Freaky – No Corpo de Um Assassino
(Freaky)
Data de Estreia no Brasil: 10/12/2020
Direção: Christopher Landon
Distribuição: Universal Pictures
Se na franquia “A Morte Te Dá Parabéns”, o diretor Christopher Landon aborda uma história em cima de um famoso artifício de roteiro, conhecido como “o dia da marmota” (técnica utilizada para repetir o dia que um personagem vivencia infinitamente), dessa vez, como o próprio subtítulo do filme no Brasil sugere, Landon (dando continuidade em sua parceria com a Blumhouse Productions) oferece seu talento para recriar outro formato de enredo bem conhecido pelo público: a “troca de corpos”.
Freaky – No Corpo de Um Assassino traz a protagonista Millie (Kathryn Newton), uma excluída estudante do ensino médio que perdeu seu pai recentemente, que após ser perseguida e quase assassinada por um serial killer local conhecido como “O Açougueiro” (Vince Vaughn), acorda no dia seguinte no corpo do psicopata, enquanto o mesmo, acorda em seu corpo. Diante de uma corrida contra o tempo, agora a jovem, presa dentro da aparência de um maníaco de meia idade procurado por toda a cidade, precisa contar com a ajuda de seus amigos para descobrir como voltar ao seu corpo, enquanto o assassino continua à solta na pele de uma garota aparentemente inofensiva.
O diretor Christopher Landon utiliza mais uma vez da ironia existente nos clichês de filmes de horror para trazer humor, enquanto nos envolve em um trama de assassinatos com mortes criativas, e um suspense valioso. A variação de personalidade dos personagens de Kathryn Newton (que já trabalhou antes com o diretor, na época roteirista, em Atividade Paranormal 4) e Vince Vaughn é um dos pontos mais fortes do filme. Quando mudam desde a forma de andar até a inocência (ou falta dela) através do olhar, aliados às circunstâncias que cada um vive, é o que traz comicidade e tensão para o filme.
A diversão de um slasher movie aliada à juventude do humor presente no roteiro, garante ótimas cenas, que por sinal, em alguns planos surpreendem pela precisa direção de enquadramentos e pelo design de produção. Bear McCreary, um dos mais frequentes compositores de trilhas de horror, traz aqui músicas convencionais que servem bem a necessidade da trama, mas que não se destacam em nenhum momento. É curioso que mesmo tendo uma estrutura de narrativa muito semelhante aos filmes anteriores do diretor, utilizando de inúmeras técnicas já vistas, a obra consegue encontrar seu ritmo e sua originalidade, trabalhando com arquétipos de personagens que nos geram sensações contraditórias, como o fato de nos identificarmos com os objetivos de Millie e também do assassino, uma vez que este tira a vida de personagens detestáveis que faziam parte do cotidiano de Millie.
A imprevisibilidade definitivamente não é o forte de Freaky – No Corpo de Um Assassino. Apesar de muitos diálogos e eventos calculáveis, o maior problema do filme está na falta de verossimilhança, que vai desde o simples fato de uma adolescente bonita, loira e de olhos azuis sofrer bullying, até a forma como as situações se desenvolvem. Por mais que tentemos abdicar de nosso senso lógico e entrar uma história que busca um simples entretenimento, a narrativa conduz um suspense que em certas horas demanda um contexto mais sério, o que não abre espaço para que não nos entreguemos totalmente aos acontecimentos, e que por sua vez, devido aos motivos citados, muitas vezes nos deixa frustrados.
Contudo, apesar de muitas cenas pouco críveis, a obra esbanja uma sagacidade e um dinamismo impressionante entre cenas cômicas e tensas, sem perder seu ritmo. Freaky – No Corpo de Um Assassino agrada o público jovem e convence por sua ousadia em abordar um subgênero tão obsoleto da comédia (a troca de corpos) dentro de um cenário de horror e assassinatos.
