Crítica | Hunted

Hunted
Data de Lançamento: 14 de janeiro de 2021
Direção: Vincent Paronnaud
Distribuição: Shudder

Os contos de fadas fazem parte da nossa cultura desde muitas gerações. Cada história contada ajuda a transmitir mensagens importantes às crianças utilizando, muitas vezes, a magia como elemento narrativo.

Um dos contos de fadas mais famosos que conhecemos é o da Chapeuzinho Vermelho. Uma história que já foi recontada várias vezes, com cada geração trazendo algo de novo para a história. No longa-metragem Hunted (2021) acompanhamos a versão reinventada pelo diretor Vincent Paronnaud que traz resultados mistos.

Acompanhamos a história de Eve (Lucie Debay), uma mulher tentando se afirmar em sua carreira no ramo de construções, um meio predominantemente machista. Após um dia estressante de trabalho ela decide ir sozinha a um bar.

Em dado momento ela começa a ser importunada por um homem bêbado que agressivamente tenta fazer com que ela aceite uma bebida paga por ele. Eve é salva por um homem não identificado (Arieh Worthalter) que intervém e afasta o importunador.

Eve começa a flertar com seu herói e após algum tempo, ela aceita carona e sai com ele do bar. Infelizmente, neste momento as coisas tomam um rumo não esperado por ela. Dentro do carro havia mais um homem (Ciaran O’Brien) e é revelado que os dois têm planos sinistros para ela.

A tensão aumenta cada vez mais, até que Eve consegue escapar para uma floresta. O que começou como uma história de luta pela sobrevivência, rapidamente se transforma em uma história de vingança quando Eve não vê outra saída a não ser resolver o problema com as próprias mãos.

Há familiaridades em Hunted que são divertidos easter eggs para os fãs de Chapeuzinho Vermelho. A perseguição na floresta, Eve sempre com seu casaco vermelho, o sociopata lobo, a avó que Eve e o “lobo” irão encontrar. Esses detalhes fornecem o esboço para uma reimaginação cheia de adrenalina de Paronnaud que teve auxílio de Léa Pernollet no roteiro.

Digno de nota é o fato de que esses detalhes básicos parecem ser usados ​​mais como um ponto de orientação do que como algo que informa ao espectador com antecedência o que esperar. Eles trazem um bom ritmo e fazem com que a história seja executada de forma satisfatória.

No entanto, embora a própria história pareça emocionante em sua execução, os últimos quinze minutos ou mais de Hunted foram decepcionantes. A tendência de Parranoud para o abstrato no ato final do filme pode frustrar muitos espectadores. O que deveria ser uma mensagem de doce vingança se perde, tudo isso nos fatídicos 15 minutos finais, o que é uma decepção para um filme que estava caminhando e construindo um clímax poderoso.

Mas, embora a própria história se perca no final com a abordagem abstrata de Paronnaud, há muitas coisas boas para assimilar, desde a cinematografia até a atuação – que realmente surpreendem.

Há momentos na tela que proporcionam ao espectador a chance de recuperar o fôlego e absorver a beleza das cenas gravadas na floresta, que dentro da narrativa acaba sendo uma importante personagem da trama.

O uso de cores escuras e arenosas por Joachim Philippe na fotografia de Hunted destaca os perigos na floresta, contrastando com o casaco vermelho brilhante de Eve que serve visualmente como um ponto focal e de localização.

À medida que a história passa da realidade para a mais abstrata visão do diretor, as cores se tornam mais brilhantes e criam uma espécie de imagens de um sonho febril para o espectador.

Enquanto a fotografia faz boa parte do trabalho em Hunted, a atuação de Lucie Debay e Arieh Worthalter fornecem a liga necessária para fazer com que o espectador continue assistindo.

Embora suas falas sejam mínimas quando Eve chega à floresta, Lucie Debay captura e nos transmite a jornada psicológica de Eve perfeitamente com seu rosto. A transformação de Eve de uma mulher tranquila para uma selvagem vingativa é totalmente crível na atuação de Debay.

Na mesma linha segue Arieh Worthalter, que faz o papel do bonito homem “lobo”. Ele realmente se joga de cabeça na natureza sociopata do papel. Ele facilmente transmite um homem que nenhum de nós gostaria de encontrar em um beco escuro. O que nos faz compreender e torcer por Eve em sua vingança.

Muitos são os elementos que favorecem Hunted. A cinematografia, as performances e a história geral se fundem para criar um horror-survival baseado em um conto de fadas familiar.

Exatamente como o conto tradicional do Chapeuzinho Vermelho que foi criado para prevenir as crianças de falarem com estranhos, a mensagem foi repetida e atualizada no filme.

Embora o ato final seja mais um erro do que um acerto, Hunted apresenta um argumento sólido sobre a força e a relevância dos contos de fadas e como sempre há algo novo para explorar quando os revisamos. Vale a pena assistir por conta da excelente adaptação do conto de fadas, mas sem grandes expectativas.