Crítica | Madres – Welcome To The Blumhouse

Madres, Mães de Ninguém
(Madres)
Data de Lançamento no Brasil: 09/10/2021
Direção: Ryan Zaragoza
Distribuição: Amazon Prime Video

Quando achamos que conhecemos bem as inúmeras formas de crueldade, intolerância e discriminação, novas provas de regressão social levantam-se para nos mostrar o quão sujo, corrupto e repulsivo o ser humano pode ser. Partindo  de uma trama de horror e drama nem sempre proveitosa em seus elementos narrativos, o novo filme Madres, Mães de Ninguém utiliza de seus personagens para contar uma história de racismo e xenofobia sofridos por latino-americanos, com base em fatos reais. Lançada como parte da série de filmes Welcome To The Blumhouse, projeto da popular produtora Blumhouse (de Jason Blum) em parceria com a Amazon Prime Video, a produção marca a estreia do realizador Ryan Zaragoza na direção de um longa-metragem.

Passado nos anos 70, conhecemos um casal mexicano composto por Diana (Ariana Guerra), que está esperando o primeiro filho, e seu marido Beto (Tenoch Huerta), que recebe uma oferta de emprego para ser gerente de uma fazenda. Após se mudarem para uma comunidade agrícola migrante na Califórnia, Dalia começa a notar estranhos sintomas enquanto presencia visões aterradoras. Conforme começa a realizar cada vez mais descobertas acerca do local e dos moradores, ela acabará se vendo diante de um esquema muito maior do que imaginava, capaz de ameaçar a vida de sua nova família.

Em vez de explorar os dramas psicológicos e as inseguranças de sua protagonista de forma convincente, o longa se apropria de muitas ferramentas do cinema de horror hollywoodiano para levar a seu público sustos baratos e previsíveis. E se a investigação de Diana sobre o declive nos índices de natalidade da cidade estimula o público a criar teorias sobre o que ou quem de fato está por trás de tudo aquilo, a mesma acaba cortando pela raiz as inúmeras possibilidades espirituais existentes na perspectiva sobrenatural, apresentada anteriormente como uma possível maldição.

Seguindo uma linha bem semelhante ao nacional O Rastro (2017) ao elaborar seu enredo com base em um comentário sociopolítico, conforme as intenções do roteiro se revelam, sabemos o que esperar do terror sobrenatural e do terror real/humano, não sendo difícil prever onde a trama pretende se encerrar. Com as mesmas dificuldades do filme brasileiro em conciliar um equilíbrio saudável entre todas as informações de sua trama, a falta de assertividade de Madres pode acabar embaraçando a experiência do espectador. 

A obra dispõe de alguns momentos inspirados, vindos principalmente dos diálogos entre Diana e Beto, além das lentes do diretor de fotografia Felipe Vara de Rey, que, usando sabiamente da iluminação natural e dos movimentos de câmera, assegura o dinamismo necessário sem tornar o longa apressado demais. Ryan Zaragoza demonstra competência ao conduzir o tom de mistério existente no local, enquanto trabalha o choque de cultura e realidade do casal e dos demais moradores. 

Como proposta narrativa, Madres deixa muito a desejar, se mostrando regular em sua maior parte por quase não apresentar uma identidade própria. Porém, o filme funciona como um alerta e um ato de protesto a todo tipo de marginalização e segregação social, trabalhando temas necessários e, infelizmente, atuais. É sem dúvidas uma boa pedida para quem busca se entreter com um horror calcado na realidade, causado pelos verdadeiros demônios de nosso cotidiano: os humanos.