaria o filme muito confuso, o roteiro optou por introduzir personagens, conceitos básicos e estabelecer a estética da saga. É claro que não há uma conclusão, mas ela não faz falta. O longa é honesto e já deixa claro no seu início que se trata da primeira parte de uma história. O ponto em que Duna (2021) termina é justamente quando acontece uma mudança no personagem de Paul. Considero outra escolha muito acertada. Esse primeiro capítulo da história cumpre seu papel e nos deixa ansiosos para a conclusão.

O ritmo é mais lento se comparado a outros blockbusters, mas está longe de ser um filme monótono. Muita coisa acontece, há sempre um clima de uma possível conspiração vir à tona, uma batalha que se aproxima, estratégias políticas que se traçam, vermes gigantes que atacam… Enfim, é um excelente filme que tem tudo para iniciar a saga da década. Duna (2021) é uma experiência cinematográfica muito satisfatória.

Na parte técnica, apenas elogios. A única cena em que o CGI escorrega um pouco é em uma visão de batalha que Paul tem. As armaduras douradas, apesar de muito bonitas, ficaram com um ar falso. Mas, repito, é a única cena com ressalvas. A parte de edição e mixagem de som dá um verdadeiro show e com certeza será indicada ao Oscar. Os efeitos especiais são muito competentes e também possuem grandes chances de levar o prêmio da academia.

Uma única ressalva fica quanto à paleta de cores escolhida. Os tons mais pastéis poderiam ter sido substituídos por cores mais vidas. O efeito dos olhos azuis dos fremen está muito bem feito – essa parte nos pôsteres e demais materiais de preocupação preocupava. Porém, poderiam ter optado por um azul mais vivo. Mas isso é apenas uma questão de gosto que em nada altera a qualidade do longa de Villeneuve. Esperemos agora pela conclusão desse épico e torcer para os outros livros também ganhem uma adaptação.