Crítica | Intrusion

(Intrusion)
Data de Lançamento no Brasil: 22/09/2021
Direção: Adam Salky
Distribuição: Netflix

De tempos em tempos obras cinematográficas surgem para nos fazer questionar a real importância de roteiros originais. Mesmo contando com boas performances de seu elenco e um trabalho audiovisual competente de sua equipe técnica, é possível um filme com uma história que já conhecemos cativar seu público? Ainda que essa discussão divida opiniões, o que podemos afirmar é que o novo suspense da Netflix dirigido por Adam Salky é sem dúvidas um bom exemplo disso. Intrusion certamente não faz questão de inovar, mas aposta em uma narrativa ágil sobre confiança em relacionamentos amorosos para nos entreter.

Após se mudarem para uma pequena cidade chamada Corrales, no estado americano do Novo México, um casal abastado composto pela psicóloga Meera (Freida Pinto) e pelo bem sucedido arquiteto Henry (Logan Marshall-Green) tenta levar a vida que sempre sonhou em uma bela, enorme e afastada residência. Após ter sua casa invadida por um grupo de homens, Meera se vê traumatizada e desconfiada de que seu marido esteja escondendo algo. Quando ela resolve investigar por conta própria e a desconfiança entre o casal aumenta tudo se torna ainda mais perigoso.

Ainda que a direção e a fotografia de Intrusion se mostrem eficazes, o roteiro da obra, escrito pelo experiente Chris Sparling, mais lembra os desastres do escritor do que de fato seus sucessos, como Enterrado Vivo (2010). Isso se deve principalmente à imensa previsibilidade com a qual sua trama se constrói. Se alguns enquadramentos acertam por transmitir toda uma ideia sem a necessidade de diálogos, os mesmos acabam entregando basicamente o resultado da história, menosprezando nossa capacidade de refletir sobre os acontecimentos e ligar os pontos. Conseguimos prever toda a estratégia do enredo e as verdadeiras facetas de cada personagem, mesmo que ainda não saibamos os detalhes por trás daquele esquema. E são exatamente e unicamente esses detalhes que nos mantém interessados, mesmo que minimamente, pela conclusão do filme.

Enquanto a atriz Freida Pinto faz o possível para não tornar sua personagem ordinária aos olhos do público, a maior virtude do filme reside na interpretação do sempre ótimo Logan Marshall-Green (de O Convite e Upgrade), que tem se mostrado um dos melhores intérpretes de sua geração. O ator carrega os dramas, os arrependimentos e o comportamento metódico de seu personagem de forma verossímil em suas expressões, e, ao mesmo tempo, impenetrável. Ambos os atores principais transmitem bem, com seus olhares, as incertezas e desconfianças sobre as intenções do outro. Porém, o filme não alimenta essa suspeita de maneira convincente.

O discurso raso e calculável da obra cerca a capacidade de qualquer traço de personalidade interessante vindo dos personagens. Até mesmo os traumas da protagonista deixados pela invasão, que se evidenciam em certo momento, parecem ter um prazo de validade extremamente pequeno e não são aprofundados em momento algum. Parte de nós, espectadores, torce para que estejamos errados, sendo enganados por pistas falsas e para que o roteiro nos traga uma reviravolta inesperada em seu terceiro ato, algo que infelizmente não acontece. Intrusion se dá ao trabalho de contar uma história já vista diversas vezes no cinema, sem as surpresas necessárias para manter nossa curiosidade e agregar à sua trama de invasão domiciliar.