Crítica | Gêmeo Maligno

Gêmeo Maligno
(The Twin)
Data de Lançamento no Brasil: 11/08/2022
Direção: Taneli Mustonen
Distribuição: Paris Filmes

Sabe-se, há tempos, que nem só de paisagens estonteantes pode se viver o cinema. É indiscutível que Gêmeo Maligno nos impacta, nos seus primeiros 15 minutos, pelos belos planos abertos que o diretor Taneli Mustonen utiliza para ambientar o espectador diante de uma região afastada na Finlândia, com imagens de tirar o fôlego. Evidente que, devido ao potencial geográfico, dificilmente os planos abertos em externas não seriam visualmente atrativos, porém isso não é o mesmo que dizer que só foi preciso apontar a câmera e “dar o REC”. Há sim mérito na direção e na fotografia. Entretanto, após 109 longos e dolorosos minutos de tela, essa é tristemente uma das únicas qualidades que nos vêm à mente quando tentamos, esforçadamente, nos lembrar dos pontos positivos do longa. Já em sua premissa, o filme esboça parte do caminho previsível e tedioso que irá percorrer. 

Enquanto tentam se recuperar de um trágico acidente que matou seu filho, Nathan (Tristan Ruggeri), Rachel (Teresa Palmer) e Anthony (Steven Cree) resolvem se mudar para a antiga cidade de infância de Anthony, e se concentrar em seu filho gêmeo sobrevivente, Elliot (Tristan Ruggeri, obviamente). Em pouco tempo, o que se inicia como uma possibilidade de cura e isolamento no campo escandinavo transforma-se em uma luta desesperada pela vida de seu filho, quando uma entidade que afirma ser seu irmão gêmeo morto começa a ter contato com Elliot, e consequentemente, a possuí-lo.

De cara, a relação de Anthony com sua cidade natal, ou mesmo com seu filho Elliot, não nos é muito bem esclarecida. Da mesma forma, o processo de luto dos personagens parece raso até demais, deixando lacunas que simplesmente não convencem e acabam frustrando os espectadores mais exigentes, incapazes de relevar tais inconsistências narrativas. Teresa Palmer definitivamente tira leite de pedra com uma interpretação que transborda confusão e instabilidade emocional, mas o experiente Steven Cree e o novato Tristan Ruggieri simplesmente reagem frente às adversidades enfrentadas pela protagonista, deixando a desejar na maioria de suas cenas. Quem brilha aqui é a coadjuvante e veterana Barbara Marten, que interpreta Helen, uma provável aliada da personagem principal que busca abrir a mente de Rachel para o sobrenatural e para o que de mais sombrio a aguarda. Mas sua personagem, também a mais interessante entre os demais, não é aproveitada como poderia, rendendo somente algumas boas porém esquecíveis cenas.

Sem saber definir se trilha uma estrada nos moldes dos filmes de terror comerciais, com jump scares a rodo, personagens estúpidos e uma forte previsibilidade, ou se tenta trazer alguns lampejos de criatividade nas transições propostas pela montagem, o longa mais se perde do que se encontra. Diante de um gradativo desinteresse, o público se vê cada vez mais apático em relação aos personagens, ainda que no fundo reste uma pequena curiosidade sobre como a história irá se resolver, por mais que já tenhamos uma boa ideia. 

Onde a confusão visual e narrativa (mal desenvolvidas e fundamentadas) reinam e os possíveis furos e/ou fraquezas do roteiro se fazem presentes em larga escala, é comum obras do gênero apostarem suas fichas em um plot twist supostamente milagroso, que aparece para colocar tudo no lugar e resolver a história. Porém, nem mesmo a reviravolta de Gêmeo Maligno funciona da forma que deveria. Estamos tão acostumados com esse formato de desenvolvimento narrativo, que cada vez mais se torna possível prever os encaminhamentos de roteiros como este. Em sua maior parte, a fuga mais fácil, a escapatória mais plausível, acaba sendo a escolha do roteirista. Aqui não é diferente. Talvez a parte mais dolorosa é que chegamos ao final do terceiro ato tão esgotados que nem sequer nos colocamos a disposição de questionar a fundo os erros do enredo e a improbabilidade das ações de tantos personagens ao longo de dois penosos atos. Simplesmente aceitamos, com muita dor, o lamentável encaminhamento dado à uma história fadada ao fracasso.

Gêmeo Maligno não acrescenta absolutamente nada ao horror psicológico, além de  nos fazer questionar, entre tantas coisas, como atrizes de renome e com experiência no gênero como Teresa Palmer, que cumpriu com seu papel em Quando as Luzes se Apagam (2016) e até  mesmo surpreendeu positivamente em A Síndrome de Berlin (2017), acabam topando um papel em um longa tão descartável como este. O diretor, responsável pelo independente Lake Bodom (2016), deveria considerar fortemente seguir uma carreira no slasher, visto que neste subgênero já demonstrou ter certo domínio de suas habilidades.