Crítica | Nosferatu

Nosferatu

Direção: Robert Eggers

Ano: 2024

País: Estados Unidos

Distribuição: Focus Features

Nota do crítico:

Acho seguro presumir que a essa altura todo mundo já conheça a história de Nosferatu (1922), filme de F.W. Murnau que foi de condenado por plágio e queimado a um clássico preservado em seu próprio mérito. Portanto, dado o caráter já derivado da história e a existência de outras versões (destacando-se Nosferatu: O Vampiro da Noite (1979), de Werner Herzog), é válido o questionamento: a existência de mais uma versão da obra, em 2024, se justifica? Bem, a resposta é um tanto contraditória, então dividirei-a em duas partes.

Em termos puramente estéticos e de nível de produção, a resposta é um retumbante “sim!”. Chegando agora a seu quarto filme enquanto diretor, Robert Eggers não cansa de surpreender positivamente nesse quesito. Além do já reconhecido esmero para com a retratação dos períodos históricos nos quais suas obras se situam, encanta também a capacidade do cineasta de adaptar sua linguagem para o que cada história demanda.

Desde a literalidade da luz natural e opressividade da floresta no folk horror A Bruxa, Eggers soube também entregar um universo delirante e de sexualidade aflorada em O Farol, além da ação frenética e brutal de uma saga viking em O Homem do Norte. Em Nosferatu, movimentações suaves de câmera e um design de produção e figurino impecáveis nos imergem em um cenário de fábula e devaneio na Alemanha dos anos 1830.

Assim como já havia ocorrido em A Bruxa, destaca-se muito positivamente em Nosferatu um jogo de luzes e sombras espetacular empreendido pelo diretor. Enquanto as sequências à luz do dia entregam uma luminosidade sutil que ajuda na imersão de um mundo já distante, as cenas noturnas são onde o filme realmente brilha (sem trocadilho). Desde a sequência de abertura, uma forte e belíssima luz simulando o luar toca o rosto de Lily-Rose Depp, conferindo um aspecto quase preto e branco às cenas.

Além das belíssimas sequências ao luar, a direção de Eggers também entrega um ótimo controle sobre as sombras ao enquadrar seu personagem título. Além de um trabalho de maquiagem fantástico, a cada cena a câmera escolhe cuidadosamente o quanto nos mostrar do Conde Orlof, mantendo-nos em suspense constante sobre sua aparência e manifestações. 

Somado a disso, há de se destacar o excelente trabalho de Bill Skarsgård como o personagem título, tanto em sua ameaçadora imponência física quanto por sua voz grave e carregada de um forte sotaque que confere uma bem vinda teatralidade ao drama do personagem título. Nesse sentido também, as atuações da já citada Lily-Rose Depp, de Nicholas Hoult, Willem Dafoe e Simon McBurney são exageradas no tom perfeito para conferir ao filme um tom de fábula e tragédia romântica.

Feitos todos estes elogios ao Nosferatu de Robert Eggers, você deve estar se perguntando sobre a segunda parte da resposta, e já antevendo um contraponto. De fato, ele existe e, na verdade, se assemelha bastante com a sensação que tive ao final de O Homem do Norte: excelente filme, maravilhosamente bem produzido, mas…… pra quê? Pra quem?

Não cabe aqui entrar em uma complexa discussão sobre estética X conteúdo e tampouco na evidente falta de diversidade de elenco apresentada pelos filmes de Eggers, mas apenas reiterar uma simples pergunta: o que este Nosferatu de 2024 oferece de novo ao já existente grupo de filmes sobre o Conde Orlof? Talvez em relação ao clássico de 1922, bastante coisa, mas certamente se levarmos em conta o já citado filme de Werner Herzog, dotado também de uma visão ao mesmo tempo romântica e pesarosa sobre o personagem, não muito.

É com esta reflexão que termino esta crítica, ainda sem saber ao certo o quanto gostei deste último filme de Robert Eggers, o que mantém o padrão com relação ao seu último longa e parece apontar uma certa tendência perigosa. Assim como o O Homem do Norte, com seus 70 milhões de dólares de orçamento, teve dificuldades para encontrar seu público, temo que o mesmo possa acontecer a Nosferatu. Afinal de contas, duvido que o filme tenha muito apelo para quem não conhece a história do Conde Orlof e, para quem já conhece os títulos anteriores, duvido que este novo tenha muito a acrescentar. Portanto, quem defenderá o Nosferatu de Robert Eggers? Mais do que isso, até, se houver mais um fracasso de bilheteria, quem estará disposto a bancar o próximo projeto de Robert Eggers? Só o tempo dirá.