Crítica | Labirinto do Medo (1ª Temporada)

Labirinto do Medo (1ª Temporada)
(Dead Places – Season 1)
Data de Lançamento: 16/04/2021
Criador: Gareth Crocker
Distribuição: Netflix

É na metade do quarto mês de um ainda imprevisível e incerto 2021, que a Netflix resolveu “presentear” os fãs de horror com uma nova série original sul-africana, vendida como uma obra focada no sobrenatural, com direito à histórias comoventes. Embora pareça ter o dinamismo e a coragem necessária para encontrar seu público, Labirinto do Medo testa nossa paciência ao levar metade de sua primeira temporada para sair de uma zona de conformismo torturante e começar a esboçar alguma originalidade, que ainda assim não se faz durar.

Na série acompanhamos o corajoso escritor Will Stone (Anthony Oseyemi), que dedicou sua carreira a resolver casos paranormais e escrever sobre eles, em sua volta para casa na África do Sul, com o objetivo de investigar o maior mistério de sua vida: a morte de sua irmã em um canal de água há 20 anos. Nessa jornada, ele irá encontrar várias pessoas que necessitam de sua ajuda, porém essa ajuda só será possíveis de realizar ao lado de uma bem-humorada blogueira chamada Kelly (Shamilla Miller), e um ex-policial ranzinza e sarcástico conhecido como Joe (Rea Rangaka).

Após os primeiros episódios extremamente entediantes, vamos nos acostumando com a bela relação desenvolvida entre os personagens, que por mais diferente que sejam suas personalidades, encontram uma forma de se aceitarem e se ajudarem. Porém o que podemos perceber desde o início, é que o foco no sobrenatural prometido por trailers e pôsters, na verdade divide lugar com episódios sobre assassinos e pessoas mal-intencionadas, além de reservar um bom espaço para alívios cômicos (nem sempre funcionais), que embora ajude a desenvolver o melhor personagem da série (Joe) e sua relação com os demais, afeta diretamente no possível medo e tensão que poderíamos sentir ao longo dos episódios. O que não ajuda também é o fato das cenas de suspense e mistério serem jocosamente enfatizadas por músicas enfadonhas e previsíveis, que aproximam a obra de uma abordagem quase infanto-juvenil, nos fazendo questionar a classificação indicativa da obra (16 anos).

Labirinto do Medo tenta mesclar o humor e o drama de seus personagens com um terror que na avassaladora maioria das vezes não assusta, não amedronta e muito menos perturba. Ainda que os traumas de Will e Kelly, e a comicidade de Joe nos convençam, o que teoricamente seria o grande foco da série não possui o êxito que deveria. O elenco da série, em geral, também deixa um tanto a desejar em suas performances, com exceção do ator Rea Rangaka, que não só se sai muito bem por seus méritos e seu talento, mas também por interpretar Joe, o personagem mais humano e bem desenvolvido desta primeira temporada, com defeitos e qualidades evidentes.

Ainda que a direção na maior parte do tempo não decepcione e tecnicamente a série satisfaça perfeitamente as necesidades do roteiro (com exceção dos risíveis efeitos especiais), a condução da história que acompanha cada episódio se mostra mal elaborada, pois afeta o espaço de tela dos dramas pessoais de Will e Kelly, e consequentemente, nossa capacidade de nos importarmos com ambos. Tudo é feito de forma corriqueira, desenvolvido às pressas, em busca de um sentimento superficial e imediato do espectador, sem permiti-lo absorver a trama de cada episódio ou mesmo nos envolver da forma que gostaríamos com a busca por respostas dos personagens.

Em Labirinto do Medo, nos pegamos refletindo sobre como obras estrangeiras, de diferentes continentes que definitivamente não são representados por um polo cinematográfico, acabam por tentar simplesmente reproduzir as “fórmulas” de sucesso dos filmes norte-americanos, e desperdiçam a chance de trabalhar em cima de temas específicos tão interessantes de sua cultura. Os poucos momentos em que a série criada por Gareth Crocker nos conquista são baseados em cenas de diversos filmes e séries que já assistimos, portanto são fáceis de antecipar. É triste como a primeira temporada da nova série sul-africana da Netflix não consegue encontrar sua identidade própria, por mais que tente desesperadamente.