Crítica | Honeydew

(Honeydew)
Data de Lançamento: 12/03/2021 (EUA)
Direção: Devereux Milburn
Distribuição: Dark Star Pictures

Poucos títulos de filme dizem tanto sobre sua abordagem de forma tão sutil. A palavra ‘honeydew’ pode ser traduzida, em nosso idioma, aproximadamente para “melado”, que remete facilmente à algo nojento, por sua vez um adjetivo que descreve perfeitamente nossa experiência com a obra. O filme, que teve sua estreia mundial virtual no Nightstream Film Festival em outubro de 2020, gerou diversas opiniões mistas da crítica especializada, sendo até associado erroneamente como uma espécie de novo “O Massagre da Serra Elétrica“. Boa parte dessa divergência de pontos de vista se deve a um fato incontestável: se trata de uma obra bem diferente do que a grande maioria de nós está acostumada a consumir.

A história gira em torno de um casal, a cientista Rylie (Malin Barr) e seu namorado Sam (Sawyer Spielberg, filho do próprio), um ator iniciante, que viajam para a zona rural de Massachusetts para investigar um surto de um fungo do tipo ergotina que está devastando fazendas locais. Após tentarem acampar em um terreno baldio, eles são forçados a deixar o local e acabam encontrando abrigo na casa decadente de uma senhora agricultora profundamente religiosa chamada Karen (Barbara Kingsley), e seu filho, um adulto obeso viciado em desenhos chamado Gunni (Jamie Bradley). Depois se deliciarem com a janta de Karen, o casal logo vê sua estadia se transformar em alucinações, tortura e loucura.

Honeydew nos cativa com sua premissa e seus personagens (mesmo os secundários), os construindo com base em traços realistas de personalidade, como ironia, insegurança, inocência, entre outras características evidentes. Embora não tenhamos conhecimento de qualquer passado daquele casal de protagonistas, nos identificamos com seus objetivos, pelo menos durante o primeiro ato.

Ainda que a convidativa casa da senhora Karen pareça ser grande e possuir vários cômodos, os ambientes são apertados e extremamente claustrofóbicos, o que juntamente à sujeira do local, apenas auxilia no sentimento de asco do espectador. O suor que escorre dos personagens principais enquanto se alimentam em uma cozinha minúscula e quente, as conversas desconfortáveis, a personalidade esquisita daqueles moradores, e principalmente a excelente trilha musical, nos deixam apreensivos a todo tempo, pressentindo um desastre, que revoltantemente demora demais para acontecer e também para se resolver.

A música do filme se faz provavelmente a maior qualidade da produção e uma das mais impressionantes já vistas em um filme de horror de baixo orçamento. Composta pelo inexperiente John Mehrmann, as melodias se mostram inventivas o suficiente para nos causar tensão. Utilizando de ferramentas e objetos não convencionais como instrumentos musicais (além de piano e flautas metálicas), John aposta em uma sonoridade desarmônica e inquietante, auxiliada por um inteligentíssimo design de som que se alia à montagem para se tornar imprevisível, coerente com a proposta da direção, nos ambientando perfeitamente em uma história aflitiva e angustiante.

A partir da metade do longa, logo o mistério, o tom cômico e o suspense que rodeava a senhora e seu filho, dá lugar a uma cansativa condução de um roteiro que não busca nada além de chocar e causar náuseas. Uma vez que o propósito da trama se torna supérfluo, não há volta para o que de bom se construiu até ali, e a narrativa simplesmente acaba se prolongando mais do que deveria. Sem falar de algumas “conveniências” improváveis do roteiro que na verdade não convencem nem o mais desatento dos espectadores.

Honeydew vai surpreendentemente e decepcionantemente do vinho à água. Funciona, pelo menos em boa parte do tempo, como uma experiência sensorial, mexendo mais com nossos sentidos e sensações do que com nossas emoções de fato. E mantém nosso interesse até o início de seu terceiro ato, momento em que nos encontramos completamente apáticos perante a situação vivida por aqueles personagens. Ainda assim, apesar de suas falhas comprometedoras, o estreante diretor e roteirista Devereux Milburn nos conquista por sua capacidade de ser original, ousado, e pela maneira como faz com que suas cenas nos afete. Logo, o filme merece claramente ser conferido.