Crítica | Maligno

Maligno
(Malignant)
Data de Lançamento no Brasil: 09/09/2021
Direção: James Wan
Distribuição: Warner Bros.

Há algo único, ousado e impressionante na forma como James Wan dirige seus filmes. Isso é evidente desde Jogos Mortais (2004) e Gritos Mortais (2007), e apenas se intensifica nas duas franquias de sucesso que viriam logo depois e que marcariam o gênero na segunda década do milênio. “Sobrenatural” (2010) e “Invocação do Mal” (2013) não apenas formaram uma série de fãs de horror nascidos na década de 90 como também atualizaram o gênero, levando o sobrenatural para outros patamares e influenciando tantos outros cineastas e realizadores de filmes de terror nos anos seguintes. Visto que a marca de Wan é, além de inconfundível, extremamente relevante nesse contexto, entendemos toda a expectativa criada para a volta do diretor ao estilo cinematográfico que o consagrou.

Apesar de James Wan ter assinado a produção de diversos filmes de horror nos últimos anos, entre eles várias obras medianas, finalmente podemos conferir um novo terror realmente dirigido pelo jovem australiano. E, se posso adiantar algo, é exatamente na direção que reside a maior qualidade de Maligno, (que, por sinal, não podemos confundir com o mediano filme homônimo de 2019 dirigido por Nicholas McCarthy, e que também conta com Joseph Bishara na composição musical).

No filme, acompanhamos Madison (Annabelle Wallis), uma mulher que passa a ter frequentes visões aterrorizantes de pessoas sendo brutalmente assassinadas pelo mesmo homem. Após descobrir que esses crimes realmente acontecem na vida real, ela irá tentar evitar que mais pessoas percam suas vidas, enquanto busca por respostas para essa conexão inexplicável, que parece estar ligada à uma entidade do seu passado. Para impedir o assassino, Madison precisará enfrentar seus traumas de infância.

Em poucos minutos de filme, o dinamismo se faz presente e logo nos vemos imersos na narrativa, que se revela lentamente, mantendo as dúvidas do espectador sem entregar as respostas que buscamos tão veementemente. Quem é essa entidade que faz parte da infância de Madison? Qual a conexão da protagonista com os crimes cometidos? Onde o filme pretende chegar com tais cenas? 

O roteiro de Akela Cooper (roteirista do slasher ‘Parque do Inferno’, de 2018) pretende esclarecer tudo isso, mas na hora “certa”. Essa decisão realmente se mostra funcional para o objetivo de nos surpreender e nos chocar durante o segundo ponto de virada, mas acaba comprometendo boa parte do nosso envolvimento com a primeira metade do filme, que nos coloca como meros espectadores de crimes ocorridos em cenas previsíveis, ainda que muito bem dirigidas. Inclusive, a competente e inventiva direção de James Wan, com movimentos e ângulos de câmera incomuns, e o ótimo ritmo ditado pela montagem de Kirk Morri são duas das principais razões de nos vermos absorvidos por uma história que não parece querer se resolver tão cedo, e que também não dá sinais de tentar ser algo diferente de tudo que já vimos antes.

Bebendo da fonte de diversas referências de filmes dos anos 70 e 80, Maligno encontra algumas dificuldades de encontrar seu público, seja ao tentar trabalhar ao mesmo tempo dois segmentos diferentes do horror (o sobrenatural e o thriller de serial killer), ou ao não conseguir ser preciso com a emoção pretendida em diversas de suas cenas. A trilha musical do já citado Bishara se mostra um dos mais limitados trabalhos do compositor, com melodias que flertam com a comicidade enquanto as interpretações dos atores e a atmosfera do momento pedem algo mais sério. Ainda assim, temos aqui um trabalho que vale a pena ser visto até o final, que é quando realmente nos vemos completamente envolvidos com os objetivos da personagem principal.

Annabelle Wallis entrega uma boa performance que, mesmo não se sustentando por toda a duração, tem seus momentos de brilho. Os demais atores coadjuvantes se mostram apáticos em seus papéis; até mesmo a esforçada Michole Briana White, que carrega os alívios cômicos da obra, não nos convence na maior parte do tempo. Ainda assim, a trama nos ganha pela forma como revela aos poucos a relação entre o passado de Madison e os acontecimentos do presente, enquanto prepara o terreno para um clímax dignamente bem construído e visualmente impactante.

Com a colaboração de Wan e de sua esposa Ingrid Bisu (que também recebeu um pequeno papel no filme) na história, o roteiro de Akela Cooper tem suas imperfeições, mas executa muito bem seu plano principal, nos cativando e plantando pistas pontuais sobre a conexão dos elementos da trama. Mesclando terror, suspense, drama e até cenas de combate e ação, Maligno não alcança a maestria de outras obras conhecidas do diretor, como previsto, mas faz com que seu público saia satisfeito com o que consumiu até ali, e prova que James Wan ainda sabe muito bem contar uma história de horror com bons elementos visuais e sonoros.