Crítica | Natal Sangrento

Natal Sangrento
(Black Christmas)
Data de Lançamento no Brasil: 15/04/2020
Direção: Sophia Takal
Distribuição: Universal Pictures International

          Se você procura um bom filme temático de terror para assistir no natal, “Natal Sangrento” pode não ser a sua melhor escolha. O segundo remake do clássico “Black Christmas”, de 1974, até que começa de uma forma interessante, mas perde completamente a noção em sua segunda metade.

         Durante o feriado de Natal, conhecemos uma irmandade da Universidade Hawthorne onde Riley (Imogen Poots, Vivarium), uma inteligente e talentosa estudante vive com suas companheiras. O problema é que um assassino começa a matar as jovens uma a uma, fazendo com que elas precisem lutar por suas vidas.

         “Natal Sangrento” é um remake que procura atualizar as personalidades e a sociedade em que o longa se passa. Esse é o maior trunfo e o pior erro do filme. O machismo institucional da faculdade, a militância das garotas, o assédio sofrido por Riley, esses temas são abordados de uma maneira natural e concedem um tom interessante de “terror social” para o filme, fazendo com que o assassino fosse uma personificação do machismo e misoginia. Apesar do fato de que alguns discursos do roteiro podem ser completamente didáticos e repetitivos, ele consegue sem dúvidas passar essa mensagem sem muitos problemas. Esse é o momento em que ainda estamos envolvidos com o filme.

         Algo muito elogiável, também, é a fotografia. Em especial durante uma sequência de perseguição dentro da fraternidade, onde as luzes de natal são utilizadas de forma muito inteligente para iluminar e ditar a tensão das cenas ao mesmo tempo, assim como a sequência final também sendo muito bem montada (apesar de nada agradável de assistir). Além disso, é interessante o fato de as mulheres, nesse filme, serem muito menos passíveis de “pena” do que nos filmes anteriores. Aqui elas, que a princípio são tidas como alvos, acabam se tornando caçadoras.

 [A PARTIR DESSE PONTO ALGUNS TÓPICOS CONTÉM SPOILER DO FILME]

          O problema maior do filme é quando o roteiro de Sophia Takal – diretora do filme e primeira mulher a dirigir um filme da Blumhouse – e April Wolfe (duas semi-iniciantes na roteirização) decidem se aventurar por gêneros. Não dá para dizer que a virada é sem preparação, pois os temas são tocados (mesmo que tirando sarro dele mesmo, até certo ponto) durante o filme. Porém, é difícil imaginar que elas realmente pensaram que isso seria uma coisa legal de se colocar no filme, principalmente sabendo das comparações inevitáveis com o longa original de 1974.

         A decisão de incluir o sobrenatural na jogada – onde a gosma preta simboliza, literalmente, a masculinidade tóxica, de acordo com a Sophia Takal – acaba tirando a responsabilidade dos assassinos, como é ilustrado com o Landon (Caleb Eberhardt) que acaba sendo “possuído” e se torna mais um símbolo da opressão homicida daquela sociedade. O plano megalomaníaco do professor é risível. Se fosse em um filme que se levasse um pouco menos a sério, seria um ótimo plot, mas aqui não funcionou muito bem.

         Embora o filme tenha cerca de 25 mortes, elas praticamente ocorrem fora de câmera. O longa foi classificado PG-13 (classificação acima de 13 anos nos EUA) logo, a quantidade de sangue deveria ser minimizada, assim como violência gráfica. Devido a isso, esse filme é um slasher com quase nenhuma morte interessante (apenas a primeira que é graficamente bonita).

         “Natal Sangrento” (2019) é um filme que promete em seu começo e acaba descumprindo tudo em seu final, deixando o clássico de 1974 triste em ter o mesmo título e deixando os fãs embaraçados por verem uma obra com tanto potencial indo para o esquecimento.